Rio Verde (GO) - A companhia fabricante de máquinas e implementos Kuhn completa suas bodas de porcelana no Brasil neste ano. A companhia francesa está no País há 20 anos.
Mas sua história é quase 10 vezes mais extensa – Fundada na França em 1828, a empresa acompanhou a evolução do agronegócio global e conhece como poucas os ciclos de alto e baixa que se sucedem no campo.
Por isso, diferentemente do que aconteceu em seu aniversário anterior, em 2024, sua equipe sabe que 2025 traz motivos para comemorar.
Em meio a uma perspectiva de safra recorde, principalmente na soja e milho, principais culturas que atende com suas máquinas, a companhia deve retomar o rumo do crescimento e registrar uma receita maior do que no ano passado – e voltar a perseguir os números recordes de anos atrás.
Segundo explicou o CEO da empresa no Brasil, Nicolas Guillou, depois de ter faturado R$ 1,3 bilhão em 2022, melhor resultado da operação nacional até então, a Kuhn registrou quedas consecutivas em suas receitas nos anos seguintes, acompanhando a retração do mercado de máquinas agrícolas no período.
Em 2023, o faturamento da companhia no país foi de R$ 1 bilhão. No ano passado, recuou novamente, segundo adiantou Guillou ao AgFeed, sem revelar, no entanto, o número exato.
Já o ano de 2025 promete trazer uma perspectiva mais favorável para a Kuhn, na avaliação de seu presidente.
“Nós estamos percebendo um otimismo muito mais forte por parte do agricultor. No ano passado, esse produtor teve problemas com o preço dos grãos e também com estiagem. Este ano está diferente, claro, com algumas regiões que estão sofrendo ainda com condições climáticas, como RS e MS”, afirmou Guillou, em entrevista concedida no estande da empresa, que participou da Tecnoshow Comigo 2025.
Mesmo com a alta este ano, o número ainda não deve voltar à cifra bilionária. Nicolas Guillou disse que a temporada de feiras agrícolas tem sido produtiva, refletindo a expectativa dos produtores que estavam para colher a safra de soja, e que agora já colheram, e a boa perspectiva também no milho.
“Nós temos intenções de compras que estão pouco acima do ano passado”, diz. Além do bom-humor, ele cita que o aumento deve se dar por conta de um ajuste no estoque.
Guillou explica que, mesmo que as redes de concessionárias vendam a mesma quantidade de máquinas que no ano passado, algo que ele acredita que não vai acontecer, como partiram de um cenário de estoques baixos isso fará com que a Kuhn, enquanto indústria fabricante, tenha mais procura e aumente as vendas para as concessionárias.
O executivo cita que a Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) projeta uma alta de 8,2% no setor neste ano, depois de dois anos consecutivos de baixa. “É isso que estamos observamos até agora. Costumamos acompanhar o mercado”, diz.
O bilhão deverá voltar nos próximos anos, acompanhando também o aumento de área plantada no Brasil. “Isso faz com que o mercado no Brasil não seja somente para reposição, mas também de aquisição para essas regiões”.
“2022 e 2023 havia um alinhamento dos planetas quanto ao preço dos grãos e uma produtividade boa na lavoura. Acho que em 2024 foi o nosso ponto mais baixo, assim como nossos concorrentes. E daqui para frente vai voltar a crescer”, acrescentou Nicolas Guillou.
Nesse caminho que parece certo, um grande obstáculo se coloca à frente da Kuhn e das empresas que atuam no agro: a alta da taxa Selic, hoje fixada em 14,25% pelo Banco Central, com o mercado já prevendo que ela atinja 15% nas próximas reuniões da autoridade monetária.
“Isso tende a ser a grande dificuldade do ano”, diz Guillou. Ele acredita que com esse patamar, o produtor pode ficar na dúvida se investe em um novo maquinário ou se aplica seu dinheiro em algum título atrelado à Selic.
“O agronegócio é um setor rentável no médio e no longo prazos e o agricultor não vai parar de investir em máquinas. Mas nós estamos numa atividade cíclica. Diferente do mercado de insumos, que ele precisa comprar todo ano, a máquina não traz essa necessidade”, afirmou.
A Kuhn está no mercado há 197 anos. Guillou conta que hoje a companhia é a líder global no mercado de implementos, posto que ainda não possui no Brasil. Desde que chegou no Brasil nos anos 2000, fez algumas aquisições para crescer.
Primeiro comprou a gaúcha Metasa, em 2005, e depois, em 2014, a Montana, focada em pulverizadores autopropelidos. Em 2020 comprou a Khor, que era a fabricante líder de carretas graneleiras, escarificadores por aqui.
Mesmo não atuando com tratores e colheitadeiras, o CEO cita que a empresa possui o maior portfólio de produtos desse mercado.
“Somos a única empresa grande a atuar tanto no segmento de grãos, que é o nosso mercado forte aqui, quanto na pecuária com produtos para fenação. Isso torna a Kuhn uma empresa atrativa para as revendas, que com uma marca só tem todos produtos que precisam vender”, disse.
Em termos regionais, o maior mercado está no Sul do País, onde a companhia possui duas fábricas, uma em Passo Fundo (RS) e outra em São José dos Pinhais (PR). De todos os produtos que a Kuhn vende no Brasil, 90% são fabricados nas unidades brasileiras, com a engenharia desenvolvida local.
“Produzimos máquinas totalmente voltadas para o mercado nacional, mas com tecnologia que vem de fora”.
O cliente médio é o produtor de tamanho intermediário. “Também atendemos a agricultura empresarial com nossos distribuidores de fertilizantes, os pulverizadores”, acrescentou.
Para 2025, a maior aposta da Kuhn está na plantadeira Elite, uma máquina que não precisa ser desmontada e é transportada com uma largura de 3,20 metros. Com capacidade para atuar com sementes e adubos, a plantadeira semeia 30 linhas de cultivo ao mesmo tempo, com um espaçamento de 45 centímetros entre cada uma.
“É uma máquina focada no público que precisa mudá-la de lugar e que quer fazer isso com maior agilidade possível. As primeiras máquinas que vendemos estão indo muito bem”.