A israelense ICL, gigante global em fertilizantes, deu mais um passo para avançar no mercado de insumos agrícolas do Brasil, com foco cada vez maior no que a empresa chama de “especialidades”.
A companhia anunciou a aquisição da Nitro 1000, localizada em Cascavel, no Paraná, especializada em inoculantes, por US$ 30 milhões, cerca de R$ 150 milhões pela cotação atual.
“O Brasil é um país chave para a ICL e esse é o primeiro investimento na área de biológicos, que é um setor chave, totalmente alinhado com a nossa estratégia e que complementa bem o nosso portfólio”, disse o vice-presidente de Marketing e Inovação da ICL América do Sul, Ithamar Prada, ao AgFeed.
O executivo disse que, até hoje, no segmento de biológicos a ICL só havia investido em startups que desenvolvem soluções nesta área, mas essa “é a primeira companhia com fábrica e produção”.
A empresa tem quatro áreas principais de atuação no mercado brasileiro. Uma delas é voltada a cloreto de potássio, uma matéria-prima que é trazida de Israel e vendida às indústrias de fertilizantes Brasil. A ICL também tem fosfatos especiais, fornecidos principalmente para a indústria de alimentos, além de uma área de produtos industriais.
Mas no centro da estratégica está a chamada ICL Growing Solutions, que vem desenvolvendo o que a empresa chama de “especialidades”, principalmente fertilizantes mais elaborados.
É este pilar que agora passa a atuar também no mercado de inoculantes, por meio da aquisição da Nitro 1000. “No Brasil, é parte bastante relevante para a companhia, porque a área de especialidades já representa 50% de todo o faturamento do grupo ICL no País”, disse Prada.
Há cerca de 5 anos, segundo ele, a ICL tomou essa decisão estratégica de fortalecer segmento de especialidades, com movimento mais forte a partir do Brasil.
Duas grandes aquisições foram feitas neste sentido: a compra da Fertilaqua, em 202, por US$ 120 milhões, e da Compass Minerals, em 2021, por US$ 420 milhões.
A nova aquisição tem cheque menor, mas grandes ambições – e para logo. A ICL prevê que novos produtos sejam lançados ainda em 2024.
“Serão inoculantes principalmente voltados às culturas de soja, milho e cana-de-açúcar, que substituem ou otimizam o uso de fertilizantes, aumentando a rentabilidade e sustentabilidade na agricultura”, segundo o comunicado da empresa.
Segundo a ICL, a Nitro foi escolhida por sua boa capacidade instalada de produção – 4,5 milhões de litros por ano. “E há espaço para ampliar”, disse Prada.
De acordo com o executivo, a Nitro tinha boa parte da sua atuação no B2B, por isso considera complexo falar do atual market share. “Ela atende outras empresas, por isso é uma participação maior que a marca”.
A RFA Capital, especializada em estruturar operações financeiras para empresas do agro, coordenou o road show global da Nitro 1000 e uma preparação que durou mais de seis meses. O AgFeed apurou que a empresa de biofertilizantes já havia recebido outras propostas, mas acabou avançando com a ICL, através do time de Nova York.
Participantes de mercado dizem que a Nitro 1000 é o maior B2B brasileiro nesse segmento. “Parece pequena, mas tem 90% da receita do B2B, vendendo mais inoculantes do que empresas como a Vittia (companhia listada na B3)”, afirmou uma fonte próxima do negócio.
O que mais teria chamado a atenção da ICL foi a capacidade de crescimento, que pode ocorrer rapidamente. É possível que, no longo prazo, a ICL mude a marca, já que a Nitro (sem 1000) é uma das maiores concorrentes da empresa israelense na área de especialidades. Mas deve manter a visão mais B2B, que também pratica na produção de foliares.
Prada afirmou que, no começo, o foco será o crescimento da produção de biológicos para atender o Brasil, mas que nos próximos anos também haverá desenvolvimento para atender outros países.
Para Iris Guindani, um dos fundadores da Nitro 1000, que permanecerá a frente da companhia, a venda é um passo natural na trajetória de sucesso da empresa.
“Fundamos a Nitro 1000 em 2007, fizemos os investimentos necessários para o desenvolvimento dos nossos produtos e chegamos até aqui, com muito orgulho. Essa nova etapa que a Nitro 1000 está começando permitirá que a empresa alavanque o seu crescimento através dos investimentos da ICL no segmento de biológicos, capacidade interna de P&D e parcerias-chaves para desenvolver novos produtos”, destaca Guindani.
Além dos inoculantes
“Estamos entrando para valer em biológicos”, disse Prada na conversa com o AgFeed. De acordo com a empresa, o mercado no Brasil foi de 6,2 bilhões de reais em 2023, com potencial para chegar a 16,5 bilhões de reais em 2028, atingindo um crescimento anual de 21% durante esse período.
O executivo afirma que a compra da fábrica de inoculantes “é um primeiro movimento em biológicos”, mas garante que a estratégica da ICL para os diferentes segmentos é sempre buscar a liderança.
“Vamos buscar fortalecer não só a aquisição que foi feita, mas também avaliar outras opções estratégicas para o futuro e vamos trazer muita inovação”, afirmou.
Ele não descarta que o próximo passo seja com foco em defensivos biológicos. “Hoje já não há uma barreira tão bem estabelecida em biológicos. Nosso papel é ser um provedor de tecnologias para o produtor rural, tudo que gerar valor pra eles faz parte da nossa agenda, claro que defensivo químico não é nosso segmento, mas nos biológicos não temos restrição de que vamos parar em inoculantes”, explicou.
Como a empresa já tem posição de destaque em nutrição vegetal, Prada considerou este um passo importante, já que inoculantes estão muito próximos do segmento, “algo que o cliente esperava da ICL”.
Sobre o momento mais desafiador no agro, com preços mais baixos das commodities, Prada afirmou que nos fertilizantes especiais é possível que o produtor seja mais seletivo nas escolhas, mas espera bons resultados em inoculantes por ser um mercado consolidado no Brasil.
“Ao contrário dos biológicos como um todo, onde a adoção ainda é baixa, nos inoculantes é altíssima. Não se planta soja sem inoculante”, ressaltou.
A decisão de investir neste momento tem a ver com a visão de longo prazo da empresa, segundo ele, que viu oportunidades de ampliar portfólio.
O executivo da ICL acredita que 2024 seja melhor para empresa do que o ano passado, com menos atrasos no ritmo de compra do produtor e “com toda a cadeia melhor preparada”.
Ele ressaltou que o produtor, em tempos mais desafiadores, seguirá atento a importância de usar tecnologias para garantir altas produtividades.
No comunicado global da ICL, o presidente da Growing Solutions Elad Aharonson, declarou que estava entusiasmado “em integrar a experiência da Nitro 1000 de fabricação de produtos biológicos com a extensa capacidade de P&D e inovação da ICL e executar ainda mais nossa estratégia de continuar a investir na agricultura”.
“Isso também nos permitirá continuar a aumentar a participação de mercado e a liderança em nutrição vegetal especializada no Brasil”, acrescentou.
No Brasil a ICL possui aproximadamente 1,7 mil funcionários, e representa 20% do faturamento global. No mercado mundial, a empresa é líder em minerais especializados.
As ações da ICL são listadas duplamente na Bolsa de Valores de Nova York e na Bolsa de Valores de Tel Aviv. A receita em 2023 totalizou aproximadamente US$ 7.5 bilhões. Na América do Sul, a ICL controla também as marcas Dimicron, Maximus e Aminoagro.