Se de um lado os governos e grandes empresas firmaram compromissos e políticas públicas dispostas a fomentar um mercado de grãos agrícolas mais sustentáveis, do outro lado da equação, a parte financeira ainda carece de impulsos.
De alguns meses para cá, contudo, alguns arranjos criados estão dispostos a mudar essa realidade. Nesta segunda-feira, 19 de agosto, a megatrading americana ADM e a agtech Farmers Business Network (FBN) anunciaram a criação de uma empresa que conectará compradores a produtores rurais que utilizam práticas sustentáveis e regenerativas no manejo.
A nova companhia, que possui uma composição acionária dividida por igual entre os criadores, irá expandir a plataforma Gradable, que já existe desde 2020 e faz parte do ecossistema da FBN.
A plataforma ajuda os agricultores a rastrear práticas e mensurar resultados da agricultura regenerativa no campo. Ao mesmo tempo, conecta compradores de grãos com dados que os ajudam a localizar e comprar mais produtos considerados mais sustentáveis.
Na ponta dos compradores, a Gradable fornece dados minuciosos sobre a produção na fazenda. Até agora, a plataforma já tem como parceiros, além da ADM, as americanas Poet, de biocombustíveis, e a Attebury Grain, de logística para o agro.
No comunicado oficial, a ADM pontuou que a Gradable é uma plataforma líder de aquisição de grãos na América do Norte, com mais de 20 mil usuários agricultores em mais de 12 milhões de acres, algo em torno de 4,8 milhões de hectares.
Antes mesmo da joint venture, a ADM já era parceira da FBN. Há alguns anos, comprou parte da agtech avaliada em quase US$ 4 bilhões (o que a torna um unicórnio) em sua última rodada de investimentos.
No final do ano passado, as empresas firmaram uma parceria para ajudar agricultores que gostariam de migrar para uma agricultura regenerativa.
Desde 2020, foram 200 milhões de bushels de milho e soja comercializados na plataforma, que alega ter movimentado US$ 30 milhões em incentivos financeiros para as práticas sustentáveis por ano.
Agora, as parceiras decidiram transformar a Gradable num negócio à parte. “A nova joint venture permitirá que a Gradable se expanda e alcance novos parceiros e clientes em todos os estágios da cadeia de suprimentos de grãos – de produtores a compradores de grãos”, afirmou a ADM, em nota.
O CEO da empresa será Steele Lorenz, que estava há seis anos na FBN. A Gradable se posicionará em todas as instalações da ADM nos EUA e no Canadá, a fim de aumentar o número de parceiros comerciais e países atendidos.
“Teremos a capacidade para ajudar a cadeia de suprimentos a atender às necessidades globais de demanda por alimentos, rações, combustíveis e produtos industriais mais sustentáveis”.
Também em nota, Greg Morris, presidente do negócio de serviços agrícolas e sementes da ADM, afirmou que a operação de agricultura regenerativa da ADM somou 1,1 milhão de hectares no ano passado, e que isso é “só o começo”.
“Esta nova joint venture abre caminho para o crescimento contínuo da Gradable, abrindo as portas para que ainda mais agricultores, parceiros comerciais de grãos e clientes finais se beneficiem das práticas de agricultura regenerativa e da crescente demanda por produtos de origem sustentável”, afirmou Morris.
Desde sua criação em 2014, a FBN já levantou US$ 870 milhões em investimentos. Em sua última rodada, feita em 2021, arrecadou US$ 300 milhões.
Além da ADM, a FBN conta com investidores de peso como a BlackRock, Temasek (fundo soberano de Cingapura) e a brasileira Mandi Ventures, de Antônio Moreira Salles, Raffael Teruel e Julio Benetti.
A presença dos brasileiros ajudou a agtech a dar seus primeiros passos no mercado nacional. Por aqui, Felipe Yazbek é o responsável por desenvolver negócios no País desde então.
A companhia nasceu como uma distribuidora de dados e depois de alguns anos, se tornou um importante player do setor de insumos para EUA, Canadá e Austrália. Na plataforma de analytics, a empresa reúne informações de máquinas e satélites e compara a produção de produtores.
Nos insumos, atua como um marketplace que vende produtos próprios. A empresa passou a se tornar produtora de insumos quando grandes produtores desses produtos passaram a dificultar as vendas para a FBN.
Nos últimos anos, se expandiu para se tornar um balcão único de serviços para produtores, incluindo seguros e empréstimos na prateleira.
No começo deste ano, trocou de CEO e nomeou Diego Casanello, executivo que ficou mais de 20 anos na Basf liderando unidades de negócios em quatro continentes, para o cargo. Ele assumiu a posição de Amol Deshpande, um dos cofundadores da FBN.