A JBS se tornou, ao longo das últimas décadas, uma gigante global em processamento de proteína animal. Até por isso, a companhia colocou em andamento sua listagem para negociar ações em Nova York.
Mas pelo menos no quarto trimestre de 2023 e até mesmo em todo o ano passado, foi o Brasil que evitou um resultado pior para a JBS, comparado ao desempenho das outras unidades de negócio da companhia espalhadas pelo mundo.
A empresa teve um lucro líquido, sem a participação de minoritários, de R$ 82,6 milhões entre outubro e dezembro do ano passado, uma queda de 96,5% em relação ao mesmo período de 2022. No acumulado de 2023, a JBS amargou prejuízo de R$ 1 bilhão, ante lucro de quase 15,5 bilhões no ano anterior.
A receita líquida consolidada do trimestre foi superior a R$ 96 bilhões, avanço de quase 4% em um ano. Os custos dos produtos vendidos subiram na mesma proporção, e as despesas gerais e administrativas aumentaram quase 23%, fatores que impactaram o resultado final.
Mas chama a atenção a diferença de desempenho entre as operações brasileiras da JBS e as de outros países, especialmente na América do Norte.
A JBS Brasil, que não inclui a marca Seara, teve lucro bruto de R$ 2,6 bilhões e Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) ajustado de R$ 874 milhões no quarto trimestre de 2023. Os indicadores cresceram 35% e 157% em um ano, respectivamente.
Em sentido oposto, a JBS Beef North America teve queda de 70% no lucro bruto, para R$ 756 milhões, e o Ebtida ajustado ficou negativo em mais de R$ 488 milhões, ante resultado positivo de R$ 1 bilhão um ano antes.
Grande parte desta discrepância pode ser explicada pelas margens de cada unidade de negócios. Enquanto no Brasil, a margem Ebitda ajustada mais que dobrou, passando de 2,4% para 5,9% comparando os três últimos meses de 2022 e 2023, na América do Norte essa margem passou de positiva em 3,6% para negativa em 1,6%.
No caso da Seara, o lucro bruto ficou praticamente estável no quarto trimestre, em R$ 1,7 bilhão, e o Ebitda ajustado caiu quase 5%, para R$ 670 milhões.
Nas operações no Brasil, a JBS afirma que a melhora dos resultados foi baseada no maior volume vendido, com as receitas de carne bovina in natura crescendo 12% no trimestre.
“Esse crescimento é atribuído principalmente ao ciclo favorável pecuário, resultando em maior disponibilidade de animais para abate”, diz a companhia em comentário que acompanha os números.
Ainda de acordo com a JBS, a melhor execução comercial permitiu uma aproximação das marcas Friboi e Swift junto aos consumidores, o que permitiu mais oferta de produtos com maior valor agregado.
Em relação às exportações feitas a partir do Brasil, o fim do embargo imposto pela China permitiu uma melhora no segundo semestre do ano passado. Por isso, a receita com vendas ao exterior aumentou 19% no quarto trimestre.
A receita da JBS na América do Norte é mais que o dobro das operações brasileiras e subiu mais de 8% no quarto trimestre de 2023 na comparação anual, para R$ 31 bilhões.
A companhia explica que houve um impacto importante do câmbio tanto no lucro bruto quanto no Ebitda das operações norte-americanas, já que o dólar saiu de uma cotação média de R$ 5,26 no quarto trimestre de 2022 para R$ 4,95 no final do ano passado.
No entanto, quando se trata das margens, a JBS aponta o momento negativo do ciclo do gado na América do Norte, “reduzindo a disponibilidade de animais para abate e aumentando o custo significativamente”, diz a companhia.
No relatório, a empresa aponta dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) que registram alta de 16% nos preços médios do boi gordo no quarto trimestre de 2023. Em todo o ano passado, esse preço subiu 21%.
“Desse modo, como o preço do gado representa 85% do custo do produto vendido e o crescimento dos custos foi superior ao crescimento do preço de venda da carne, a rentabilidade ficou pressionada no período”, explica a JBS.
Outra unidade importante nos Estados Unidos é a Pilgrim’s Pride, focada em aves, que conseguiu ter bons resultados no quarto trimestre do ano passado. As receitas cresceram quase 3,5%, para R$ 22,4 bilhões.
Mas com as margens saindo de 4,1% em 2022 para quase 10% no final do ano passado, a unidade norte-americana de aves conseguiu ter crescimento de quase 70% no lucro bruto, e de 145% no Ebitda, chegando a R$ 2,2 bilhões.
A JBS atribui esse bom resultado no final do ano passado ao foco na eficiência operacional e melhora nos serviços aos “clientes-chave”, com aumento do portfólio de produtos de valor agregado.
A JBS Australia também teve contribuição positiva no resultado total. As receitas crescera pouco mais de 4%, perto da média consolidada da companhia. Mas com a margem Ebitda superando os 10% no quarto trimestre, com aumento de quase 3% pontos percentuais, a unidade teve aumento de 40% no Ebitda ajustado.
A companhia afirma que, com maior disponibilidade de gado no mercado australiano, houve um aumento de 11% no volume de carne bovina vendida no país. Além disso, o preço do gado na Austrália caiu 55% no quarto trimestre, na comparação com o mesmo período de 2022.