A gigante americana AGCO tem um plano. Onde houver uma máquina agrícola, independente da marca, ela quer estar presente, fazendo a conexão entre ela e o mundo digital.
E tem apetite para investimentos que a levem a cumprir esse objetivo. Esta semana, por exemplo, a companhia americana – dona das marcas Massey Ferguson, Fendt, Valtra, GSI e Precision Plant – aproveitou os holofotes da Agritechnica, maior feira do setor de máquinas agrícolas do mundo, realizada em Hannover, na Alemanha, para anunciar mais dois movimentos nesse sentido.
Primeiro, foi o anúncio da compra da alemã FarmFacts, subsidiária do grupo Baywa voltada para o desenvolvimentos de sistemas de gestão de informação no campo. Um dia depois, a AGCO anunciou a criação de um corporate fund para investimentos em startups de tecnologia agrícola em estágio inicial.
O fundo Agco Ventures, com será chamado, tem como objetivo fazer aportes para impulsionar inovações que se alinhem com os interesses digitais da empresa, incluindo sistemas de agricultura de precisão e fontes alternativas de combustível, segundo a empresa.
Segundo o anúncio, o AGCO Ventures tem mandato também para investir em outros fundos de venture capital, incubadoras, aceleradoras, além de instituições de pesquisa e ensino superior.
Os dois anúncios da semana estão interligados, já que a FarmFacts atua com softwares que agricultores e prestadores de serviços utilizam para gerar planos de ação de campo, como mapas de prescrição e linhas de orientação.
A nova empresa da AGCO oferece uma série de soluções que vão de documentação a ferramentas de gerenciamento de fertilizantes. Segundo a companhia americana, o acordo expandirá o portfólio de software e as capacidades de desenvolvimento da AGCO para melhor atender às necessidades dos agricultores.
Os valores e termos da compra da FarmFacts não foram divulgados, assim como a dotação do novo fundo. “A compra das operações digitais da FarmFacts é uma adição estratégica às nossas capacidades de agricultura de precisão”, afirmou Seth Crawford, vice-presidente sênior e gerente geral da Precision Ag & Digita, em comunicado.
De acordo com o analista Shane Thomas, do UpStream Ag Insights, a estratégia da AGCO segue em direção oposta a de sua principal concorrente, a também americana John Deere, que tem investido em soluções digitais proprietárias para suas máquinas.
A dona da Massey vislumbra, além de suas máquinas, oportunidades de mercado no chamado retrofit. Segundo Thomas, a empresa avalia que só 7% dos agricultores em nível global trocam de máquinas agrícolas anualmente, preferindo investir em atualizações das já existentes.
Com isso, haveria um mercado de cerca de US$ 150 bilhões para sistemas que promovessem upgrades tecnológicos em máquinas mais antigas.
Nesse sentido, a aquisição da Trimble por US$ 2 bilhões, anunciada em setembro deste ano, foi um passo determinante. A compra, maior da história do grupo, envolve os ativos e tecnologias da divisão agrícola da gigante americana da área de tecnologias de automação, cujos produtos já eram desenhados com uma visão agnóstica, podendo ser instalados em equipamentos de qualquer montadora.
Thomas avalia que as concorrentes como a John Deere e também a CNH, que estavam muito mais focadas em novos equipamentos, estão um passo atrás para atuar com esse tipo de modernização e que os agricultores ainda estão “receosos em mergulhar profundamente na automação, na inteligência artificial e em programas de software agrícola”.
Thomas cita ainda um artigo publicado no The Wall Street Journal, em que o vice-presidente da John Deere, Than Hartstock, cita que mesmo que uma tecnologia retrofit não tenha a mesma eficácia, pode custar metade do preço em comparação com uma nova instalada de fábrica em uma máquina mais recente.
“Existe uma realidade de que a busca pela perfeição pode ser inimiga do ‘bom suficiente’ em termos de desempenho”, analisa Shane Thomas.
O apetite da AGCO em investimentos tem suporte do bom desempenho operacional e financeiro em 2023. No terceiro trimestre deste ano, por exemplo, as vendas da AGCO subiram 10% frente ao ano anterior e bateram os US$ 3,5 bilhões.
De acordo com a empresa, o resultado foi impulsionado por uma forte demanda por tratores de alta potência e margens mais altas na América do Sul. O lucro líquido totalizou US$ 280,6 milhões no período, um aumento de 18% em relação ao ano passado.
Na Bolsa de Nova Iorque (NYSE), onde a empresa tem capital aberto desde 1992, as ações já valorizaram mais de 2000% desde o IPO. Neste ano, o papel acumula uma baixa de 15,3%. Desde o anúncio da compra da FarmFacts e da criação do fundo, o papel subiu 1,27%.