Uma das novas fronteiras agrícolas que estão sendo desbravadas pelos produtores rurais brasileiros, o estado de Roraima viveu um dia histórico nesta sexta-feira, dia 10 de outubro.
O grupo Amaggi, um dos maiores conglomerados agroindustriais do Brasil, deu início às operações de uma estação de transbordo de cargas em Caracaraí (RR), a 140 km da capital do estado, Boa Vista, com o envio dos primeiros embarques com cargas de soja via fluvial com destino ao terminal da empresa em Itacoatiara (AM), cidade da Região Metropolitana de Manaus. A ideia é que a companhia passe a substituir o transporte rodoviário pelo fluvial.
A autorização especial para operação imediata foi concedida na quinta-feira, dia 9 de outubro, pela Agência Nacional de Transportes Aquaviário (Anaq) para carregamento do primeiro comboio na estação de transbordo.
A permissão vem em um momento importante, pois a safra de soja de Roraima acaba de se encerrar, possibilitando o envio dos grãos que acabaram de ser colhidos – a temporada no estado segue o calendário dos Estados Unidos, indo de abril a setembro, uma vez que o estado está acima da linha do Equador.
A construção da estação de transbordo em Roraima tem investimentos estimados em R$ 100 milhões por parte da Amaggi, que está fazendo o investimento na tentativa de trazer mais eficiência para a operação em Roraima – hoje, a empressa é responsável por 60% da originação de grãos no estado, estimada em 650 mil toneladas.
A produção adquirida dos agricultores de Roraima pela companhia até então seguia pelo modal rodoviário até Manaus (AM), para depois continuar por hidrovia. O trecho tem 763 km de estradas ruins, atravessando reserva indígena.
Agora, com a nova rota, as cargas de grãos percorrerão cerca de 155 km por estrada até Caracaraí, em Roraima, e depois mais 905 km via fluvial pelos rios Branco e Amazonas até chegarem à Itacoatiara, em Amazonas, onde a Amaggi já opera um terminal portuário próprio.
“No Sul de Boa Vista é onde tem condição de chegar navegando e sair navegando. Vai pelo rio Branco, até Manaus, e pelo Amazonas até Itacoatiara”, explicou Ricardo Tomczyk, diretor de relações institucionais da Amaggi, em entrevista ao AgFeed, em junho deste ano.
O novo corredor logístico pode representar redução de 74% do transporte de grãos no trecho rodoviário, além de permitir o uso de balsas com capacidade para transportar o equivalente a 40 caminhões, ou cerca de 2 mil toneladas de grãos.
Em junho passado, Tomczyk disse ao AgFeed que a operação era um piloto e que a Amaggi tinha a ideia transportar entre 60 mil e 70 mil toneladas pelo rio Branco.
“Com o tempo, queremos substituir todo o fluxo por navegação, mas tem que começar e aprender ali ainda, porque é uma novidade”, afirmou Tomczyk. Se der certo, a rota deverá ser usada também para levar calcário e fertilizantes e abastecer os produtores da região.
No passado, o terminal de Itacoatiara, que vai receber as cargas de Roraima, também foi considerado uma “ousadia logística” da Amaggi. Na época, a produção de Sapezal (MT) dependia de transporte rodoviário por mais de 2 mil quilômetros, passando por estradas de terra e reservas indígenas, até chegar ao Porto de Santos.
A companhia, então, arriscou o escoamento pelo Norte, passando a levar por barcaças pelo rio Madeira, a partir de Rondônia, as cargas de grãos produzidos em Mato Grosso até um terminal privado, em Itacoatiara, que hoje é um porto que atende também outras tradings.
Resumo
- Amaggi inicia operação de estação de transbordo em Caracaraí (RR), abrindo um novo corredor logístico fluvial para o escoamento da soja até Itacoatiara (AM)
- Investimento de R$ 100 milhões deve reduzir em até 74% o transporte rodoviário, substituindo trechos precários por navegação pelos rios Branco e Amazonas
- Companhia, responsável por 60% da originação de grãos no estado, aposta no modal fluvial para levar também insumos como calcário e fertilizantes