Ramon Amaral, CEO da Brazilian Fish, tem um lema na ponta da língua: “vender filé de tilápia a preço de frango”. A ideia é curiosa, tendo em vista que o preço da ave é mais barato do que o do peixe no mercado.
Tudo tem a ver com deixar o produto mais acessível, segundo Amaral. E agora, a companhia tomou um grande passo rumo a essa meta. A Brazilian Fish anunciou que foi bem sucedido o desenvolvimento da primeira tilápia geneticamente editada para desempenho no Brasil.
Amaral contou ao AgFeed que o projeto envolveu uma parceria com o Center for Aquaculture Technologies (CAT), dos Estados Unidos. Na prática, é realizada uma edição gênica para aprimorar o desempenho produtivo e aumentar o rendimento do filé do animal.
“Hoje, cada quilo de tilápia rende algo próximo a 330 gramas de filé. O restante vira matérias-primas de baixo valor, então é o filé que paga a conta. Precisávamos melhorar esse rendimento”, disse.
A expectativa com a tilápia geneticamente editada é que o rendimento passe para algo em torno de 420 gramas de filé por animal.
Na Brazilian Fish, esses outros produtos de menor valor, além do filé, englobam pele e escamas, que são vendidas para empresas que produzem colágeno no Japão, vísceras e entranhas, que viram carne moída vendida pela própria empresa, e até fertilizantes agrícolas.
Somado ao aumento de “produtividade” do peixe, Ramon Amaral acredita que a tilápia editada ainda tenha um rendimento alimentar 20% mais efetivo. Hoje, ele estima que para cada quilo de tilápia são necessários 1,5 quilo de ração.
“São esses fatores que vão ajudar o preço do consumidor a baixar e ficar mais acessível”, acredita. Na ponta do lápis, a redução de custos pode ficar em 25%, considerando todo o ciclo do peixe.
Amaral não divulgou o recurso exato que a empresa desembolsou para tirar a ideia da tilápia do papel e colocar na água, mas afirma que o investimento faz parte do pacote de R$ 100 milhões que a companhia investiu nos últimos anos.
A maior parte deste recurso foi utilizada na ampliação de produção, que saltou de um patamar de 60 toneladas de tilápia processada por dia para um patamar atual próximo às 100 toneladas.
O CEO acredita que, a depender dos próximos meses de desenvolvimento dos peixes, pode ser que a empresa ainda aporte mais recursos fora desses R$ 100 milhões.
Ramon Amaral ainda não sabe dizer ao exato quando a tilápia geneticamente editada chegará ao consumidor final, pois os peixes que nasceram com esses genes deverão passar por ciclos de reprodução.
“Esses peixes que nasceram não serão os que vão para a indústria. Eles precisam crescer, entrar em estágio de reprodução por pelo menos duas gerações. O ciclo normal até chegar na indústria é de 11 meses”, explica.
A edição do genoma acelera as mudanças genéticas que aconteceriam naturalmente. “Ao invés de levar muitos anos em um programa de criação, essa variação benéfica agora pode ser introduzida em uma única geração”, disse a CAT, em um comunicado oficial.
A ideia é que a tecnologia diminua o tempo de um programa tradicional de melhoramento de 20 anos para apenas um ano.
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“O pouco que tivemos de experiência com esses peixes tem sido melhor do que o esperado. Os peixes nasceram saudáveis e a equipe da CAT virá dos EUA no mês que vem para acompanhar o processo e para criar novos animais”, acrescentou Ramon Amaral.
Ele conta que o projeto foi idealizado para abastecer a própria operação da Brazilian Fish com alevinos (peixes nos estágios iniciais de vida). Contudo, ele já vislumbra a oportunidade de atuar numa vertente B2B, disponibilizado esses alevinos de tilápia geneticamente editados para outras empresas criarem o peixe.
“Vamos deixar de produzir alevinos só para a Brazilian Fish e transformar isso num negócio à parte”.
Mesmo com os primeiros peixes nadando nos tanques da empresa só agora, Amaral cita que o processo começou há três anos, quando ele conheceu a técnica de edição.
“Vi que já existia esse processo em outros animais como bovinos, equinos e até em camarões e salmão. Na tilápia não encontrei ninguém fazendo isso de forma industrial”.
Depois de tentar levar o projeto com algumas empresas, a CAT se mostrou o parceiro ideal.
O executivo ressalta que o peixe não é considerado transgênico, e sim possui alguns genes editados. “Na transgenia você tira um pedaço do DNA do animal e insere outro de outro animal, substituindo. A edição acontece no ovo fecundado, quebrando o DNA no gene necessário, fazendo um corte, para que ele continue se multiplicando”, explicou.
Para fazer uma comparação, a edição genética funciona como um erro de digitação corrigido em um texto. Ao invés de copiar e colar palavras de outro documento (transgenia), são feitos apenas ajustes em determinadas letras e palavras.
Ramon Amaral disse que a empresa já possui todas as aprovações regulatórias com o CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) para vender essa tilápia geneticamente editada.
O CEO não divulga o número de faturamento da Brazilian Fish, mas o grupo Ambar Amaral - que engloba a empresa e também a Raguife, de rações para peixes e pets, e uma área de pecuária -, tem rondado o primeiro bilhão nos últimos anos.
Os outros negócios são tocados pelos seus irmãos mais novos, Felipe e Guilherme Amaral.