Depois de uma sequência de trimestres difíceis, as empresas do setor de distribuição de insumos têm se empenhado em reunir dados que apontem para uma luz no fim do túnel. Axel Labourt e Eron Martins, que são, respectivamente, CEO e CFO do grupo AgroGalaxy, acreditam que ela já é visível – e contam os meses para o momento que, acreditam, a retomada virá.

“O ano estará concentrado no terceiro e no quarto trimestres”, afirmou Labourt, nesta quarta-feira, 15 de maio, ao comentar os resultados da empresa no primeiro quarto de 2024.

“Uma relação de troca mais saudável e a perspectiva de uma condição climática mais favorável para o Brasil devido ao La Niña nos leva a crer que a fase de recuperação poderá começar a partir do segundo semestre”.

Não se esperava muito do início de 2024 e, de fato, não houve surpresas. No caso do AgroGalaxy, boa parte da conversa dos executivos com jornalistas para tratar do balanço trimestral foi, mais uma vez, dedicada a apontar os impactos do plano de reorganização da empresa, uma das primeiras a tratar publicamente, em 2023, dos efeitos da queda dos preços dos insumos e do excesso de estoques sobre o setor.

“Foi esse trabalho que nos permitiu estarmos preparados para enfrentar um período como esse, que já esperávamos”, disse Martins. Assim, a receita líquida (de R$ 1,6 bilhão) 43% inferior ao primeiro trimestre de 2023, com 56% de queda nos insumos comercializados e de 25% na receita com grãos, foram previsivelmente lançados na conta da conjuntura adversa atravessada pelos produtores rurais brasileiros.

“O primeiro semestre é sempre devagar, mas este ano o que acontece sempre está ainda mais acentuado”, avaliou Labourt. Segundo ele, os investimentos dos produtores nos pacotes tecnológicos para o cultivo da safrinha de milho, por exemplo, serão 30% inferiores aos do ano passado e as compras dos insumos para a safra 2024/2025 estão 20 pontos percentuais aquém do que ocorreu no ciclo anterior.

Para ele, o novo comportamento, mais imediatista, dos agricultores é um efeito duradouro do baque sentido com a reversão de mercado entre 2022 e 2023, que corroeu as margens em culturas como a de soja.

Os indícios de melhora estão postos, segundo ele. “Com a relação de troca atual, o produtor pode obter rentabilidades entre 20% e 30%”, disse. Mas a cautela tem sido mais forte e as compras só virão na hora em que a necessidade impuser, avaliou.

Dessa forma, a companhia garimpou, no balanço, dados positivos para destacar, como, por exemplo, o aumento da participação do segmento de especialidades no faturamento com insumos, de 8,2% para 11,5%.

Isso ocorre em função da estratégia da empresa de incentivar vendas de produtos com maiores margens e tirar o pé daqueles que trazem menor contribuição aos resultados, com fertilizantes puros, cuja participação caiu de 29% para 24,5% da receita de insumos.

O negócio de grãos, que gera receita mas praticamente não oferece margens à companhia, até cresceu em volume, mas com a queda dos preços das commodities, o impacto desse aumento no balanço foi um comprometimento na margem bruta, que caiu de 9,2% para 6,2%. “Foi uma redução mecânica”, classificou Martins. “Com mais grãos e menos insumos, isso acaba acontecendo”.

Um dos esforços que o AgroGalaxy tem feito para recuperar as margens é o estímulo a operações de barter, que permitem negociações mais favoráveis na troca de insumos pela produção de seus clientes. Segundo a empresa, houve um aumento de 60% na demanda por essa modalidade de transação comercial.

“A gente preparou a empresa e estamos firmes depois desse trimestre”, afirmou o CFO. Desde que iniciou o processo de reorganização dos negócios, destacou, a empresa conseguiu uma redução de 24% (ou R$ 200 milhões) em suas despesas gerais, sendo cerca de R$ 40 milhões no primeiro trimestre de 2024.

O nível de inventário também foi reduzido em 48% para um patamar considerado saudável pelos gestores da empresa. “Isso tem um impacto significativo na eficiência de capital de giro e nos permite negociar de forma mais positiva junto aos fornecedores”, disse Martins.

O quadro de funcionários foi enxugado em mais de 600 posições, caindo de 2,5 mil para 1,9 mil. Já as dívidas, de acordo com o executivo, estão no mesmo patamar de R$ 1,8 bilhão, mas melhor distribuídas entre curto e longo prazos, sobretudo após o waiver obtido junto a credores em fevereiro passado.

“Já fizemos toda a equalização olhando para o segundo semestre de 2024”, afirmou Martins. “E o olhar é positivo”.