Enquanto continua empenhada em cumprir seu grande plano de redução de custos até o ano que vem, a gigante dos insumos Bayer continua tendo de lidar com a realidade batendo à porta: as vendas da divisão agrícola companhia se mantiveram enfraquecidas no primeiro balanço do ano de 2025, o "mais difícil" de seu processo de recuperação, nas palavras do próprio CEO da empresa, Bill Anderson.
Entre janeiro e março deste ano, a receita com vendas da área de Crop Science recuou 3,3% no período, passando de 7,907 milhões de euros no começo de 2024 para 7,580 bilhões de euros no mesmo período deste ano – a divisão agrícola representa a maior parte da receita total com vendas da Bayer, que fechou o trimestre com 13,7 bilhões de euros, leve retração de 0,1% no período.
A maior parte das subáreas da divisão agrícolas apresentou recuos em suas vendas. O destaque ficou com sementes de algodão, que apresentou retração de 19,9%, seguida por sementes e tratamentos de soja (-13,6%), inseticidas (-12,3%), herbicidas à base de glifosato (-10,1%), outros (-6,0%) eb sementes e tratamento de milho (-1,7%). Em contrapartida, as sementes de vegetais cresceram 5,8% no volume de vendas, assim como os herbicidas (0,7%) e os fungicidas (0,5%).
De acordo com a Bayer, a queda nos negócios se deveu principalmente à descontinuação do herbicida dicamba nos Estados Unidos, além da expiração do registro do produto Movento na Europa.
O Ebtida (sigla para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) antes de itens especiais da área recuou 10,2%, passando de 2,849 bilhões de euros nos três primeiros meses de 2024 para 2,557 bilhões de euros agora, queda de 10,2%. O Ebtida total da companhia, somando todas as divisões, caiu 7,4%, somando 4,085 bilhões de euros.
As projeções da companhia para o ano de 2025 como um todo seguem estáveis, com a previsão de receitas com as vendas gerais de todas as divisões girando entre 44,5 bilhões de euros e 46,5 bilhões de euros, e o Ebitda antes de itens especiais entre 9,2 bilhões de euros e 9,7 bilhões de euros no fim do período.
Daqui em diante, o CEO da Bayer, Bill Anderson, planeja que as margens da área cresçam nos próximos anos e que a divisão tenha receita maior a partir de 2029. “São mudanças muito difíceis, mas necessárias”, resumiu em um vídeo.
Os resultados saíram um dia depois de a companhia alemã anunciar que iria reduzir ao longo dos próximos anos a operação da divisão agrícola em seu país-sede, a Alemanha, pelas dificuldades que passou a enfrentar com concorrentes asiáticos. Até o fim de 2028, as atividades da fábrica de Frankfurt, onde a Bayer produz e desenvolve herbicidas, serão encerradas. Outra unidade, na cidade de Dormagem, terá sua produção de ingredientes ativos interrompida também até o fim de 2028. Ao todo, 700 funcionários devem ser afetados pelas medidas.
"Essas medidas são urgentemente necessárias para neutralizar o excesso de capacidade significativo e a competição de preços desesperada com os fabricantes de genéricos da Ásia", afirmou a Bayer em comunicado.
No fim de abril, a companhia teria anunciado a clientes um outro movimento de redução, que envolvia a saída do negócio de tecnologias para tratamento de sementes nos Estados Unidos e o fechamento de uma unidade da subárea no estado de Minnesota.
"Essa é uma decisão difícil, mas necessária para ajudar a garantir o futuro financeiro da empresa", teria afirmado a Bayer em um e-mail a clientes, segundo informações da Reuters.
Esses são alguns sinais de que a companhia segue empenhada em cumprir o seu plano de redução de hierarquias e custos, o Dynamic Shared Ownership (DSO), anunciado no começo de 2024 e que prevê uma economia de 2 bilhões de euros em despesas até 2026, pautada especialmente por demissões.
Ao divulgar os dados do primeiro trimestre deste ano, a Bayer informou que cortou 2 mil pessoas no período. Ao longo de todo o ano passado, foram 7 mil demissões. A meta é chegar a uma economia de 800 milhões de euros neste ano.
"Estamos trabalhando arduamente para remover obstáculos e colocar a Bayer de volta em um caminho de crescimento lucrativo. Estamos fazendo um excelente progresso, mas ainda há muito a fazer", disse Bill Anderson, o CEO da Bayer, na assembleia geral de investidores da companhia, realizada no fim de abril passado.
A Bayer também continua de olho em controlar a grande disputa judicial que enfrenta nos Estados Unidos envolvendo o herbicida Roundup, produto que veio junto com a compra da Monsanto em 2018 e trouxe uma enxurrada de processos à companhia alemã desde então pelos efeitos colaterais que o produto, à base de glifosato, teria trazido para vários produtores americanos.
Recentemente, como forma de abastecer o caixa frente aos processos do Roundup, a Bayer pediu autorização para seus acionistas para fazer um aumento de capital, a partir de uma oferta de ações correspondente a 35% do capital social atual. Os investidores alemães receberam a notícia com ressalvas.
Apesar das vendas mais fracas na divisão agrícola, a receita vinda de outras áreas da companhia, como a de produtos farmacêuticos e saúde do consumidor, cresceu no início do ano, e agradaram os investidores alemães: às 10h15 (horário de Brasília), as ações subiam 4,97% na Bolsa de Frankfurt, cotadas a 25,26 euros.
Resumo
- A divisão agrícola da Bayer teve queda de 3,3% em vendas no primeiro trimestre de 2025
- Empresa atribui parte do resultado à descontinuação do herbicida dicamba nos EUA e à expiração de registros na Europa
- Companhia anunciou fechamento de fábrica de defensivos na Alemanha, como parte do plano para economizar 2 bilhões de euros até 2026