Não-Me-Toque (RS) - Criada há 60 anos por Gerrit Jan em Não-Me-Toque, cidade-berço da imigração holandesa no Rio Grande do Sul, a indústria de implementos agrícolas Jan, uma das maiores empresas de seu setor no Brasil, planeja alcançar as novas fronteiras agrícolas do país como estratégia para voltar a crescer, após um 2024 de dificuldades nas vendas.
“Percebemos que as áreas de abertura e plantio estão ficando mais para cima. Estamos falando de Pará, de Roraima”, afirma Claudiomiro dos Santos, gerente comercial da companhia, em entrevista ao AgFeed.
Hoje, a Jan até consegue chegar aos estados da região Norte do Brasil, mas não com força total. Ao todo, a Jan tem 17 representantes, em São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás, Paraná, Santa Catarina, Bahia e Maranhão.
Agora, a ideia é fortalecer essa estratégia no Norte do País, ampliando o raio de atuação de suas equipes.
“Nós já temos representante por lá. Só que ele, hoje, busca o mercado que já está consolidado, como Bahia, Tocantins e Maranhão. Não tem um trabalho mais efetivo dentro do Pará, por exemplo”, diz Santos.
A nova estratégia comercial para a região vem após a Jan sofrer, assim como todo o mercado de máquinas agrícolas, um tombo relevante na venda de seus equipamentos nos últimos anos em função dos problemas de safra dos produtores, associados à tomada mais difícil de crédito e juros mais caros.
A empresa não revela números de faturamento e vendas, mas Santos diz que houve uma queda de 40% na comercialização somente no ano passado.
“Para este ano, estamos trabalhando com o mesmo valor do ano passado ou com um aumento aí de 5% a 10% [na comercialização], mais ou menos”, projeta o executivo.
O AgFeed conversou com Santos no estande da Jan na Expodireto Cotrijal, uma das maiores feiras agro do Rio Grande do Sul.
Ele relatou que as vendas estavam enfraquecidas nos dias iniciais da feira e atribuiu o movimento fraco aos problemas enfrentados pelos produtores locais – na terça-feira, 11 de março, a Emater-RS anunciou oficialmente que o Rio Grande do Sul deve registrar uma quebra de cerca de 20% na safra de soja na temporada 2024/2025.
“A feira é internacional, mas depende muito da região para comprar. Quem vai consumir o produto é a região e, como aqui nós estamos com essa frustração grande, está bem complicado, bem devagar”, afirma.
“A feira não está como nos anos anteriores, quando havia gente “de cima para baixo” e era uma confusão”, complementa.
Em constante movimento
O Norte não será a primeira e nem a última fronteira a ser ultrapassada pela Jan, que foi criada pelo imigrante holandês Gerrit Jan Hermanus Rauwers.
Em algumas décadas, a empresa se transformou em uma das grandes empresas de seu setor, sob o comando do genro de Gerrit Jan, o também holandês Henricus Rietjens, que está no cargo desde 1982.
Além da ascensão de Rietjens ao comando, houve também uma transformação de portfólio no meio do caminho – e Santos viu tudo isso de perto, pois trabalha na empresa há 38 anos.
Hoje, a Jan fabrica equipamentos como carretas, roçadeiras, trituradores, pulverizadores, semeadoras e plantadoras.
O executivo explica que a empresa iniciou suas atividades fabricando arado reversível, equipamento utilizado na preparação do solo, e subsoladores, que é montado no trator, trabalham nas camadas profundas do solo e são conhecidos como jumbos.
“Isso foi antes do advento do plantio direto e, por causa desses equipamentos, a Jan vendeu muito e, na verdade, se tornou tradicional no mercado em função dos arados reversíveis e dos jumbos”, explica o gerente comercial da companhia.
Nos fim dos anos 1990, houve a virada no portfólio, com a chegada das carretas graneleiras, que transportam grãos e fertilizantes.
“Foi o segundo grande salto da empresa, porque a partir daí a gente atingiu todo o mercado brasileiro”, recorda Santos.
Hoje, a Jan está presente principalmente no Sul e no Centro-Oeste, com força no Paraná, Mato Grosso, Goiás e Rio Grande do Sul.
Além disso, a empresa também exporta para boa parte da América Latina, contemplando todos os países da América do Sul, com exceção das Guianas, e nações como Costa Rica, Honduras, Panamá e Guatemala, na América Central, e o México, na América do Norte.
A indústria envia os produtos de sua fábrica de 130 mil metros quadrados, localizada na distante Não-Me-Toque, no Norte do Rio Grande do Sul, para o mundo.
Santos diz que, idealmente, a instalação de uma unidade em outras regiões do Brasil poderia trazer benefícios para a Jan, em virtude das possibilidades logísticas trazidas a partir da presença em um ponto mais central do país.
“Esse é um grande problema, porque logisticamente o ideal era estar próximo, era abrir um centro de distribuição no meio do Brasil”, afirma.
Mas o empecilho para esse plano se concretizar é financeiro, na avaliação do executivo.
“Sempre estamos estudando a possibilidade. Mas claro que essa possibilidade tem que ser viável e, nesse momento, não é viável financeiramente”, afirma Santos.