O mercado global de biocontrole, bioestimulantes e biofertilizantes atravessa um período de inflexão estratégica após registrar seu pico histórico em 2022.

Um levantamento da DunhamTrimmer, agência de inteligência de mercado especializada em insumos biológicos, mostra que o setor acumulou 597 transações entre 2013 e 2024, com média de 49 operações anuais.

Desse total, 222 foram fusões, aquisições, joint ventures ou aportes de investidores, 212 envolveram acordos de distribuição e 161 se concentraram em parcerias de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) e manufatura.

O ano de 2022 marcou o ápice com 82 operações — incluindo 32 de M&A (fusões e aquisições, na sigla em inglês) e investimentos diretos. No entanto, o volume total recuou para 62 em 2023 e 48 em 2024, queda de 41%.

As aquisições despencaram de 32 para apenas 17 no período — o menor patamar desde 2017. Enquanto isso, acordos de distribuição emergiram como estratégia preferencial nos últimos dois anos.

“Acredito que os investidores hoje não estão atrás de tamanho ou manchetes; eles buscam empresas com governança sólida, finanças robustas e vantagem competitiva tangível”, afirmou Ignacio Moyano, vice-presidente de desenvolvimento de mercado para América Latina da DunhamTrimmer.

“Biotecnologia e bioinsumos se tornaram alvos centrais precisamente porque combinam inovação com potencial de escala”, disse o executivo.

A mudança de postura reflete o aperto nas condições de crédito global e a maturação do mercado, que deixa de ser território de apostas especulativas para exigir due diligence rigorosa e comprovação de eficácia. Em vez de aquisições custosas, multinacionais optam por contratos de distribuição para acessar inovação e testar mercados antes de compromissos acionários profundos.

Moyano destaca que a velocidade das transações é definida pela preparação. “Quando os números são claros, a governança é estruturada e os processos bem documentados, os negócios podem fechar em menos de um ano. Por outro lado, registros fracos e dados dispersos retardam tudo”, ressaltou.

Nos últimos anos, o setor exibiu duas forças paralelas: consolidação entre grandes distribuidores multinacionais em busca de capilaridade e especialização via negócios com startups focadas em biofertilizantes e biocontrole. Casos como o movimento da Corteva com a PunaBio ilustram esse “prêmio de inovação”.

Brasil: mercado gigante ainda na infância

Rick Melnick, COO e Managing Partner da DunhamTrimmer, ressalta que a transformação do setor de bioinsumos faz parte de um reposicionamento global. Enquanto Europa e América do Norte apresentam maturidade com crescimento moderado, a América Latina permanece como um dos mercados de expansão mais rápida.

“O mercado brasileiro já é enorme, mas ainda está em sua infância”, explica Melnick. “Muitos players por lá ainda estão encontrando seu caminho, e o sucesso é praticamente impossível sem expertise local e representação. É por isso que a chegada de Ignacio Moyano à DunhamTrimmer foi um encaixe tão perfeito.”

A vasta área cultivada, complexidades únicas de solo e pragas, e políticas governamentais de adoção criam um ambiente promissor e intrincado que exige conhecimento local profundo. Melnick afirma que a DunhamTrimmer se posicionou em dois pilares únicos: estratégia de go-to-market e due diligence.

“Somos frequentemente a primeira ligação que grupos de investimento fazem quando precisam avaliar uma oportunidade de M&A no espaço de biológicos”, diz. “Mas, igualmente importante, ajudamos clientes a refinar sua estratégia para entrada em mercados, especialmente na América Latina, onde timing e posicionamento fazem toda a diferença.”

A DunhamTrimmer segmenta as operações em quatro categorias: aquisições (entrada inorgânica em segmentos específicos), parcerias de distribuição (acesso a inovação sem controle acionário), parcerias de co-desenvolvimento (sinergias entre multinacionais) e parcerias de P&D (escalabilidade comercial para inovadores).

Essa diversificação reflete a complexidade crescente do setor, onde inovação tecnológica precisa ser combinada com capacidade regulatória, logística e comercial.

Perspectivas

Olhando para o futuro, Moyano prevê mais disciplina: "Investidores querem empresas resilientes e comprovadas, não fogos de artifício. Parcerias e joint ventures ganharão força, permitindo compartilhamento de riscos."

A desaceleração nas aquisições sinaliza amadurecimento, não esfriamento. O próximo ciclo deve ser marcado por operações menores, mais estratégicas e tecnicamente fundamentadas — onde inovação comprovada e capacidade de execução falarão mais alto que volume de capital.

A DunhamTrimmer estará presente na ABIM 2025 (Annual Biocontrol Industry Meeting), o principal fórum mundial da indústria de proteção de cultivos biológica, que acontece entre os dias 20 e 22 de outubro em Basileia, na Suíça. A expectativa é de que, no evento, divulgue novos dados sobre o setor.

“Este é o evento onde nos conectamos pessoalmente com nossos clientes europeus e internacionais”, observa Melnick, que participa desde 2010. “Na ABIM, empresas vêm até nós buscando orientação sobre estratégia, desenvolvimento de produtos e aquisições. As conversas que iniciamos lá frequentemente definem os projetos que moldam a proteção de cultivos biológica nos anos seguintes.”

Resumo

  • Um levantamento da agência DunhamTrimmer, especializada em insumos biológicos, cosntatou que a movimentação de fusões e aquisições no setor de bioinsumos desacelerou globalmente entre 2022 e 2024
  • Depois de ter atingido o ápice em 2022, com 82 operações, o volume de M&As e investimentos diretos no setor recuou para 48 operações no ano passado, queda de 41%
  • As aquisições em si despencaram de 32 em 2022 para apenas 17 no ano passado, o menor nível desde 2017