Já se sabe que a safra 2022/2023 não foi fácil para quem produz e vende commodities agrícolas, especialmente soja e milho. E a BrasilAgro, que atua como produtora e também negocia terras, adotou uma estratégia pouco usual para alocar seus lucros do período.

Nessa semana, os acionistas da BrasilAgro aprovaram a distribuição de R$ 320 milhões em dividendos referentes ao ano fiscal de 2023, encerrado em junho. O valor é superior ao lucro líquido acumulado no período, de R$ 268,5 milhões.

“A companhia tem distribuído dividendos superiores aos seus lucros por conta do momento do agronegócio”, afirma João Daronco, analista da Suno Research.

Ele afirma que as terras agrícolas têm sido negociadas a valores muito elevados, o que tira o espaço para fazer novos investimentos em expansão.

“Assim, a distribuição de dividendos se torna bastante atrativa como forma de alocar o capital da empresa”, explica Daronco.

A empresa divulga os resultados do primeiro trimestre da safra 23/24 no dia 7 de novembro. Em setembro, ao divulgar os números de 22/23, a companhia publicou estimativas com aumento da área plantada, com destaque para algodão safrinha e milho safrinha, com expansões de 71% e 47%, respectivamente.

Ao comentar os resultados, os analistas Leonardo Alencar e Pedro Fonseca, da XP Investimentos, alertavam para a continuidade da tendência de preços baixos dos grãos na safra 23/24.

Em relatório divulgado na quarta-feira, 25 de outubro, tratando da estratégia da XP para SLC e BrasilAgro na carteira de ações, os analistas reafirmaram esta tendência baixista, o que prejudica as duas companhias. A recomendação para ambas é Neutra.

No entanto, a XP resolveu se posicionar apostando na alta da ação da SLC, enquanto para a BrasilAgro a corretora projeta queda na cotação.

“Colocamos o potencial de alta de 20% para a ação da SLC, e 7% para a BrasilAgro, mas a nossa leitura é que esta última deve devolver os ganhos acumulados recentemente”, afirma o relatório da XP assinado por Leonardo Alencar.

Na última quarta-feira, dia 25, a ação passou a ser negociada ex-dividendos. Ou seja, o acionista que queria receber parte dos R$ 320 milhões em proventos, tinha que segurar o papel ordinário da BrasilAgro até a última terça, 24.

Como o dividendo representou quase 13% do valor da ação, houve um ajuste técnico descontando o valor de R$ 3,21 por papel. Somado ao movimento natural de venda após a data ex-dividendo, a ação caiu 18% em um dia.

Nesta quinta-feira, 26, o papel teve uma nova queda, mas em ritmo bem mais leve, de 0,16%. Mas como a XP projetava, a desvalorização desta semana faz com que o valor de mercado da BrasilAgro acumule uma alta de pouco mais de 4% nos últimos seis meses.

A XP também espera uma diminuição no ritmo de vendas de terras pela BrasilAgro, o que deve ter impacto nos dividendos pagos aos acionistas nos próximos anos.

A corretora se baseou em declarações dadas ao AgFeed pelo CEO da empresa, André Guillaumon, em matéria publicada no começo de agosto. Na ocasião, ele disse que a BrasilAgro deve adotar uma estratégia mais compradora de terras nos próximos meses.

Para Daronco, da Suno, a empresa dificilmente vai continuar oferecendo retornos com dividendos, conhecidos pelo termo yield, superiores a 10% nos próximos anos.

Em análise sobre a empresa, o BTG Pactual lembra que as terras da BrasilAgro foram avaliadas internamente com valor de R$ 3,1 bilhões ao final da última safra, queda aproximada de 3% na comparação anual.

A empresa levou em conta a cotação da saca de soja em R$ 111,50 na safra 22/23, contra R$ 132 no período anterior.

Para o BTG, o preço da ação da BrasilAgro ainda apresenta múltiplos muito descontados, o que justifica a recomendação de Compra do banco.