O milho sempre foi uma cultura muito relevante no Brasil e, com o início da produção de etanol que usa o grão como matéria prima, tem ganhado uma importância ainda maior nos últimos anos.
Com isso, aumenta também o interesse em sementes que sejam mais eficientes e principalmente resistentes, para elevar a produtividade.
Esse mercado de desenvolvimento genético de sementes sempre foi dominado por grandes multinacionais. Há seis anos, um profissional que atuou em algumas dessas gigantes globais por 25 anos resolveu desafiar essa hegemonia. Paulo Pinheiro fundou em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, a Shull, que desenvolve e vende sementes híbridas de milho e sorgo.
“Resolvi fazer uma sociedade com um dos ‘papas’ da pesquisa genética de milho, o José de Leon, que foi responsável por essa área na Dow, e, ele morando na Flórida, saiu da aposentadoria para traçar esse caminho”, conta Pinheiro.
O CEO da Shull também passou pela Dow, atuando por 13 anos e chegando a ser presidente do Conselho de Informações sobre Biotecnologia.
Agora, depois de cinco safras trabalhando em pesquisa e também em relacionamento com empresas e produtores rurais e três anos depois de lançar o primeiro híbrido, a Shull projeta chegar a R$ 150 milhões de faturamento no período 24/25.
“Cerca de 80% do nosso faturamento vem de vendas diretas. Nós já temos contratos com empresas globais de biotecnologia e temos um trabalho comercial meio ‘à moda antiga’, desenvolvendo relações de longo prazo com um distribuidor ou cooperativa em cada região”, conta Pinheiro.
A moda antiga citada pelo executivo é um contraponto ao que ele testemunhou enquanto trabalhou em grandes empresas.
“Muitas delas promovem uma competição entre as distribuidoras da mesma região, o que prejudica a atividade. Nós preferimos estabelecer uma relação mais próxima, de confiança”.
O empresário conta que a empresa tem conseguido, aos poucos, convencer o mercado da qualidade das sementes que desenvolve e produz, fazendo frente a empresas como Corteva, Long Ping e Syngenta. São 10 opções de sementes de milho e três de sorgo.
“É um processo que pode levar de dois a três anos e até mesmo problemas climáticos enfrentados pelos produtores nos abrem uma oportunidade, porque eles vão tentar algo novo. A partir daí, é mostrar na prática a qualidade dos híbridos que temos”, diz Pinheiro.
A internacionalização também faz parte dos planos da Shull. Pinheiro conta que já vende sementes no Paraguai e na Bolívia e está iniciando testes na Argentina. “Uma grande sementeira que já trabalha com trigo está realizando os testes com nossa semente de milho nos campos argentinos”.
Pinheiro conta que o principal diferencial das linhagens desenvolvidas pela Shull é a resistência a doenças. “As lavouras de milho têm sofrido muito com o complexo do enfezamento, provocado pela cigarrinha. Nós já temos a comprovação de que as nossas sementes, se não são completamente isentas dos problemas trazidos pela doença, são muito resistentes ao enfezamento”, conta.
A segurança vem também do processo de desenvolvimento e seleção das sementes que vão chegar ao mercado. “Nós começamos as pesquisas com 10 mil híbridos no primeiro ano. Depois de cinco anos, chegamos a uma variedade que, em um escala de 0 a 9, precisa ter 8 de tolerância à doença”, revela Pinheiro.
A tolerância é importante porque o controle da praga, neste caso da cigarrinha, é muito difícil. “Elas são migratórias, podem voltar a qualquer momento”.
O próximo passo da Shull é ir além do milho e do sorgo. “Nós estamos desenvolvendo uma linha para trigo. Deve sair em dois ou três anos”, conta o CEO.