A banana é a fruta mais consumida no mundo e movimenta um comércio global estimado em US$ 25 bilhões ao ano, controlado por grandes companhias como as americanas Dole International e Chiquita Brands.
Mas uma ameaça tem rondado, nos últimos anos, esse segmento. Um fungo, encontrado inicialmente em plantações asiáticas, espalhou-se por outros países e desde 2019 tem sido detectado com frequência cada vez maior em bananais das Américas do Sul e Central, onde se encontram os maiores exportadores da fruta.
O vilão da história é o fungo Fusarium odoratissimum, conhecido pela sigla TR4 (de Tropical Race 4), que, al contaminar o solo de uma lavoura de bananas, ataca as plantas pelas raízes e invade seu sistema, sufocando o fluxo de água e nutrientes e provocando o seu apodrecimento.
Extremamente contagioso e sem cura, o TR4 é visto como um potencial exterminador de até 90% da produção global de bananas nos próximos anos – e, por isso, as gigantes do setor investiram pesado na busca de soluções para o problema.
Controlada pelo grupo brasileiro Cutrale, foi a Chiquita a primeira a apresentar uma alternativa promissora nesse sentido. Na semana passada, a companhia anunciou ter desenvolvido, em conjunto com parceiros científicos, uma variedade híbrida resistente ao TR4 e também à Sigatoka Negra, doença provocada pelo fungo Mycosphaerella fijiensis Morele e também com alto poder destrutivo às bananeiras.
Batizada de Yelloway One, a variedade é resultado de uma iniciativa criada pela empresa desde 2020 e que conta com a participação de cientistas das empresas de biotecnologia KeyGene e MusaRadix e da Universidade de Wageningen, na Holanda.
A KeyGene é comandada pelo colombiano Fernando García-Bastidas, conhecido como Dr. Banana e tido como um dos maiores especialistas do mundo no assunto. Foi ele quem identificou, pela primeira vez, a presença do TR4 em plantações na América Latina, na província de La Guajira, na Colômbia, em 2019.
“A missão da iniciativa Yelloway é desenvolver variedades resistentes às doenças que colocam em risco o fornecimento mundial de bananas, mantendo a aparência, o sabor e a durabilidade das amadas bananas Cavendish”, afirmou a Chiquita em um comunicado.
“A Yelloway One é a primeira do seu gênero, descortinando uma nova era para o cultivo de bananas”.
A variedade Cavendish é a mais popular em todo o mundo, representando quase 99% do comércio global. Em 2022, os países latino-americanos venderam mais de 16 milhões de toneladas delas para outras nações.
A Cavendish é também a variedade mais suscetível ao fungo. E, por isso, assim que o Dr. Banana confirmou sua presença no continente, os demais produtores entraram em alerta máximo.
Os colombianos são os quartos maiores exportadores da fruta. Antes deles, pela ordem, estão os equatorianos, os costarriquenhos e os guatemaltecos.
Além da iniciativa Yelloway, outras ações correram em paralelo, pesquisando outras formas de abordar o problema, Em 2021, Chiquita e a concorrente Dole uniram esforços na Global Alliance Against TR4 , cujo objetivo é monitorar e verificar o avanço do fungo pela América Latina.
A Dole, por sua vez, investiu em pesquisas para aumentar a resistência das bananas Cavendish ao fungo. A dificuldade, nesse sentido, é a reprodução da variedade, que não tem sementes e é estéril, sendo multiplicada através de mudas geradas a partir de secções de seu caule.
A empresa chegou a plantar dezenas de bananeioras Cavendish geneticamente modificadas, produzidas em conjunto com a startup americana de biotecnologia Elo Life Systems, em um de seus campos de banana infectados na Colômbia.
As plantas foram “editadas” de modo a ativar os genes responsáveis por produzir proteínas de combate a fungos. “As empresas de banana veem esse fungo como uma ameaça existencial”, disse o CEO da Elo, Todd Rands, em uma reportagem da revista Businessweek em novembro passado. “Não podemos nos dar ao luxo de fracassar.”
Por esse motivo, a conquista da Chiquita, agora, é vista como um marco para o futuro do setor. A empresa anunciou que deve começar uma fase de testes com a nova Yelloway One em áreas que foram infestadas pelo TR4 e pela Sigatoka Negra nas Filipinas e na Indonésia.
Segundo a empresa, “os testes serão cruciais para confirmer a viabilidade comercial da nova variedade”.