A empresa canadense de biotecnologia Lallemand ganhou recentemente um importante reforço para alavancar seus negócios ao redor do mundo – e também no Brasil.
Em junho do ano passado, a empresa comprou a divisão de enzimas bioenergéticas da Basf, com sede em San Diego, nos Estados Unidos, com quem a Lallemand já mantinha uma parceria para trocas de informações sobre desenvolvimento de enzimas em leveduras ou moléculas individuais.
O investimento faz parte de um projeto maior da Lallemand Biofuels & Distilled Spirits (LBDS), divisão de biocombustíveis da companhia canadense, que, nos últimos 15 anos, afirma ter investido cerca de U$$ 100 milhões (R$ 570 milhões, no câmbio atual) para o desenvolvimento de sua tecnologia.
Os detalhes da operação não foram revelados, mas o investimento foi feito de olho na expansão para o mercado de enzimas para o mercado de etanol de milho no mundo – e, particularmente, no Brasil.
No processo industrial de fabricação de biocombustíveis, as enzimas para quebrar o amido do milho e transformá-los em açúcares utilizados na fermentação, que gera o etanol.
“Nós fazemos isso hoje através da expressão de enzimas por levedura, e não da molécula individual, e sentimos essa necessidade com o crescimento do setor de etanol de milho”, diz Fernanda Firmino, vice-presidente de biocombustíveis Lallemand para a América do Sul, em entrevista ao AgFeed .
“As enzimas são um produto fundamental. Não existe etanol de milho se não tiver alfa-amilase, que é uma dessas enzimas”.
Com as leveduras “de alta performance” produzidas pela Lallemand, há, segundo a empresa, uma necessidade menor de utilização de enzimas – e também um ganho de rendimento estimado entre 4% a 6% na produção de etanol.
A aquisição da área de enzimas da Basf vem para atender a quantidade de enzimas que ainda precisam ser adicionadas ao processo e também para fornecer enzimas de liquefação, que não podem ser obtidas a partir das leveduras e fazem parte do processo produtivo dos biocombustíveis.
“As enzimas são um produto essencial na produção e hoje representam 80% do custo de insumos total”, afirma a vice-presidente de biocombustíveis da Lallemand.
Econômica nos detalhes, Firmino diz que novas leveduras e novas enzimas produzidas pela Lallemand devem chegar no mercado brasileiro entre 2025 e 2026.
“Dentro do Brasil, especificamente, com essa unidade de biocombustíveis, temos vários produtos de alta performance, portfólios que estão chegando e que creio que vão trazer um impacto muito grande no setor”, afirma a executiva.
As enzimas não são produzidas no Brasil e vêm de unidades da Lallemand de países como Estados Unidos e México. Já as leveduras são fabricadas nacionalmente, em uma planta da companhia localizada em Piracicaba, cidade do interior de São Paulo.
Não há impeditivo tecnológico para a produção das enzimas no Brasil, diz Firmino, e a Lallemand não descarta a possibilidade de produzi-las por aqui – ainda que não exista nenhum plano concreto no momento.
“Por enquanto, estamos nessa fase de primeiro entender o portfólio, aprimorar para o que a gente precisa, distribuir, e depois avançar para outra etapa”, afirma Firmino.
A empresa diz que possui atualmente 40% do market share do mercado de biotecnologia no etanol de milho e 20% no mercado de cana de cana no país.
No Brasil, a empresa atende as grandes empresas do setor sucroalcooleiro, como Raízen, Atvos e BP Bioenergy.
Fundada ainda no século XIX, com sede no Canadá e presente em 50 países, a Lallemand fez seu primeiro desenvolvimento de cepas para o etanol de segunda geração em 2012, em uma unidade de pesquisa e desenvolvimento em New Hampshire, nos Estados Unidos.
No mercado nacional, a companhia atua desde 2016, fornecendo inicialmente insumos para o etanol produzido a partir da cana-de-açúcar e, a partir de 2019, para o etanol de milho.
Além do negócio de biotecnologia para biocombustíveis, a empresa também possui outras divisões de negócios, fornecendo insumos para a fabricação de produtos de panificação, vinhos, cervejas, café e cacau.
A empresa também produz defensivos biológicos em uma unidade em Patos de Minas (MG) e tem uma divisão dedicada à nutrição animal, instalada em em Goiânia (GO).