Depois de conquistar mais de um milhão de hectares nos EUA e ter levantado mais de US$ 150 milhões com investidores peso-pesado do agro, a startup Sound AG está de olho no Brasil.
Em entrevista ao AgFeed, o CEO da empresa, Adam Litle, afirmou que a empresa aguarda as aprovações regulatórias para poder vender seu produto, o Source, no País.
O Source é um ativador de solo que, segundo Litle, consegue “acordar” cerca de 200 espécies de micróbios já contidas abaixo da terra e, com isso, aumentar a produtividade de culturas como soja, milho e algodão.
Na prática, a empresa consegue estimular a fixação de nitrogênio no solo e também melhorar os ciclos do fósforo, explica.
A aplicação é simples, de acordo com o executivo, e o Source pode ser misturado em tanques agrícolas com outros fertilizantes. “Entre 70 e 150 mililitros por hectare”, diz.
Ao mesmo tempo em que otimiza o solo, também torna a aplicação de fertilizantes mais eficiente e, por consequência, ajuda o produtor a diminuir o uso desses produtos.
Litle afirmou que nos últimos anos, tem viajado “a cada seis meses para o Brasil”, se preparando para esse momento de entrada oficial da Sound AG por aqui.
Adam Litle é CEO da Sound AG desde 2020. Antes, atuava na Granular, uma agtech de São Francisco, na Califórnia, que foi comprada pela DuPont e depois incorporada na Corteva após a fusão com a Dow, em 2017.
Na época, a companhia pagou US$ 300 milhões pela startup, fazendo da Granular um dos primeiros grandes deals do ecossistema agtech no mundo.
Litle atuou por mais alguns anos na empresa após a venda antes de se tornar CEO da Sound AG. O executivo se considera um empreendedor em série e, antes dessa jornada, ocupou cargos de diretoria na Codexis, uma empresa de biotecnologia que atende às indústrias de ciências biológicas e alimentícias, e na Solum, de agricultura de precisão.
Seu primeiro cargo profissional foi como banqueiro de investimento no Barclays Capital, trabalhando em fusões e aquisições e financiamentos no setor da saúde.
Desde sua chegada, a Sound AG se transformou. “Estávamos iniciando uma fase comercial e gerando receita pela primeira vez em 2020. Antes disso, a Sound AG era uma organização de pesquisa e desenvolvimento, sempre focada em biotecnologia”, explica.
A empresa, que tinha cerca de 20 funcionários, hoje possui mais de 100 e o que eram testes de campo agora são 1 milhão de hectares nos EUA. Atualmente, o faturamento da empresa está na casa dos US$ 20 milhões.
Os primeiros passos no Brasil
Em terras brasileiras, a empresa já atua desde 2021 fazendo testes e a expectativa de Litle é entrar comercialmente no País, a depender das aprovações regulatórias, já em 2025, na safra atual.
Em fevereiro deste ano, contratou sua primeira funcionária no Brasil: a agrônoma Larissa Rossini, ex-Biotrop, que tem ajudado a Sound AG em todos aspectos operacionais, jurídicos e regulatórios, bem como prospectando vendas. “O próximo passo talvez seja contratar um gerente geral”, afirmou o CEO.
Nos EUA, a empresa atua com as principais culturas: soja, milho, algodão e trigo.
Litle cita que o foco no Brasil será nas culturas de soja, milho e algodão, com testes se iniciando também na cana de açúcar. “Eventualmente também podemos ir para o café, mas vamos começar com as principais culturas do país em tamanho”.
O executivo sonha alto e vê espaço para a Sound AG atuar nos mais de 100 milhões de hectares dedicados a essas culturas no País.
“Há uma grande oportunidade de mercado para aumentarmos a produtividade e tornarmos os fertilizantes mais eficientes no Brasil”, afirma.
Desde que chegou no Brasil em 2021, a empresa percebeu, por meio de algumas parcerias com consultores que aplicavam o produto em uma escala pequena, que o Source funcionava da mesma forma ou até melhor do que nos EUA, pelo fato de o solo brasileiro ter condições melhores nutricionais.
“É quase como se esse produto fosse feito para os solos brasileiros”, pontua o CEO.
Na última safra, a empresa já passou a atuar com grandes fazendas, com testes em áreas de 10 hectares, e não só em pequenos talhões. “Notamos aumentos de rendimentos de 7% a 10% na produtividade, chegando até 15% em alguns casos. Isso nos fez contratar o primeiro funcionário no País”.
Até hoje a empresa atuou vendendo os produtos de forma direta para produtores nas fazendas ou para pequenos revendedores, num esquema B2B. A ideia é agora, visando escala global, também atuar no mercado B2C.
Litle mencionou que a empresa assinou há alguns meses um acordo com a Winfield United, segundo maior varejista de insumos dos EUA, para disponibilizar o produto nas lojas.
“Antes de entrar no varejo queríamos desenvolver nossa própria marca e a proposta de valor. Assim nós garantimos que o produto seria usado da forma correta e traria o máximo rendimento possível”.
Investidores de peso
Desde sua fundação em 2013, a Sound AG já levantou US$ 155 em investimentos, sendo US$ 75 milhões em sua última rodada, do tipo Série D, em 2022. A companhia foi criada por dois doutores em biotecnologia: Travis Bayer, que hoje é CTO da empresa, e Eric Davidson, que é o CPO.
O cardápio dos investidores é de dar inveja a muitas empresas. Do lado do agro, a empresa é investida do Leaps, da Bayer, do Syngenta Group Ventures e da Mosaic. Dentre empresas de Venture Capital, a s2g Ventures, a Northpond Ventures e a Cultivian Sandbox.
Além disso, conta com investidores como a Chan Zuckerberg Initiative, criada pelo fundador do Facebook e sua esposa.
Litle afirmou que a empresa não busca novas rodadas num horizonte próximo. “Temos dinheiro por um tempo”. Apesar disso, não descarta a possibilidade caso o investidor ajude a Sound AG a acelerar essa expansão internacional.
“Vejo que tenho alguns investidores do Brasil com potencial interesse, tendo em vista que estamos para entrar no mercado brasileiro. No entanto, estou muito mais interessado em fazer com que um negócio ande com lucratividade e continue a crescer sozinho”, comentou.
Além do Brasil, que é o novo foco da Sound AG, a empresa também está em processo de aprovação regulatória e realizando testes em outros países.
Argentina, China, Canadá, Quênia e algumas regiões da Europa estão na mira, a depender dos órgãos ambientais e ministérios locais. “O Brasil é um pouco mais rápido nesse aspecto”, acredita.