Enquanto no Brasil a maioria curte o feriado prolongado, na manhã desta segunda-feira, 21 de abril, o empresário Marcos Molina, controlador das gigantes Marfrig e BRF, comemorava, presencialmente, na Arábia Saudita, junto de representantes do governo do país, um novo investimento para aumentar a produção de alimentos processados na região.
Foi o lançamento da pedra fundamental de uma nova fábrica da BRF, dona da Sadia e da Perdigão, a cerca de meia hora da cidade de Jeddah, segunda maior cidade da Arábia Saudita, considerada estratégica no polo consumidor de alimentos halal, próximo ao Mar Vermelho.
A nova fábrica é um investimento da joint venture entre a BRF e a Halal Products Development Company (HPDC), subsidiária integral do Public Investment Fund. Há seis meses, os mesmos sócios adquiriram 26% da Addoha Poultry, um negócio com foco na produção e comercialização de frango e agora mostram que estão com apetite para seguir avançando no Oriente Médio.
O investimento é de cerca de US$ 160 milhões, ou R$ 928 milhões pela cotação atual. A previsão é de que a nova fábrica comece a operar até a metade do próximo ano.
"O investimento representa mais um avanço consistente em nossa estratégia de presença global e fortalece nossa atuação em um mercado altamente estratégico para a companhia, além de consolidar a parceria com o reino da Arábia Saudita em sua agenda de segurança alimentar", destacou Marcos Molina, acionista controlador e presidente dos Conselhos de Administração de Marfrig e BRF, em comunicado.
A capacidade de produção da nova fábrica é de aproximadamente 40 mil toneladas por ano. Os alimentos processados serão, inicialmente, destinados ao mercado saudita, com possibilidade de exportação para outros países da região.
Em entrevista ao AgFeed, o vice-presidente de Mercado Halal da BRF, Igor Marti, disse que, com a nova unidade, a companhia triplica sua capacidade de produção de itens de valor agregado na Arábia Saudita.
Isso porque, até então, no país árabe eram produzidas somente 15 mil toneladas de alimentos processados na fábrica que a empresa já tem em Dammam. Com o início da primeira etapa de operação em Jeddah, essa produção subirá para 55 mil toneladas.
Segundo a BRF, a planta foi concebida de forma a possibilitar uma ampliação futura, permitindo dobrar a capacidade inicial. “Tem terreno e tem infraestrutura no ponto de vista de projeto para poder dobrar e mais um pouco no futuro, mediante demanda, crescimento de mercado e oportunidades de exportações”, explicou Marti.
A nova operação será a sétima unidade de produção da BRF no Oriente Médio e a terceira na Arábia Saudita. A joint venture com a HPDC foi anunciada em agosto de 2023. Naquele mesmo ano foi criada BRF Arabia, que é 70% de propriedade da BRF e 30% da HPDC. O aporte na fábrica foi dividido de forma proporcional entre eles.
O último investimento do grupo havia sido anunciado em outubro do ano passado, quando a joint venture adquiriu 26% da Addoha Poultry Company, uma das principais empresas sauditas do setor avícola. O valor da transação foi de US$ 84,3 milhões.
Fahad Alnuhait, CEO da HPDC, afirmou no comunicado divulgado pelo grupo que "essa nova instalação representa um grande passo à frente em nossa estratégia de construir ecossistemas integrados de fabricação halal. Em parceria com a BRF, esse investimento reflete nossos esforços contínuos para promover a posição da Arábia Saudita na economia halal global”.
Segundo ele, a fábrica não apenas atenderá à crescente demanda doméstica por produtos mais processados, mas também reduzirá a dependência do Reino de produtos importados. O objetivo é tornar a Arábia Saudita em centro global de produtos halal.
A fábrica contará com matéria-prima proveniente do Brasil, já que haverá uma vantagem logística com os novos investimentos, segundo o VP da BRF. A unidade de Addoha também vai fornecer frango para a produção de alimentos em Jeddah.
O cronograma de investimento tem execução planejada para 2025 e 2026 com desembolso de aproximadamente US$ 63 milhões em 2025 e US$ 98 milhões em 2026.
"Essa nova planta reforça nossa presença e estrutura no Reino Unido (da Arábia Saudita), onde já temos uma fábrica em Dammam, além de nosso próprio ecossistema de distribuição. Jeddah é a segunda maior cidade da Arábia Saudita e sua localização estratégica permite melhor acesso ao mercado consumidor e aos parceiros comerciais. Estamos muito atentos às oportunidades no país", afirma Marquinhos Molina, CEO da BRF Arábia.
A BRF está presente no Oriente Médio há mais de 50 anos e é líder de mercado com a marca Sadia. A empresa exporta para mais de 14 países da região. A fábrica de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, também produz alimentos processados.
A companhia não revela quanto de sua receita total vem dos negócios no Oriente Médio. Igor Marti informou apenas que, dentro da operação halal da BRF, a Arábia Saudita costuma ficar em primeiro ou segundo lugar, perdendo apenas para a Turquia, que é outro mercado importante.
Mercado cresce dois dígitos
A BRF diz que está acompanhando o mercado de maior valor agregado que está crescendo dois dígitos nos últimos anos. O market share na Arábia Saudita não é divulgado, mas a empresa diz que é líder na região do golfo, que engloba seis países, com mais de 37% de participação.
“A gente tem a marca icônica, a Sadia, introduzida aqui em 1970, muito próxima ao consumidor, e tem uma operação muito forte e muito resiliente nessa parte do mundo”, ressaltou.
A BRF afirma contar também com o apoio do governo saudita. “A Arábia Saudita tem a visão 2030, que é todo um plano de crescimento do país. O crescimento da população esperado é chegar até 50 milhões nessa visão 2030. E o crescimento vem na área do Mar Vermelho, que é perto de Jeddah”, explicou.
No lado da empresa brasileira, é uma forma de reforçar apostas que, na visão dos executivos, são positivas também do ponto de vista de margem e disciplina financeira.
“A Arábia Saudita e o Oriente Médio como um todo estão no centro da estratégia de expansão e crescimento global da BRF”, afirmou Marti.
As transformações sociais, culturais e econômicas reforçam este interesse pela região.

“Essa oportunidade vem de uma transformação demográfica muito importante na região com mudança de modelo de família que acarreta mudanças de costumes e hábitos dos consumidores”.
Ele diz que, na região, as mulheres estão cada vez mais deixando o papel de ficar em casa e sendo inseridas no mercado de trabalho, com lares menores e duas rendas. “Aí existe uma procura natural por itens que estão mais práticos, mas sem abrir mão daquilo que é saudável”.
Itens à base de carne bovina também serão produzidos na nova fábrica, como o hamburger. A marca, porém, seguirá como Sadia, já tradicional na região, diferentemente do que foi anunciado recentemente por Marfrig e BRF que começam a associar Sadia com marcas de bovinos como Bassi e Montana.
Sobre o potencial para ampliar exportações a partir da Arábia Saudita, Igor Marti, diz que produtos feitos no país levam uma espécie de “timbre de confiança”, reconhecido pelo mundo islâmico, por isso os itens serão vendidos para países vizinhos.
“Então, a gente pode explorar o Kuwait, que é muito próximo, o Catar, Oman, os Emirados, o Bahrein. Podemos exportar para outros países do norte da África. Não tem, evidentemente, nenhuma ideia, nenhum sentido econômico exportar para o Brasil, por exemplo”, ponderou.