O setor de insumos biológicos é uma das estrelas do momento no agro brasileiro. O crescimento beira os 40% ao ano e as principais empresas nacionais são cobiçadas por compradores internacionais, a exemplo da recente aquisição da Biotrop pela empresa belga Biobest por R$ 2,8 bilhões.
O momento é auspicioso, mas as dores do crescimento típicas do agro brasileiro também atingem as emergentes indústrias de bioinsumos. O gargalo logístico, por exemplo, além de afetar o escoamento das safras recordes, é um dos principais redutores da velocidade de expansão das empresas do setor.
Uma das pioneiras no segmento, a Promip, de Piracicaba (SP), está atenta a esse problema. A empresa prepara-se para inaugurar, no início de 2024, uma nova fábrica que deve quintuplicar a capacidade de produção de suas linhas de macrobiológicos (com 8 produtos) e microbiológicos (7 produtos).
A biofábrica atual, na vizinha Engenheiro Coelho, entrega 30 toneladas por ano. A nova capacidade deve ficar entre 150 e 180 toneladas por ano.
Não por acaso, Marcelo Poletti, CEO da Promip, tem apresentado preocupação com o tema da distribuição dos biológicos. Na sua avaliação, esse tem sido fator limitante para um avanço ainda maior dos biológicos no mercado.
“Existem limitações, de empresas, capacidades e atender a demanda. As que usam cadeia fria tem um custo maior, mas tem feito revendas parceiras para entregar em freezers. A tendência é a indústria fugir da cadeia fria”, pontua.
Diferentemente dos produtos químicos, um dos principais desafios do setor de biológicos é o “prazo de validade dessas soluções”, ou “shelf life”, no jargão da distribuição.
Como em muitos casos são organismos vivos, esse período pode ser de um mês ou algumas semanas. No caso dos macrobiológicos – em geral pequenos insetos, como vespas, ou ácaros – a vida útil varia entre 7 a 21 dias.
Essa vida mais curta faz com que, em muitos casos, o produtor tenha que aplicar o produto já no recebimento.
Por isso, Poletti tem buscado soluções em outros mercados que sofrem do mesmo problema. Um deles é o de medicamentos e vacinas, pois segue moldes semelhantes às necessidades dos produtos biológicos.
“Para que as entregas sejam adequadas, preservando a eficiência dos ‘inimigos naturais’ em campo, as biofábricas têm trabalhado de forma alinhada com seus clientes, desde a finalização da produção, até o envio e recebimento. A interação com o cliente neste processo, auxilia a logística”, diz.
Outra solução, segundo Poletti, é a própria indústria produtora desses biológicos dar o suporte necessário para o transporte. “Uma saída seria produzir os organismos regionalmente, com fábricas perto dos produtores”, acrescenta.
A Promip tem buscado, também, conscientizar os responsáveis pelo transporte sobre a carga que levam nos caminhões. A empresa investe em treinamento entre o transportador e o profissional chamado de orientador, que recebe o produto vindo de outros estados e repassa aos produtores locais. “Explicamos para esse transportador exatamente o que ele está levando, bem como os cuidados a serem tomados”.
Esse treinamento foi feito, por exemplo, no transporte de um ácaro predador que controla as pragas do tabaco. O produto foi desenvolvido em uma parceria com a Souza Cruz há oito anos. Na prática, o ácaro possui um shelf-life de 21 dias, prazo em que precisa sair da fábrica da empresa no interior de São Paulo e ser aplicado às lavouras nos estados do Sul.
Investimento e foco
O impulso para a construção da nova fábrica veio a partir de uma decisão de fechar o foco do negócio da Promip, tomada no ano passado. A empresa possuía um braço de serviços e decidiu vender para o grupo francês Staphyt, por valor não revelado.
Com dinheiro no bolso,a ordem foi investir na produção de seus bioinsumos, com a implantação da nova unidade. As metas já anunciadas pela empresa incluem ampliar o portfólio de produtos para 20 em dois anos e atingir entre R$ 300 milhões e R$ 500 milhões, até 2028.
A expansão territorial deve ser feita também com apoio de parceiros em canais de distribuição, inclusive de outras empresas de defensivos agrícolas ou mesmo de biológicos.
A Promip foi fundada em 2006 pelo próprio Poletti. Engenheiro agrônomo formado pela Unesp, seguiu carreira acadêmica na Esalq/USP e, no fim de seu doutorado, em uma parceria com a própria universidade, teve a oportunidade de lançar o negócio.
No financiamento, a companhia começou com apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e, com oito projetos iniciais, levantou R$ 4 milhões.
Posteriormente, em 2014, passou a ter como sócio o Fundo de Inovação Paulista, que reúne como cotistas o Desenvolve SP, a própria Fapesp, o Sebrae e a Jive Investments.
Sem entrar em detalhes, o CEO comentou que a empresa já prepara terreno para uma nova captação nos próximos meses, para reforçar essa escalada com a nova fábrica.
A aposta atual e para o novo momento da Promip é um microbiológico que atua contra a lagarta-do-cartucho, considerada uma das principais pragas do milho. Com um shelf-life de dois anos, o produto usa um baculovírus.
O produto foi desenvolvido a partir de um composto isolado do Baculovirus spodoptera da Embrapa Milho e Sorgo e foi um dos primeiros produtos microbiológicos na linha da Promip.