Movimento 1: a JBS anunciou, no final de 2022, a decisão de encerrar as atividades da Planterra Foods, sua fábrica de proteínas alternativas à base de plantas no estado do Colorado, nos Estados Unidos.

Movimento 2: a gigante brasileira anunciou, na semana passada, que construirá a sua primeira fábrica em escala comercial de carne cultivada da sua BioTech Foods, na Espanha.

Aparentemente desconectadas, as duas decisões separadas por poucos meses chamaram a atenção de quem acompanha o setor. Para alguns deles, poderia ser um sinal de que a JBS pode estar recalculando a rota do seus negócios de proteínas alternativas.

Embora ainda modestos diante do gigantismo do segmento de carnes, no qual é líder global, os investimentos da JBS nas novas tendências do mercado de proteínas são relevantes pelo que podem indicar sobre o futuro.

O aporte na nova fábrica, por exemplo, ficará na ordem dos R$ 200 milhões. Quando a obra terminar em 2024, a expectativa é de uma produção anual de mais de mil toneladas dessa proteína cultivada.

Plant based e carnes cultivadas são estratégias diferentes dentro do universo das proteínas alternativas. Enquanto as carnes plant based são formuladas a partir de matéria prima extraída de plantas, como feijões e ervilhas, a carne cultivada é feita em laboratório a partir de células animais. Com isso, a segunda não é um alimento considerado vegano.

Os dois mercados vivem momentos distintos, sobretudo nos Estados Unidos. Depois de anos de crescimento em vendas e apostas generosas de investidores, as vendas de produtos plant based estagnaram e algumas das principais empresas do setor começaram a ter problemas para manter suas operações.

Marcas como Beyond Meat e Impossible Foods, líderes do movimento e em captação, enfrentam críticas e prejuízos, que colocaram em dúvida o retorno dos investimentos recebidos até aqui. O fechamento da Planterra reforçou o sentimento de dúvidas em torno do futuro desse mercado nos Estados Unidos.

Já para o mercado de carnes cultivadas, o horizonte parece mais favorável. Segundo a consultoria McKinsey, o pontecial global é de que atinja 1,5 milhão de toneladas métricas até 2030, numa indústria que pode chegar a US$ 25 bilhões.

No Brasil, o mercado de proteínas alternativas segue aquecido. Segundo dados da agência Euromonitor, o país registrou um crescimento anual de 11,1% nas vendas de produtos substitutos da carne animal nos últimos anos. Além disso, as projeções são de um crescimento de 40% ao ano, nos próximos 5 anos.

Na avaliação de Lucas Bonventi, analista do setor de alimentos da Genial Investimentos, essa iniciativa da JBS é uma estratégia complementar à de produção plant based.

“Vemos as duas alternativas como importantes avenidas de crescimento para a companhia e como meios da JBS atender a demanda global por alimentos”, afirma o analista.

Já analista da Levante Investimentos, João Abdouni, pondera que esse mercado ainda está em fase “embrionária”, e que a JBS ainda está testando onde cada negócio tem mais aderência junto aos consumidores.

“Vejo mais como uma diversificação de portfólio, já que a empresa segue com os negócios plant based. No entanto, esta linha de produtos está focada neste momento na Europa e no Brasil. A empresa fechou a divisão nos EUA mas recentemente, em contrapartida ampliou os produtos deste segmento no Brasil em uma linha da Seara”, comenta Abdouni.

Junto a isso, o investimento de US$ 41 milhões na planta na Espanha ainda é ínfimo comparado ao que a JBS tem gastado nos últimos anos. Em 2022, por exemplo, o capex total da empresa foi na ordem de US$ 2,2 bilhões.

Para esse ano, Bonventi, da Genial, projeta algo em torno de US$ 1 bilhão. Além disso, ele ressaltou que a companhia já anunciou a construção de um centro de biotecnologia e proteína cultivada em Florianópolis, que deve receber um aporte estimado de US$ 60 milhões.

“Embora não sejam valores insignificantes, são pouco representativos em relação ao orçamento total de Capex da JBS”, comenta o analista.

No Brasil, além da JBS, a BRF também tem se aventurado no universo das proteínas cultivadas. Em 2021, a companhia aportou mais de US$ 2 bilhões na Aleph Farms, uma startup israelense do segmento.