Rio Verde (GO) - Com a quebra de safra no Rio Grande do Sul e o clima favorável no Cerrado, Goiás deve ultrapassar o estado gaúcho e se tornar o terceiro maior estado produtor de soja na safra 2024/25.
Essa é a perspectiva da Aprosoja (Associação dos Produtores de Soja e Milho) de Goiás, que projetou que a safra da oleaginosa deve ultrapassar as 19 milhões de toneladas, um aumento de cerca de 20% frente a temporada anterior.
“Fechamos uma boa safra de soja, e o milho com um bom andamento, com exceção de algumas regiões do estado que ainda dependem de chuvas”, disse Clodoaldo Calegari, presidente da Aprosoja-GO em entrevista coletiva com jornalistas realizada durante a Tecnoshow Comigo 2025, em Rio Verde.
A entidade estima que a área total de cultivo da soja ficou em 4,9 milhões de hectares nesta temporada, um aumento de 2% em relação à temporada 2023/24. No milho, considerando o cultivo de primeira e de segunda safra, serão 10 milhões de toneladas.
“A área de milho aumentou em 9% em relação ao ano passado, e ficará em 1,6 milhão de hectares na segunda safra. Esse aumento acontece porque no ano passado houve uma diminuição de área por conta do atraso da soja, que fez o milho ‘fugir’ da janela”, afirmou Calegari.
A perspectiva para a temporada 2025/2026, contudo, não é das melhores. Ainda sem uma projeção clara sobre o clima, Clodoaldo Calegari cita uma margem achatada para os produtores goianos, na medida em que os custos e as incertezas políticas globais e locais se intensificam.
“Estimo que o custo dos fertilizantes será 30% maior, saindo de 9 sacas para 12 sacas por hectare no custo. Somado a isso vejo uma dificuldade de importação dos químicos e um aumento real no valor das sementes por questões de royalties”, diz.
Somado a isso, Calegari relembra as dificuldades de financiamento e crédito, causados por uma Selic a 15%, que deve ter impactos no Plano Safra, ainda distante de ser divulgado. “O produtor rural não sobrevive a juros de mercado”.
Haroldo Rodrigues da Cunha, presidente do Instituto Goiano de Agricultura (IGA), acrescenta que há uma apreensão em muitos sentidos.
“Não temos perspectiva de melhoria de preço, temos uma sensação que o País não caminha para um bom lugar na questão fiscal. A questão cambial hoje é mais impactada pelos problemas internos do que externos, mas aí ainda vem o Trump com tarifas que tiram nossa perspectiva de futuro”, afirmou o presidente do IGA.
Ele cita que, por mais que a princípio as tarifas beneficiem o Brasil com uma demanda da China pelos grãos brasileiros aumentando, uma instabilidade nos EUA derruba o preço dessas commodities em Chicago.
“Melhora o prêmio do lado de cá, mas com a cotação menor. O dólar nesses dias saiu de R$ 5,60 para R$ 5,90, e essa instabilidade é nefasta para o produtor”, completa Cunha.
Problemas no curto prazo mas com boa perspectiva à frente
Os 4,9 milhões de hectares de soja podem quase dobrar no longo prazo. Segundo Clodoaldo Calegari, da Aprosoja-GO, o norte do estado goiano tem potencial de trazer mais 4 milhões de hectares para o cultivo agrícola.
Mesmo considerando 2 milhões de hectares, o impacto já seria significativo em seus cálculos. Afinal de contas, falamos de um aumento de quase 50% na área.
Esse potencial, contudo, demanda investimentos diversos para se tornar realidade.
“Existe muita área degradada pela pastagem que pode ser transformada em área agrícola. Tudo depende de investimentos em energia, rodovias e armazenagem”, afirmou.
“Teríamos que utilizar irrigação via motores a diesel, pois falta suporte de energia elétrica, além da dificuldade de escoar essa produção. Temos que correr atrás disso para que Goiás se torne até o segundo maior estado produtor de soja do País. Potencial para isso nós temos”, acrescentou Calegari.