O mês de maio tem sido mais agitado do que o normal para os irmãos Batista. Na semana passada, a J&F, holding comandada por Wesley e Joesley, encerrou o imbróglio envolvendo o controle da Eldorado Celulose, recomprando a participação da Paper Excellence no negócio.

Agora, nesta semana, os dois estão no centro de outra decisão relevante: a assembleia geral histórica que reunirá os acionistas da JBS para definir se a empresa fará sua dupla listagem e levará seus papéis para os Estados Unidos.

O resultado da votação dos minoritários deve ser conhecido na sexta-feira, 23 de maio. Enquanrto esse momento não chega, o movimento em torno das ações da companhia chamou a atenção, com volumes mais altos sendo negociados, dentro e fora do pregão.

Nesta terça-feira, 20 de maio, os papeis da JBS fecharam com alta de 4,79% na cotação, mas com um volume negociado superior ao dos últimos dias. Segundo números do Broadcast, a companhia somou R$ 1,4 bilhão em negócios, considerando compra e venda. Quase o dobro dos R$ 736 milhões do dia anterior e bem acima dos R$ 483 milhões da sexta-feira, dia 16. Já o volume do dia 15 havia sido alto também: R$ 1,25 bilhão.

Assim que o pregão da terça-feira foi encerrado, um comunicado registrado pela JBS na CVM apontou um dos movimentos que ajudaram a puxar essa movimentação.

O documento informa que o BNDESPar, holding de investimentos do BNDES, vendeu 2% de sua participação na empresa. Entre os dias 23 de abril e 20 de maio, o banco estatal saiu de uma posição de 20,23% para uma posse de 18,18% da companhia.

Considerando o preço de fechamento da ação nesta terça, de R$ 42,01, o BNDES vendeu cerca de R$ 1,91 bilhão em ações da JBS - o valor é uma estimativa, já que o banco pode ter realizado a venda em diferentes momentos, durante a flutuação do papel na B3.

O movimento do banco e o aumento expressivo na movimentação ocorre em meio ao clima de tensão com a proximidade da assembleia que decidirá se a empresa fará sua dupla listagem e levará seus papéis para os EUA.

Os acionistas enviaram seus votos à distância até a última segunda-feira (19), e, enquanto o veredito não sai, empresas e investidores se mostram inquietos com a definição.

Desde meados de março, quando o BNDES e a J&F, holding da família Batista, celebraram um acordo em que ambas as partes concordavam em se abster da votação na assembleia, a aprovação da dupla listagem era vista como certa por grande parte do mercado, colocando o poder de decisão nas mãos dos minoritários.

A reação do mercado, então, foi bastante positiva e o papel da empresa disparou na B3 logo após o anúncio do acordo. No dia 18 de março, a ação encerrou o pregão com uma alta de 17,8%.

Além disso, diversos relatórios publicados no dia por analistas do mercado ressaltaram os pontos positivos da provável listagem futura.

Guilherme Palhares, do Santander, disse que a listagem nos EUA será transformacional para a JBS, e permite que a empresa acesse novos fundos de investimentos e uma estrutura acionária mais flexível.

Já Renata Cabral, do Citi, disse que a listagem nos EUA pode fazer com que os papéis figurem em índices de ações, como o Russel e até o S&P 500, pois a JBS tem a elegibilidade para isso. Além disso, acredita que esse processo pode aproximar o valor de mercado da companhia ao de sua principal concorrente nos EUA, a Tyson Foods.

Na semana passada, entretanto, vozes contrárias se levantaram e provocaram ruído inesperado. A consultoria Institutional Shareholder Services (ISS), por exemplo, divulgou uma recomendação contrária à dupla listagem.

No documento, disse que a ação era “problemática e priva grandemente os acionistas minoritários". Outra consultoria independente, a Glass Lewis, também se pronunciou contra a listagem, argumentando ainda que os minoritários terão menos voz na nova JBS.

As restrições das duas empresas se concentravam no fato de que, na proposta de dupla listagem, a JBS prevê uma empresa com duas classes de ação (A e B). As ações Classe A serão negociadas na NYSE e possuem direito a um voto cada. Por sua vez, as ações Classe B não estarão listadas e possuem direito a 10 votos cada.

Se a listagem passar, os controladores transferem suas ações atuais para papéis Classe B. Os acionistas minoritários receberão, no lugar das ações atuais, BDRs, que são ações que espelham o papel negociado lá fora, equivalente à Classe A.

Em resposta, a JBS enviou uma carta aos acionistas defendendo a listagem lá fora, dizendo que a ISS não “conhece a importância do acionista controlador para alcançar a liderança da empresa na indústria global de alimentos”.

O ruído, no entanto, foi ouvido pelo mercado. Por meio de relatório publicado na segunda-feira, 19 de maio, o banco americano JP Morgan, recomendou um “hedge” para os minoritários.

Na prática, embora afirme confiar na aprovação da dupla listagem, o banco sugere que os acionistas comprem “opções de venda”, como forma dese protegerem caso a proposta seja rejeitada e a ação sofra uma queda.

"Opção de venda" nada mais é do que um tipo de contrato que dá o direito ao investidor de vender sua ação a um preço fixo. É como se o acionista travasse um preço de venda e, se a ação cair mais do que o patamar travado, ele vende por um preço maior e reduz a perda, quase como um seguro.

“As ações têm apresentado desempenho inferior ao do Ibovespa nos últimos três dias e atribuímos a maior parte desse movimento a um relatório da ISS. Recomendamos proteger a empresa contra a recusa dos acionistas na listagem nos EUA comprando opções de venda de 30 de maio”, sugere o banco.

Resumo

  • BNDES reduz sua participação de 20,23% para 18,18% na empresa, sendo um dos responspáveis pelo aumento expressivo nos negócios com ações da JBS
  • Somente nesta terça, 20 de maio, foram R$ 1,4 bilhão em operações de compra e venda, o dobro do dia anterior
  • Assembleia geral sobre a dupla listagem das ações da JBS está prevista para sexta-feira, 23 de maio