Refletindo a sazonalidade natural dos seus negócios, a BrasilAgro encerrou os três últimos meses de 2023, o segundo trimestre de seu ano-safra, com um prejuízo de R$ 5,8 milhões.
O resultado líquido veio um pouco melhor do que no mesmo período em 2022, quando teve um prejuízo de R$ 12 milhões. Apesar disso, o primeiro semestre da safra se encerrou com lucro de R$ 24 milhões, 17% abaixo do visto na safra passada.
De acordo com o CFO da empresa, Gustavo Lopez, o resultado negativo do trimestre se deu em meio a uma expectativa de melhora nos preços dos grãos que estavam em estoque, o que não aconteceu.
A empresa ainda aproveitou o final de 2023 para acelerar as vendas de cana. De acordo com Lopez, a empresa encerrou o fornecimento de 2023, de 2 milhões de toneladas produzidas. Desse total, a menor parte, algo entre 600 mil e 700 mil toneladas, foi vendida entre abril e maio. O restante ficou para o segundo semestre.
Na dinâmica da empresa, Lopez explicou que a BrasilAgro usualmente vê seus melhores resultados no segundo trimestre do ano-safra, que se estende de janeiro até junho. Nesse período, a empresa vende grande parte da safra que foi colhida entre abril e maio e, com isso, obtém mais receita.
“Entendemos que essa venda nesse momento faz sentido também avaliando os prêmios e câmbio. Costumamos carregar uma parte menor para vender depois”, afirmou o diretor financeiro.
Com isso, a expectativa é que os próximos dois trimestres sejam melhores que os últimos. Na safra passada, por exemplo, o segundo semestre (de janeiro a junho de 2023) teve um lucro um pouco acima de R$ 270 milhões, enquanto que o primeiro semestre (de julho a dezembro de 2022) foi de R$ 29 milhões.
O CEO da empresa, André Guillaumon, destacou que o ano de 2024 “começou desafiador para o agronegócio, tanto do lado comercial, quanto do lado do clima”.
De acordo com o executivo, a BrasilAgro tomou algumas medidas para sustentar as margens, como mudar um pouco o mix de culturas e diminuir a área plantada, bem como “um equilíbrio entre a comercialização dos produtos e compra de insumos, foco no hedge e redução das despesas”.
A empresa projeta encerrar a safra 2023/2024 com uma área de 172 mil hectares plantados, 7% abaixo do estimado pela empresa no começo da temporada. No mix, são 157 mil hectares de lavouras e mais 15 mil de pasto.
A maioria das culturas deve perder área ou se manter estável na comparação anual. A exceção fica com o feijão, que substituiu uma parte do plantio de soja nas operações da empresa na Bahia e deve somar mais de 7 mil hectares, 56% acima do estimado, e da cana planta, que deve ver um aumento de 28% na área, para 3,7 mil hectares.
Nas principais culturas, soja e algodão, a expectativa é de 72 mil hectares e 21 mil hectares, respectivamente.
Na soja, a colheita já se iniciou em algumas fazendas, segundo Guillaumon. Na primeira semana, a produtividade por hectare estava na casa das 50 sacas. Na segunda, já subiu para acima de 65 sacas. “Tenho expectativa de atingir o número projetado e com uma produtividade parecida com a da safra anterior”, afirmou.
Na safra 2022/23, a empresa plantou 65 mil hectares de soja, e colheu 204 mil toneladas. Para a temporada atual, a expectativa é de uma colheita de 248 mil toneladas.
A BrasilAgro vive um momento distinto ao visto no restante do Mato Grosso, principalmente na região mais central e ao norte, que sofreu com secas mais severas. Em entrevista recente ao AgFeed, André Guillaumon comparou a operação no Vale do Araguaia a “um oásis” frente ao resto do estado.
Com isso, a operação no Vale do Xingu deve ter um resultado acima da média do estado, já que teve um clima mais propício. O que ainda preocupa o CEO é o ritmo atual de chuvas, que, por estar mais acelerado, pode prejudicar algumas colheitas.
Na operação da fazenda Panambi, mais ao sul do Mato Grosso, a produtividade deve cair em 10% frente a safra passada, “um resultado mais parecido com o Mato Grosso”, segundo o executivo.
“Nossa fazenda no Xingu está com colheitas espetaculares. Lá choveu normal e as primeiras sacas estão com boa produtividade. Na Bahia, sofremos em novembro, o que nos fez reduzir área e migrar soja para feijão. De dezembro para cá, a chuva melhorou”, disse.
No milho, Guillaumon disse que a empresa diminuiu a safrinha, mas acabou plantando mais milho na primeira safra em algumas fazendas, por conta do atraso de chuvas e seca forte em algumas regiões do Matopiba durante o período de plantio.
Ele explicou que a janela de plantio da soja é dentro de novembro e a do milho em dezembro, e como o tempo estava ruim para o plantio da soja, a empresa acabou postergando a decisão em dezembro. Com um clima melhor, a empresa optou por plantar milho verão ao invés de soja.
Mercado agro imobiliário aquecido
Na operação imobiliária da empresa, de compra e venda de fazendas, o CEO vê o mercado aquecido nesse restante de safra. Sem entrar em detalhes sobre os movimentos da empresa, ele disse que teve, nesta tarde, uma reunião com o conselho para apresentar oportunidades, tanto de venda quanto de compra.
Ele vê que players do agro que permanecem bem capitalizados estão atentos a oportunidades, aproveitando um “desconto” que o preço em baixa de grãos está dando para essas propriedades.
“O produtor tem receita em sacas, ou seja, a moeda para transação é o grão. A empresa que quer comprar terra pensa que uma terra valia uma quantidade de sacas, mas com um preço por saca maior que hoje. Vemos uma aceleração na prospecção de áreas por conta da mercadoria estar desvalorizada”, conta.
Guillaumon conta que se, há dois anos, alguém quisesse comprar uma terra da empresa à vista, o negócio era visto com bons olhos. Hoje, as vendas acontecem a prazo, avaliando também as curvas futuras do preço do dólar para os próximos anos.
Atualmente, acredita que a busca do mercado está mais aquecida em áreas com potencial de irrigação, como por exemplo, cultivo de hortifrutigranjeiros na Bahia.
“Vislumbramos um mercado com liquidez corrente importante nos próximos anos. Se ficar ruim pra vender, vamos comprar e girar portfólio”, comentou Guillaumon.
Investimentos da BrasilAgro
Gustavo Lopez cita que a empresa investiu, ao longo do primeiro semestre desta safra, R$ 100 milhões e que grande parte disso está alocado em transformação e maturação de áreas de pastagem para o cultivo de grãos.
Para 2024, a empresa prevê um grande projeto de conectividade nas fazendas. Guillaumon havia adiantado essa ideia ao AgFeed no mês passado, quando declarou que esse é o ano para “arrumar a casa em termos de inovação”.
Outro investimento que já começou a ser colocado em prática é em irrigação. A empresa emitiu, no apagar das luzes do ano passado, uma debênture incentivada de R$ 165 milhões para o projeto.
Guillaumon disse que a irrigação deve ser implementada em até 5 mil hectares da empresa. Atualmente, 1 mil hectares já estão cobertos.
“Devemos acelerar isso em algumas unidades da Bahia, como na fazenda Arrojadinho. Devemos usar irrigação também para a cultura da cana, para projetos de sistematização e pressurização de linhas”, comentou.
A BrasilAgro ainda deve fazer um “investimento grande” para trazer o sistema Agrobit, plataforma de agricultura digital com rastreabilidade e gestão analítica, para a empresa.
Ele não deu dimensão dos valores, mas disse que a ideia é criar algoritmos de inteligência para que, no longo prazo, a BrasilAgro possa corrigir orçamentos e melhorar aspectos operacionais com a tecnologia.
O último ponto de investimentos da empresa será nas fábricas próprias de bioinsumos. Hoje a BrasilAgro possui duas biofábricas instaladas, uma na Fazenda Chaparral, na Bahia, e outra na Fazenda Serra Grande, no Piauí.
A terceira unidade, que está em fase final de obras, será na Fazenda Jataí, no Mato Grosso. A quarta biofábrica, em fase de projeto, será na Fazenda São José, no Maranhão.
As unidades são dimensionadas de acordo com a capacidade e demanda de cada fazenda. Hoje as duas unidades existentes atendem uma produção on farm de diversos microrganismos benéficos para atender uma área de produção agrícola de 303 mil hectares.
O CEO havia dito ao AgFeed que projetava um investimento de R$ 300 mil em infraestrutura, para criar uma capacidade de atender 70 mil hectares com biológicos.
A empresa está construindo novas biofábricas e adequando as atuais para aumentar capacidade nas fazendas, com foco em especificidades de combate a algumas pragas e doenças, principalmente lagarta, percevejo e nematoides.