A queda nas ações das grandes empresas de proteína nos últimos 30 dias não tirou o entusiasmo do Citi em relação ao desempenho do setor.

Um relatório com as perspectivas para os setores de proteína animal e de grãos, divulgado nesta quarta-feira pelo Citi Brasil, traz perspectiva positiva para três das quatro grandes companhias frigoríficas com ações negociadas na B3.

O documento mantém a recomendação de compra da JBS e BRF, cita o ano de 2024 como “excepcional” para ambas e sustenta que a recente aversão ao risco, que impacta o desempenho do setor, também cria um ponto de entrada atrativo.

“Mantivemos a recomendação de compra e o status de principal escolha para a JBS, destacando-a como a empresa de proteína mais diversificada em nossa cobertura, com forte presença global e resiliência em diversos mercados”, aponta Renata Cabral, analista de food and beverages do Citi Brasil.

“Elevamos a BRF (de neutra) para recomendação de compra, posicionando-a como uma estratégia tática para aproveitar o ciclo favorável de aves e a dinâmica sazonal positiva no 4T”, diz o texto.

A analista cita no documento que a produção global de carne bovina deve cair na esteira da renovação nos ciclos do gado nos Estados Unidos, Brasil e Austrália. Além de manter a carne bovina em alta, o cenário é positivo para a carne de frango, cujos preços estarão sustentados pela demanda prevista. Já os preços de grãos devem se estabilizar.

O Citi retomou a cobertura da Marfrig com recomendação de compra e rebaixou a Minerva para neutra. Na avaliação da analista, a aquisição de plantas processadoras pela companhia oferece um potencial significativo de valorização, mas o peso financeiro e o risco da integração trazem incertezas para a perspectiva da empresa em 2025.

JBS

Com preço-alvo de R$ 46,00 por ação, o Citi destaca a estratégia de diversificação da JBS como o principal atrativo para os papéis da companhia, gerando resultados positivos em 2025. O destaque, segundo a analista, é para Seara, Pilgrim's Pride Corporation (PPC) e US Pork, “que devem compensar o impacto de um ciclo de baixa na bovinocultura nos EUA e Brasil”.

Segundo ela, avicultura e suinocultura serão os “motores de crescimento” das empresas do grupo. Outro fator positivo é a depreciação do real frente a outras moedas fortes - dólar, euro, libra e iene - que compõem 77% da receita da JBS.

“JBS continua a se destacar como uma empresa resiliente em cenários desafiadores, graças à sua diversificação geográfica e de produtos. Apesar de desafios no segmento de carne bovina, a avicultura e a suinocultura, juntamente com os efeitos positivos da depreciação do real, devem impulsionar os resultados em 2025”

BRF

As elevações do Citi no preço-alvo da BRF, para R$ 32,00 por ação, ante R$ 28,50, e na recomendação, de neutra para compra, são justificadas pela projeção de alta de 4% do Ebitda da companhia, para R$ 11,3 bilhões, e de um crescimento nas vendas de 9% em 2025.

A projeção de vendas maiores ocorre justamente pela oferta limitada de frango no Brasil, que deve manter os preços elevados, a restrição na produção global de proteínas e o real depreciado. “Adicionalmente, esperamos que os preços dos grãos permaneçam nos níveis atuais em 2025”.

Marfrig

Após um período de classificação como suspensa, o Citi renovou a avaliação do Marfrig com recomendação de compra e um preço-alvo de R$ 21,50 por ação. A perspectiva positiva vem da participação da companhia na BRF, que, segundo a analista, “parece significativamente subvalorizada”.

Renata Cabral cita novamente os efeitos positivos da BRF, da oferta limitada e preços remuneradores do frango, mas aponta que o Marfrig Brasil enfrentará custos mais altos com a menor disponibilidade de gado. “Mas melhorias adicionais na alavancagem operacional devem compensar esse impacto”, informa “Por outro lado, a National Beef deve manter uma margem Ebitda baixa de um dígito, mas isso já está refletido nos preços atuais.

Minerva

O Citi rebaixou a recomendação da Minerva de compra para neutra e o preço-alvo da ação da companhia de R$ 9,50 para R$ 5,50. Apesar de citar os possíveis problemas de integração de plantas processadores e do custo financeiro de aquisições, a analista avalia que a Minerva é “uma das melhores operadoras de gado da América do Sul e continuará se beneficiando de sua presença geográfica diversificada.”

Renata Cabral esclarece no relatório que o preço-alvo é para 12 meses à frente. “Vemos 2025 como um ano de integração e ajustes para a empresa”, aponta. “Acreditamos que existem melhores veículos de risco/recompensa no setor de alimentos e bebidas da América Latina a serem alocados em 2025”, completa.

Para o Citi, a disponibilidade de gado no Brasil está no seu pico atual e deve começar a diminuir, impactando a Minerva. Segundo a instituição financeira, o ciclo anterior atingiu o piso no quarto trimestre de 2021, quando houve uma menor retenção de novilhas.

“Como o ciclo geralmente dura de cinco a seis anos, o pico deve ocorrer no final de 2024, com o próximo fundo previsto para 2027. Os preços do gado subiram cerca de 34% no acumulado do ano. No entanto, nosso cenário para o ciclo do gado pode ser postergado se houver forte demanda de China e Estados Unidos pelo gado brasileiro, melhorias na eficiência genética e aprimoramento na conversão alimentar.