Nos primeiros dias da Expointer, que começou no último sábado, em Esteio-RS, só se falava em solidariedade aos gaúchos, com empresas e lideranças evitando fazer qualquer projeção sobre negócios.

Até o público no primeiro fim de semana, embora não tenham sido divulgados números oficiais, parecia menor que as edições passadas, impressão de quem circulava pelos pavilhões.

Na metade da semana, porém, o clima na Expointer já pode ser considerado “otimista”. A terça e a quarta-feira, por exemplo, foram de muita movimentação, com o frio um pouco mais ameno.

E pelo visto não eram só curiosos para ver as grandes máquinas e as diferentes raças de animais. O AgFeed conversou com alguns executivos de empresas que participam do evento e ouviu relatos semelhantes.

“Está sendo uma Expointer maravilhosa, pelo movimento que se vê nos estandes, ainda não temos números, mas com todos que converso estão muito satisfeitos”, afirmou Claudio Bier, presidente do Simers, sindicato da indústria de máquinas agrícolas no Rio Grande do Sul.

O dirigente também é proprietário de uma empresa de máquinas, a Masal. Ele diz que no seu negócio até a metade da semana já havia empatado com o volume de vendas do ano passado.

O diretor nacional de vendas da Valtra, Cláudio Esteves, acompanhou a semana de negócios na Expointer e diz que a sensação é de retomada.

“É um cenário desafiador, mas ele tem retomado. O agricultor tem buscado os negócios, não é um mercado extremamente aquecido, mas quando você olha tudo o que ocorreu no Rio Grande do Sul, é um cenário até motivador”, avaliou.

Outra gigante global de máquinas agrícolas, a John Deere, também registrava muita movimentação no estande que montou na Expointer.

O diretor nacional de vendas da John Deere Brasil, Horácio Meza, disse ao AgFeed que negócios estão sendo fechados durante a feira e que “renegociações foram feitas”, com os produtores endividados.

Uma das novidades que a fabricante levou ao evento para driblar o período mais desafiador do agro, principalmente o gaúcho, foi oferecer novas formas de financiar a compra de uma máquina nova.

“Temos percebido aceitação muito boa na modalidade de consorcio”, contou Meza.

A empresa diz que há cerca de dois meses vem trabalhando com as concessionárias, em projeto piloto, a oferta de um modelo diferente de consórcio, onde a carta já está contemplada.

Os pagamentos são feitos em intervalos de 6 meses e os juros ficam mais acessíveis ao produtor, segundo a John Deere.

“Queremos realmente buscar novas formas de trazer uma solução de crédito que seja atrativa, principalmente para pequenos e médios produtores”, disse o diretor.

Caso se confirme, o bom desempenho da Expointer deve surpreender não apenas pelo fato de o Rio Grande do Sul enfrentar dificuldades financeiras no campo, mas também porque o setor de máquinas e equipamentos como um todo está registrando queda de vendas desde o ano passado.

Os dados de julho da Abimaq, por exemplo, mostraram uma redução de 9,5% em julho, na comparação com o mesmo período do ano passado. Porém, houve uma tendência de queda menos acentuada, já que no acumulado do ano, as vendas já caíram 27,5%.

No mercado brasileiro, as marcas John Deere e Valtra sinalizam que estão acompanhando a tendência de queda do mercado, embora com redução menos intensa e até com alta nas vendas no caso de tratores de menor potência.

Arroz e frutas são destaque

Os expositores de máquinas agrícolas da Expointer dizem que um dos segmentos que está se mostrando disposto a investir em tecnologia é a cadeia do arroz.

“Os arrozeiros têm sido os maiores compradores da Expointer, eles conseguiram colher a safra antes da enchente e os preços continuam bons”, disse Claudio Bier. Segundo o presidente do Simers, ao contrário do produtor de grãos, o arrozeiro teve no passado algumas safras ruins e não vinha investindo tanto na renovação do maquinário.

“Acredito que chegaremos (a Expointer) no mínimo ao valor (de vendas de máquinas) do ano passado, se isso ocorrer, estará muito bom”, acrescentou.

Para Horácio, da John Deere, não apenas no arroz, mas também no tabaco e na produção de maçã “há um espirito bastante positivo em termos de investimento”

Por isso motivo, a previsão da multinacional é alcançar um volume similar de vendas este ano em relação à última Expointer.

Outo destaque da John Deere na feira, para atrair a atenção do público, foi o “trator colorido”. Tradicionalmente as empresas de tratores são identificadas por uma só cor (John Deere verde, Massey Ferguson vermelho, Valtra amarelo, entre outras).

O trator em várias cores é usado para divulgar o sistema chamado de John Deere Precision Upgrades, que permite integrar sistemas de dados e tecnologias de diferentes marcas que o produtor tiver em sua frota.

“Se ele não tem condições de comprar um trator agora, pode fazer um upgrade nas máquinas que já tem em campo”, lembrou Meza.

A Valtra apostou no modelo tradicional de levar lançamentos para a feira. Apresentou na feira de Esteio os tratores Q5, com potência entre 265cv e 305cv.

“É um trator que vem da Finlândia e que vai ocupar um mercado importante na América do Sul”, destacou Claudio Esteves. O foco do lançamento são produtores de grãos, inclusive o arroz.

Para performar melhor em vendas na Expointer, porém, o diretor da Valtra também aposta na fruticultura. “O Rio Grande do Sul é bastante diversificado, mas até em grãos, agora que vem o momento de decisão de compra do plantio, percebemos um leve aquecimento”.