Uma das imagens principais na página inicial do website do grupo alemão BayWa mostra um belo pomar para cultivo de framboesas protegido sob uma ampla cobertura formada por placas fotovoltaicas. “O maior projeto frutovoltaico da Europa”, diz o título, fazendo um trocadilho.

Mais de 24 mil módulos de produção de energia reunidos ali, em uma propriedade rural holandesa, geram eletricidade suficiente para abastecer cerca de 28 mil residências, indica o texto.

Realidade europeia, o projeto é uma espécie de inspiração para Lyciani Ribeiro, CEO da Ribeiro Solar, empresa paranaense especializada na distribuição de equipamentos e serviços para produção de energia fotovoltaica.

A BayWa r.e., empresa do grupo alemão voltada para energias renováveis, acaba de anunciar a aquisição da companhia brasileira e, com Liciany à frente, inicia um projeto de expansão pelo País, com o agronegócio no centro da estratégia.

Assim, em curto espaço de tempo e com a marca alemã por trás, a empresa que antes tinha alcance regional, sobretudo no Sul do Brasil, deve ganhar musculatura nacional.

“Até o fim do ano estaremos em todas as regiões do Brasil, com pelo menos um centro de logístico de distribuição”, afirma ela.

Nos últimos meses, a BaiWa r.e. prospectou o mercado brasileiro em busca de um parceiro para chegar ao Brasil já com um time com conhecimento das peculiaridades do mercado local. Identificou esse potencial na Ribeiro Solar e fez a aquisição – os valores não são revelados, nem para a compra, nem para investimentos.

“Em cinco anos esperamos ver o Brasil figurando entre um dos nossos cinco principais mercados”, afirmou ao AgFeed Daniel Marino, diretor de Comércio Solar nas Américas da empresa alemã.

A partir dessa informação é possível ter uma dimensão da ambição da companhia. A BaiWa r.e. atua em mais de 30 países e tem receita superior a US$ 2,8 bilhões por ano fornecendo soluções e equipamentos para a produção de energia eólica e solar.

Liciany sustenta que o potencial a ser explorado é enorme. Segundo ela, apenas 180 mil propriedades rurais brasileiras possuem sistemas de geração de energia solar. Elas representam 8,7% do total de instalações desse tipo no Brasil, mas somam 14,7% da potência da energia fotovoltaica.

“Isso acontece porque o meio rural exige sistemas maiores que o residencial ou o comercial pequeno”, explica a empresária. Ela enxerga muitas oportunidades de crescimento no campo, sobretudo em função de uma conjuntura favorável ao convencimento dos produtores rurais a aderirem à geração solar.

Um dos fatores é o aumento expressivo dos custos de energia, decorrente do fim do benefício da tarifa rural noturna no ano passado. “Para alguns produtores, isso representa praticamente dobrar o gasto com energia”, explica.

O outro ponto que destaca são os incentivos para a instalação de alternativas para o fornecimento de energia, particularmente a fotovoltaica, presentes no Plano Safra e em linhas específicas existentes em alguns estados.

Liciany Ribeiro, da Ribeiro Solar, com Frank Jessel e Daniel Marino, da BayWa r.e

No Paraná, por exemplo, é possível adquirir e instalar um sistema para propriedades rurais com financiamentos a taxa zero. “Não faltam argumentos para convencer o produtor a colocar a energia solar e deixar de ter a despesa recorrente com a concessionária de energia convencional”, afirma ela.

O modelo de negócio da Ribeiro é o mesmo adotado pela BayWa r.e. em outros mercados. A comercialização dos produtos é feita através de integradores que atuam regionalmente. Para atingir mais desses pequenos empresários, a companhia deve agora contratar mais vendedores regionais.

A empresa deve ainda focar na formação de instaladores autônomos. “Como não fazemos esse serviço, precisamos ter gente capacitada para ser o consultor do produtor e fazer melhor escolha”, diz Liciany. “Precisamos dar segurança ao produtor, já que ele está fazendo um investimento de longo prazo, com 25 a 30 anos de garantia”.

Também pesa a favor do crescimento do mercado a queda no valor dos equipamentos usados nos sistemas de geração solar, sobretudo os módulos instalados nas placas.

Essa redução ficou entre 30% e 50% no último ano, segundo a empresária, em função da grande produção desses artigos na China, principal fabricante, que superou em muito a demanda internacional.

História no agro

A vertical de energias renováveis é a mais recente entre as frentes de negócios do grupo BaiWa, que comemora seu centenário este ano. “Nossas raízes estão justamente no agronegócio”, explica Marino.

Ele conta que a empresa nasceu em Munique, na região alemã da Baviera, oferecendo serviços e comercializando a produção de agricultores locais. Hoje, a divisão agrícola da holding, que fatura mais de 27 bilhões de euros por ano, possui atuação bastante diversificadas, de trading de frutas à fabricação de máquinas agrícolas.

Não por acaso, a divisão de energias renováveis tem amplia ligação com produtores rurais. Entre as soluções, além do exemplo do projeto “frutovoltaico” na Holanda, Marino cita a possibilidade de desenvolvimento de soluções para a piscicultura, com placas colocadas em estruturas montadas sobre as águas onde é feita a produção dos peixes.

“Isso ajuda a reduzir a temperatura e a evaporação em regiões mais quentes, gerando benefícios adicionais à geração de energia”, explica Liciany, dizendo que modelos assim já usados na produção de tilápias em Israel.

Aqui no Brasil, a empresária acredita ser possível desenvolver projetos semelhantes, mas antes disso afirma que a instalação de sistemas solares de geração pode ajudar a trazer segurança a avicultores e suinocultores, por exemplo, que têm a energia elétrica como um insumo fundamental para manter o conforto térmico de seus animais e sofrem com eventuais interrupções do fornecimento por estarem em regiões mais distantes ou em fim das linhas de transmissão.

“Quanto vale, para o produtor de leite ou um criador de frango ter um gerador como back-up? Temos mais soluções do que só a produção de energia em si”, diz.

“Com a BayWa, além de um grupo investidor forte, vamos trazer mais tecnologia, produtos de ponta”, completa Liciany. A empresária acredita que, em médio prazo, é possível “transformar esse produtor rural em produtor de energia, oferecendo a ele a possibilidade de gerar uma receita adicional”.