As ações da Raízen derreteram nesta segunda-feira na B3 e tiveram queda de 5,39%, a R$ 1,93, mínima histórica do papel no fechamento.

Desde a oferta pública de ações, em 2021, a companhia que tem Cosan e Shell como maiores acionistas, com 44% cada, perdeu 70,65% do valor. Na mesma linha, as ações da Cosan recuaram 6,82%, a R$ 7,64, também os menores valores para a companhia.

A forte queda ocorre após a Raízen comunicar que, a partir da safra 2025/2026, com início em 1º de abril de 2025, a planta pioneira de etanol de segunda geração (E2G) na Usina Costa Pinto, em Piracicaba (SP), “terá sua operação recorrente descontinuada”. Segundo a empresa, a unidade “passará a operar como uma unidade dedicada a testes e futuros desenvolvimentos do biocombustível”.

De acordo com a empresa, que trata a usina como unidade piloto, a planta “passou por diversas transformações para aprimoramento e desenvolvimento da tecnologia de produção de E2G, replicada em escala comercial”.

Essa tecnologia é adotada na usina Bonfim, em Guariba (SP), a única em operação, e será aplicada nas unidades E2G da Univalem, em Valparaíso (SP), e Barra, em Barra Bonita (SP), ambas em construção.

Além da descontinuidade da operação na planta de E2G, em outro comunicado a Raízen divulgou prévia operacional na qual aponta queda de 26,6% na moagem no terceiro trimestre de 2024/2025, para 13,8 milhões de toneladas de cana.

Para completar o cenário negativo ao mercado, a empresa informou que decidiu descontinuar a divulgação das projeções financeiras referentes ao ano-safra 2024/2025 “em razão da performance observada até o momento e das mudanças em curso na companhia”.

Os resultados do terceiro trimestre do ano-safra, entre outubro e dezembro de 2024, serão divulgados em 14 de fevereiro. Mesmo entrando em período de silêncio apenas no dia 31 de janeiro, as empresas informaram que não farão pronunciamentos adicionais aos comunicados.

Segundo analistas, o fechamento da unidade de E2G e as “mudanças em curso na companhia” são mais sinais para o mercado das dificuldades da Raízen para reduzir o endividamento e para manter investimentos e o cronograma no projeto de etanol celulósico.

“O retorno mudou, né? Quando começou o projeto, a gente estava num momento de juros completamente diferente do que a gente está na agenda agora”, disse um analista ao AgFeed.

O projeto E2G da Raízen previa 20 unidades para produção do biocombustível a partir da celulose até 2030, incluindo a unidade pioneira fechada. Mas cumprir essa meta parece ser cada vez mais difícil, diante de atrasos na construção do cenário macroeconômico de juros.

O mercado aposta em freios e atrasos para cumprir o cronograma, mas não na interrupção do projeto E2G. “Eles talvez devam esticar um pouquinho mais os projetos para frente mas a agenda está lá ainda. Eles acreditam ainda na agenda da E2G, eles vão continuar fazendo”, disse o analista.

Para Gabriel Barra, responsável por agronegócio, petróleo e gás no Citi Brasil, a Raizen está passando por um processo de ajuste importante. Segundo ele, as vendas de ativos para reduzir endividamento são “uma volta à essência” da companhia controlada pela Shell e Cosan, reavaliando o portfólio.

Ele cita o avanço da Raízen para Argentina e Paraguai, “um crescimento exponencial nos investimentos, não só na renovação de canavial, para melhorar a produtividade”, e também no aumento de investimento ali no E2G e no biogás.

“Acho que agora eles estão repensando o modelo de negócio, de uma forma positiva, focando realmente em uma divisão forte, que era a distribuição de combustível, açúcar e etanol, que eles sempre fizeram muito bem”, concluiu Barra, do Citi Brasil.

Em um relatório divulgado a clientes, o BTG Pactual considerou que os números da prévia operacional colocam os lucros da empresa sob pressão.

De acordo com Thiago Duarte, analista do banco que assina o documento, o mercado olha com muita atenção a alavancagem da Raízen, considerando um ponto de atenção para todo o mercado.

No último balanço trimestral divulgado pela companhia, a alavancagem estava na casa de 2,6 vezes, na relação entre dívida líquida e Ebitda ajustado, em uma trajetória de alta até o terceiro trimestre de 2024.

“A Raízen é uma empresa que precisa voltar ao básico após uma série de mudanças na equipe e na alocação de capital da companhia. Até mesmo o E2G, anteriormente o principal impulsionador de crescimento da Raízen, está sendo repensado”, pontuou Duarte, em linha com a avaliação de Barra, do Citi Brasil.

(com reportagem de Gustavo Lustosa)