A resiliência da Boa Safra Sementes em seguir melhorando resultados financeiros apesar do período desafiador para o mercado de grãos, desta vez, foi colocada à prova. A empresa foi diretamente afetada pelo ritmo historicamente lento de compra de insumos que vem sendo adotado pelo produtor brasileiro.
A companhia viu o seu lucro líquido cair para R$ 18,1 milhões no segundo trimestre deste ano, um recuo de 34,9% na comparação com o mesmo período de 2023.
O balanço da empresa mostra que o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) teve queda de 56,7%, somando R$ 17,3 milhões. A margem Ebitda encolheu 10 pontos percentuais, para 19,8%.
No critério ajustado, o tombo foi ainda maior, de 66,8%, alcançando R$ 7,9 milhões entre abril e junho, com margem ajustada de 8,2%.
Em entrevista ao AgFeed, o diretor financeiro e de relações com investidores da companhia, Felipe Marques, disse que as quedas estão relacionadas à estratégia de crescimento adotada no trimestre, para suportar os resultados do segundo semestre, além de efeitos sazonais.
“A companhia cresceu, em termos de capacidade instalada, em 20%. Cresceu o número de pessoas, cresceu a estrutura, justamente para entregar o resultado no terceiro e quarto trimestre. Isso acaba impactando e, nesta época, não tem a receita de semente de soja, que é o nosso principal produto”, comenta.
A receita líquida da empresa foi 34,8% menor no comparativo anual, alcançando R$ 87,5 milhões. A Boa Safra sente também os efeitos no atraso dos pedidos de compra de sementes da oleaginosa, o que refletiu na redução das vendas. O executivo relata que, em junho, a companhia “não teve quase nada de venda de sementes de soja”.
A carteira de pedidos somou R$ 1,16 bilhão no período, praticamente o mesmo montante registrado um ano antes. A expectativa da companhia é de que o segundo semestre reflita os pedidos represados. Marques conta que os pedidos já aumentaram entre julho e os primeiros dias de agosto.
Para a XP, tal atraso na carteira de pedidos é o principal ponto de atenção dos resultados em meio ao trimestre sazonalmente mais fraco.
“Estamos observando diversas tendências no mercado de soja, com algumas empresas apontando para uma possível interrupção no fornecimento das principais variedades de sementes, o que poderia resultar em preços mais altos neste ano”, comentou a equipe de agro e alimentos da instituição financeira.
Marques afirma que as adversidades climáticas vistas na última safra culminaram na quebra de safra de sementes, com redução da produtividade e replantio.
“Tivemos problemas na região Sul, no Centro-Oeste… de forma generalizada, a gente vê uma oferta menor de sementes do que em outros anos no Brasil”, acrescenta, ponderando que a Boa Safra está “relativamente melhor posicionada no mercado do que as concorrentes”.
Em relação ao preço da semente, o executivo da Boa Safra relata não ver mudanças do produtor, em que mesmo com margens apertadas, mantém a compra de produtos de alta tecnologia.
“A gente não vê o produtor economizando naquilo que ele entende ter maior produtividade para a produção dele, mesmo em um ano difícil. Ele busca qualidade e a semente com a melhor aptidão para a área dele”, avalia.
Além da soja
As projeções de consultorias e da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) de leve crescimento de 1% a 2% da área plantada da oleaginosa na safra 2024/2025 não preocupam a Boa Safra. Segundo Marques, no começo do ano, a expectativa era pior, de redução de área. Desta forma, ele acredita que a demanda por sementes de soja seguirá, sem retração.
Por outro lado, a companhia viu a receita de venda de sementes de outras culturas mais do que dobrar em um ano. O faturamento com a comercialização de sementes de milho, trigo, sorgo, feijão e forrageiras somou R$ 39,9 milhões de abril a junho, o que representa salto de 117% em relação ao segundo trimestre do ano passado.
O diretor da companhia esclarece que a soja mantém o seu protagonismo dentro da Boa Safra. Porém, as outras culturas têm papel relevante. “Obviamente que, individualmente, elas não são comparáveis com a soja. Mas elas, em conjunto, são comparáveis. A gente continua na estratégia de ter essas outras sementes, mas de forma conjunta”, diz.
Felipe Marques destaca que o ritmo de crescimento nas vendas de sementes dessas culturas está muito maior em relação à soja, mostrando o tamanho da demanda e do potencial de crescimento. “Mas não quer dizer que a soja vai perder o seu lugar”.
Follow-on deixa caixa cheio
O grande destaque da Boa Safra Sementes no trimestre foi a conclusão da oferta pública primária de ações (follow-on), que levantou R$ 300 milhões. Desta forma, a companhia fechou o trimestre encerrado em junho com fluxo de caixa de R$ 382,2 milhões, aumento de 21,8% no comparativo anual.
Desse total captado na operação, Marques explica que R$ 87 milhões já foram investidos, incluindo a construção de dois centros de distribuição em Mato Grosso, entregues no fim de julho e já em operação.
Além desse total, o conselho de administração da companhia aprovou o uso de R$ 140 milhões do follow-on para investimentos a serem realizados este ano e em 2025.
“Temos uma alocação já definida para esse recurso. Ainda não podemos divulgar, mas estamos olhando a oportunidade de um M&A (fusão e aquisição) na companhia. Nos próximos semestres, vamos anunciar a alocação do restante desses investimentos. Estamos olhando diversas oportunidades de alocação de capital para crescimento orgânico e inorgânico”, adianta o executivo.
Parte desses recursos devem resultar na construção de um laboratório para desenvolver técnicas de tratamento de sementes com produtos biológicos, conforme adiantou o CEO da Boa Safra Sementes, Marino Colpo, em entrevista recente ao AgFeed.
O diretor financeiro e de RI reforça que a empresa tem feito alguns investimentos nesse segmento, nos quais alguns detalhes sobre a nova cartada ainda estão sendo definidos, como a localização do laboratório. O negócio reforça um dos pilares da companhia de investir em sementes de alta tecnologia.
Tal investimento refletiu no crescimento de área contratada pela Boa Safra, que passou de 144 mil hectares no ano passado para 227 mil hectares ao fim do segundo trimestre, que marcou o fim da safra 2023/2024, resultando em avanço de 58%. Com a expansão, a empresa chegou ao portfólio de aproximadamente 70 variedades de soja.