Os Estados Unidos têm um papel bastante relevante nas operações da Marfrig. Mas pelo menos no início de 2023, as vendas para os consumidores brasileiros de carne foram quase tão importantes para a empresa quanto aquelas feitas para os americanos.

Com a piora nas exportações e no consumo nos Estados Unidos, além da inclusão dos números da BRF, que teve o controle adquirido pela Marfrig em abril de 2022, a participação do Brasil nas receitas globais da companhia passou de 7% no ano passado para 27% ao final do primeiro trimestre de 2023.

“No cenário que se apresentou, trabalhamos mais para o mercado interno. A suspensão das importações pela China teve impacto mínimo nas operações. Reduzimos os custos, adotamos férias coletivas”, afirma Rui Mendonça, CEO das operações América do Sul da Marfrig.

O número que melhor comprova o diagnóstico positivo de Mendonça é a margem da operação sul-americana. Enquanto no primeiro trimestre de 2022, a margem Ebitda ficou em 6,4%, neste ano o indicador ficou em 7,8%.

A participação dos Estados Unidos nas receitas globais caiu de 64% para 39% no mesmo período. Tim Klein, CEO da National Beef, unidade americana da Marfrig, afirma que houve uma influência do calendário no resultado.

“Tivemos 12 semanas neste primeiro trimestre, ante 13 semanas em 2022. Mas o momento é positivo. Já registramos uma queda de 3% no preço do gado, e ainda deve cair mais 3% a 4% neste ano”, afirma Klein.

O preço do boi foi um dos problemas para a operação americana da Marfrig. Segundo o balanço apresentado pela empresa, o custo aumentou quase 16% em um ano, enquanto o preço de venda da carne subiu 1,6%. Assim, o spread caiu 12% no mesmo período de comparação.

Com isso, a margem Ebitda das operações da América do Norte da companhia despencou em 12 meses, passando de 15% no primeiro trimestre de 2022 para 3,9% neste ano.

A Marfrig registrou queda nas receitas em suas operações tanto na América do Sul quanto na América do Norte. Em relação primeiro trimestre de 2022, o faturamento da empresa caiu 19,2% e 15,5% nos dois mercados, respectivamente.

Na comparação anual, as receitas cresceram 42,2%, mas no começo do ano passado, por influência da BRF. Sem a BRF, as receitas da Marfrig teriam registrado recuo de 16,5% em um ano. A empresa adquirida contribuiu com R$ 13,1 bilhões em receitas

No lucro operacional, nem mesmo a entrada da BRF no balanço, com R$ 607 milhões de contribuição, impediu uma forte queda. O Ebitda da Marfrig recuou 45,5% em um ano, para R$ 1,5 bilhão. Sem a BRF, o indicador teria recuado 67,5%.

A Marfrig teve prejuízo de R$ 634 milhões entre janeiro e março deste ano, ante lucro de R$ 109 milhões no mesmo período de 2022.

Aposta na diversificação

O maior “equilíbrio” entre Estados Unidos e Brasil na composição das receitas da Marfrig teve componentes de mercado, mas a empresa aposta na maior diversificação de suas receitas, especialmente quando se trata da China.

“Nosso foco está em conseguir novas habilitações em outros mercados, como aconteceu neste ano com a Malásia, Singapura e Canadá”, afirma Marcos Molina, presidente do Conselho de Administração da Marfrig.

A participação de China e Hong Kong nas receitas da Marfrig caiu de 13% para 8% em um ano. Já o Oriente Médio passou de 1% para 8%, com a entrada da BRF, que possui uma joint venture na Arábia Saudita.