O Ministério da Agricultura (MAPA) está atento à quebra de safra e ao endividamento dos produtores, mas olha a cena com muita cautela.

De acordo com o ministro Carlos Fávaro, o governo federal está atento à situação dos produtores nacionais, que enfrentam preços de grãos ainda em baixa, custos de produção altos e quebras de safra significativas em algumas regiões.

Apesar disso, Fávaro evita falar em crise no setor e não deu pistas sobre renegociação de dívidas no agro.

“O momento pede atenção do governo. Fazemos cálculos e pensamos, com cautela, as medidas que podem ser tomadas. Estamos usando as experiências de todos os governos do presidente Lula, que investiu em linhas de crédito e novas tecnologias, faremos o mesmo em 2024”, afirmou ao AgFeed durante visita ao Show Rural Coopavel, feira de tecnologia agrícola que está sendo realizada em Cascavel (PR), nesta semana.

Neri Geller, secretário de Política Agrícola do MAPA repetiu o discurso enquanto conversava com alguns jornalistas no evento. Segundo ele, a colheita ainda está no começo, então é preciso acompanhar o movimento até ter noção dos efeitos reais da quebra de safra.

“Não vamos sair atirando para qualquer lado, pois não podemos bagunçar o mercado. Se instalarmos o caos, estimulamos até processos de recuperação judicial, o que desestabiliza o sistema financeiro”, afirmou o secretário.

Em relação à renegociação de dívidas, ele afirmou que a secretaria e o governo não devem se movimentar a priori e preferem esperar o mercado se ajustar.

Além da espera pelo avanço da safra, ele cita que existem limitações orçamentárias que impedem o ministério de “sair fazendo renegociações”.

“O investimento da taxa de juro equalizada, por exemplo, está em R$ 29 bilhões quando consideramos as parcelas de janeiro e dezembro de 2024. Se abrirmos uma linha e todos quiserem renegociar, isso pode chegar a R$ 2 bilhões e é um dinheiro que sai do próximo plano-safra”, afirmou.

Há algumas semanas, Geller conversou com exclusividade com o AgFeed e disse que o tema das renegociações estava no radar do governo, mas vai depender do andamento de conversas com produtores e players do agro.

“Queremos ouvir o setor e que o setor venha para perto para trabalhar as soluções conjuntas. Eu não tenho dificuldade de falar que tenho limitações, nem todas as informações estão comigo. Por isso o ouvido tem que estar aguçado, para ouvir mais, pensar bastante, e depois implementar uma política que possa dar resultado”, disse na ocasião.

Em relação ao seguro rural, Neri Geller comentou que irá trabalhar para modernizar a legislação, principalmente ao avaliar os problemas gaúchos em suas safras.

“Não é só buscar orçamento, é preciso fazer gestão e criar competitividade e concorrência entre as seguradoras”, afirmou. Uma das ideias de Geller é revisar o Proagro, que tem recursos mal geridos, segundo ele.

“Estamos alinhados com o Banco Central, o Ministro Paulo Teixeira e players do mercado para reestruturar o programa e tirar uma parte do recurso que não é bem aplicado, para que o seguro rural tenha mais dinheiro em momentos de dificuldade”, finalizou.