O setor sucroenergético assiste um possível M&A envolvendo dois gigantes desse mercado. Segundo informações veiculadas pela Bloomberg, a Atvos, produtora brasileira de etanol e açúcar investida do Mubadala Capital, fundo soberano de Abu Dhabi, estaria interessada em adquirir três usinas da Raízen no Mato Grosso do Sul.
Citando uma apuração com três fontes a par do assunto, a Bloomberg ainda acrescentou que o Itaú BBA está assessorando a Raízen.
A empresa do grupo Cosan preferiu não se manifestar, enquanto a Atvos disse que “não comenta eventuais operações financeiras em andamento, mas está sempre atenta a oportunidades de novos negócios”.
A julgar pela estratégia atual das empresas, o negócio pode fazer sentido. Do lado de quem estaria vendendo, a Raízen e sua controladora Cosan, de Rubens Ometto, entraram em 2025 num ritmo diferente.
Além de uma nova fase que engloba alongar o perfil de dívida, emitindo novos bonds e debêntures com vencimento mais longo para fazer caixa e quitar dívidas de curto-prazo, a companhia quer enxugar a operação.
Em fevereiro, durante a coletiva para apresentar seu balanço referente ao ano de 2024, o diretor presidente da Cosan, Marcelo Martins, disse que a companhia e sua principal subsidiária, Raízen, terão de diminuir de tamanho com venda de ativos e que buscarão parceiros para diminuir a alavancagem.
"Há uma mudança de estratégia e clareza no movimento tanto de Cosan como de Raizen, com redução gradual, constante e desejável no endividamento para chegar a zero", afirmou Martins durante a conferência.
Segundo ele, a holding tem um pool de ativos que pode ser vendido, entre eles o Porto São Luís, no Maranhão, além de terras da subsidiária Radar, e usinas da Raízen, joint venture com a Shell, com 44% de participação para cada companhia.
Por mais que essa estratégia tenha começado com ativos que não fazem parte do core business, que é a produção de açúcar e etanol, a empresa também vê uma oportunidade de enxugar até essas operações.
E é aí que entra a venda das três usinas no Mato Grosso do Sul, mais distantes das principais regiões produtoras da Raízen no estado de São Paulo, o que as tornariam menos atraentes em termos de racionaloização de custos de produção.
Do lado da Atvos, a aquisição poderia ajudar a companhia em duas avenidas de crescimento. A primeira é no negócio principal, que é a moagem de cana.
Em setembro do ano passado, o CTO da empresa, Alexandre Maganhato, disse ao AgFeed que a companhia pretende ampliar sua moagem de 30 milhões de toneladas de cana por ano para 40 milhões de toneladas anuais. Isso num universo de três anos.
A compra de três usinas poderia suprir essa produção, já que a Raízen estima que no estado sul-mato-grossense a moagem fica em 10 milhões de toneladas por ano-safra, mesmo com uma capacidade até maior, estimada em 30 milhões de toneladas.
Somado a isso, a Atvos sinalizou R$ 350 milhões em investimentos para uma unidade de produção de biometano justamente no Mato Grosso do Sul. A sede do projeto ficaria em Nova Alvorada do Sul, onde a companhia já possui uma usina de produção de etanol.
A localização corrobora a oportunidade de compra. Hoje, duas das três unidades da Raízen no estado estão no município de Rio Brilhante, a menos de 50 quilômetros de Nova Alvorada do Sul, um trajeto de menos de uma hora de carro.
A outra usina da companhia está na cidade de Caarapó, a 160km de distância de onde a Atvos pretende instalar a planta de biometano. Mais longe que as demais, mas ainda perto, dadas as proporções continentais do estado.
A Raízen comprou as usinas por R$ 3,6 bilhões em 2021 da Biosev. A negociação envolveu uma combinação entre troca de ações e o pagamento para refinanciamento da dívida da Biosev, subsidiária da Louis Dreyfus Company.