Cascavel (PR) - Há duas semanas, a maior preocupação da cadeia produtiva de grãos era se a soja seria colhida a tempo do plantio do milho safrinha no Centro-Oeste. Mas as chuvas, principalmente em Mato Grosso, deram trégua, máquinas colheram a oleaginosa e foram seguidas de outras plantando o cereal.
Essa capacidade operacional para desafiar janelas de cultivo que só o produtor brasileiro tem pode fazer com que a área brasileira de milho safrinha seja recorde em 2024/2025, na avaliação do Carlos Hentschke, presidente da Syngenta Seeds.
Em entrevista ao AgFeed no Show Rural Coopavel, antes de revelar a estimativa da companhia, o executivo contou uma história, de outubro passado, para explicar a resiliência do agricultor.
“Visitei Mato Grosso na semana de 20 de outubro. Até 7 de outubro estava extremamente seco. Choveu, e produtores de 70 mil hectares plantaram sua área em 18, 20 dias”, disse. “Na ocasião, questionei um agricultor como ele faria para colher tudo. ‘Carlos, uma coisa de cada vez, nós precisamos plantar agora, depois a gente vai dar um jeito’, ele respondeu”.
E esse “dar um jeito” levou a Syngenta a dobrar a aposta no crescimento do percentual de da área cultivada com inverno de milho no Brasil, de entre 3% e 4%, para 7% sobre a safra passada. É claro que tem um incentivo financeiro como combustível para melhorar essa capacidade operacional.
“No ano passado, tínhamos milho a R$ 47, R$ 48 a saca, hoje nós estamos falando em R$ 63, R$ 64”, resumiu o presidente da Syngenta Seeds. “Mato Grosso praticamente plantou sua safra de milho em 30 dias e tem capacidade de colher nesse mesmo período”.
De acordo com Hentschke, houve um “repique” no mercado de sementes de milho na esteira da mudança no cenário. Produtores que iriam plantar 80% da área de soja com milho safrinha, foram às compras e decidiram cobrir toda área com o cereal.
Se as previsões da Syngenta se concretizarem, a área com milho de inverno deve sair de 16,44 milhões de hectares para 17,6 milhões de hectares, o que seria um recorde, superando os 17,18 milhões de hectares de 2022/2023.
Já o último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), divulgado nesta quinta-feira, 13 de fevereiro, é mais cauteloso e prevê um aumento de 1%, para 16,6 milhões de hectares na área.
A Conab estima também uma produção de 96,048 milhões de toneladas do grão, alta de 6,4% sobre o total de 90,255 milhões de toneladas no período anterior.
“Vamos ver como vai ser o clima, se ainda vamos ter algumas chuvas boas, e o mês de abril é muito importante para a safrinha, é fundamental que tenha alguma precipitação decente”, explicou Hentschke.
O otimismo do produtor, segundo ele, foi sentido pela Syngenta no Show Rural Coopavel. Além da demanda por quantidade, os produtores buscam qualidade nas sementes de milho.
“O produtor diz que quer melhor semente, não importa se é mais cara, porque precisa produzir cada vez mais por hectare”.
Sonho de uma safra de verão
Com a soja “andando de lado” e sem muitas perspectivas de curto prazo para a oleaginosa, há uma perspectiva da Syngenta de uma retomada forte no plantio do milho na próxima safra de verão.
Há pelo menos 15 anos essa safra de milho encolhe de tamanho e perde espaço para a soja.
Na atual safra de verão, devem ser colhidas 23,581 milhões de toneladas de milho, ante 22,962 milhões na anterior, alta de 2,7% entre os períodos, segundo a Conab.
A área é estimada em 3,71 milhões de hectares em 2024/2025, ante 3,97 milhões de hectares em 2023/2024.
Essa produção já foi de 35 milhões de toneladas em 2010/2011 e a área beirou os 10 milhões de hectares na safra 2008/2009.
O crescimento esperado na próxima safra do milho de verão é atrelado também à demanda do cereal para a avicultura e à silagem na alimentação para gado de leite, principalmente, e em regiões de São Paulo e Minas Gerais.
“Claro que não vai ser nada absurdo de aumento, mas o milho verão está renascendo e tem um mercado cativo que o transforma em leite e ovo, por exemplo”, concluiu Hentschke.