Não-Me-Toque (RS) – Agora é oficial: a estiagem que afeta diferentes regiões gaúchas deve ocasionar quebra na safra de soja do Rio Grande do Sul nesta temporada 2024/2025, com um prejuízo de mais de R$ 10 bilhões de valores que deixaram de ser gerados.
Na soja, principal cultura agrícola gaúcha, a produção deve chegar a 15,072 milhões de toneladas, queda de 17,4% em relação ao ciclo anterior, que totalizou 18,2 milhões de toneladas.
Também houve uma queda expressiva de produtividade, de 20,3%, chegando a uma média de 37,33 sacas por hectare (bem abaixo das 53,3 sacas por hectare da média nacional na safra 2023/2024, segundo dados da Conab) e um pequeno acréscimo de área plantada, de 0,3%, totalizando 6,729 milhões de hectares.
Os dados foram divulgados na manhã desta terça-feira, 11 de março, em entrevista coletiva de imprensa realizada pela Emater-RS, no começo do segundo dia da Expodireto Cotrijal, evento promovido pela cooperativa de Não-Me-Toque.
Considerando todos os grãos, a queda deve ter chegado a 6,6% em relação ao ciclo anterior, totalizando 28,050 milhões de toneladas produzidas, contra 30,024 milhões na temporada 2023/2024.
A Emater divulga duas estimativas para as temporadas. A primeira, com perspectivas ainda no início do ano safra, durante a Expointer, a maior feira agropecuária do Rio Grande do Sul, que acontece entre agosto e setembro de cada ano.
A segunda, apresentada tradicionalmente na Expodireto, já traz dados verificados em campo, mais próxima portanto do resultado final da safra.
Considerando uma comparação entre as duas estimativas, a queda de produção chega a 30% em relação ao que havia projetado inicialmente a Emater.
Já prevista em estimativas de diferentes consultorias desde a virada do ano, quando ficou mais evidente que as chuvas estavam ocorrendo de forma irregular em diferentes pontos do Rio Grande do Sul, a queda de volumes de produção nessa safra está associada à estiagem.
“Na medida que as chuvas foram se distribuindo, algumas regiões foram se recuperando, mas, à medida que a estiagem foi se consolidando, vimos muitas lavouras com prejuízos registrados”, afirmou Claudinei Baldissera, diretor técnico da Emater-RS.
De acordo com a Emater, prejuízos se concentram diferentes regiões da metade Oeste do Rio Grande do Sul, com os piores resultados na região de Bagé, próximo da fronteira com o Uruguai, com 1.679 kg/hectare (ou 27,9 sacas/ha), Santa Rosa, com 1,743 kg/hectare (29 sacas/ha), e Santa Maria, com 1,816 kg/hectare (30,2 sacas/ha).
Ao todo, segundo Baldissera, o prejuízo trazido somente com a soja chega a R$ 13,5 bilhões em valor bruto que deixa de ser gerado pelos produtores.
Nos últimos anos, o Rio Grande do Sul enfrenta diferentes problemas climáticos em suas safras, com secas ou ainda fortes chuvas, como em maio do ano passado.
Entre 2020 e 2024, o estado teve perdas de R$ 117,8 bilhões com a falta de chuvas, em valores corrigidos pela inflação, segundo estimativa da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul).
Com um passivo acumulado no período recentes, os produtores estão endividados, na avaliação do vice-governador gaúcho, Gabriel Souza, que cobrou, durante a coletiva, mais apoio do governo federal – que não enviou o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro - em 2024, Fávaro esteve na feira.
“As medidas anunciadas não são suficientes, precisamos olhar o Rio Grande do Sul de uma maneira diferenciada”, afirmou.
“Temos um acúmulo de endividamento dos produtores porque estamos na quarta estiagem consecutiva no Rio Grande do Sul. O prejuízo é gigantesco e precisamos de ações efetivas para amenizar ou resolver essa situação”, afirmou.
Ontem, durante a abertura da Expodireto, o governo gaúcho anunciou o repasse de R$ 46,7 milhões a municípios afetados pela estiagem, além da publicação de dois decretos relacionados ao tema. No momento, 211 municípios gaúchos decretaram situações de emergência devido aos problemas de estiagem.
Apesar dos prejuízos com a soja, em outras culturas, o Rio Grande do Sul apresentou uma performance melhor. No caso do arroz, a produção deve aumentar 12,9% em relação ao ciclo anterior. Já o milho deve crescer 6,1% nesta safra, segundo a Emater-RS.