Não-Me-Toque (RS) - O sul-coreano Carlos Kim chegou ao Brasil no começo do ano com duas metas que se comprometeu a cumprir ao longo de 2025.
Uma é assumir o comando da LS Tractor no país. A marca pertence à LS Mtron, fabricante de máquinas agrícolas com matriz na Coreia do Sul e que está no mercado nacional há pouco mais de uma década. A outra meta é aprender a falar português em um ano.
Esse último ponto é relevante porque a comunicação ainda é uma questão a ser resolvida pela LS no país.
"Infelizmente, entre Coreia do Sul e Brasil, temos muita falta de comunicação. Mas eu tenho uma boa relação com a sede da LS e posso ajudar. Todo dia eu converso com eles", disse Kim, o novo presidente da LS Tractor no Brasil, em entrevista ao AgFeed durante a Expodireto Cotrijal, feira realizada em Não-Me-Toque, no interior do Rio Grande do Sul, ao longo desta semana.
Para resolver esses problemas, a companhia planeja investir R$ 166 milhões em três anos, começando a partir de 2025, em sistemas de integração entre a operação coreana e brasileira.
"Hoje, apesar de sermos uma multinacional, temos diferentes versões de softwares de gestão aqui e na Coreia, os sistemas não se comunicam. Ainda temos também muitos relatórios de Excel, gerando demora, perdas e erros de informação", diz o diretor comercial da LS Tractor no país, Felippe Vieira.
Recém-chegado ao Brasil, depois de trabalhar por dez anos na operação da LS no exterior, Kim está passando por uma verdadeira imersão nas feiras agrícolas do país no começo deste ano.
Há pouco mais de um mês, ele participou da Show Rural, evento realizado pela Coopavel, cooperativa de Cascavel, no Paraná, e, desta vez, pisou pela primeira vez no Rio Grande do Sul.
Desde que aterrissou no Brasil, em 2012, a LS sempre tem CEOs coreanos à frente da companhia e brasileiros na diretoria.
Com esse sistema, a companhia rapidamente aprendeu a falar o idioma dos agricultores brasileiros. Dispondo de tratores menores em seu portfólio, em uma faixa que vai 25 cv a 140 cv, a LS consolidou ao longo da última década sua atuação entre os produtores de café e laranja do país.
No café, a LS é a fornecedora exclusiva de tratores da cooperativa Cooxupé, de Guaxupé (MG), a maior do mundo na cultura.
Recentemente, a empresa também entrou no mercado da silvicultura, fornecendo tratores para companhias como a gigante chilena de celulose CMPC, que tem operações no Brasil. As máquinas da LS são utilizadas no processo de plantio de eucalipto, que necessita de tratores pequenos.
“Estamos tendo boa aceitação no mercado, com um trator específico para silvicultura e um pacote de soluções de pós-venda de encontro com a necessidade do frotista”, afirma Vieira.
Comercialmente, com a chegada de Carlos Kim, a companhia também vem adotando uma nova estratégia para crescer 8% em volume de vendas neste ano, chegando a 3 mil tratores vendidos.
No ano passado, a comercialização cresceu, mas em ritmo mais devagar, com a LS fechando o ano com 2.760 tratores comercializados, alta de 3%. “A gente sabe que precisa ser mais agressivo”, resume Felippe Vieira, o diretor comercial.
Partindo dessa filosofia, a ideia da LS para esse ano é alcançar com mais força também o segmento de hortifruti, principalmente em culturas como manga, goiaba e uva, oferecendo especialmente modelos de 25 cv e 45 cvs – mais uma forma de chegar aos agricultores familiares, base de clientes da empresa.
Isso não quer dizer que a montadora vá deixar de lado os produtores das culturas de café e laranja, ressalta Felippe Vieira. "A ideia é continuar forte no café e na laranja, mas também voltar a atenção para horticultura", afirma.
Uma forma de alcançar os horticultores, na avaliação de Vieira, pode ser via cooperativas – depois do sucesso comercial com a Cooxupé, outras cooperativas de café têm, segundo o executivo, procurado a LS. "Dependendo do interesse, a LS tem disponibilidade de estar conversando com cooperativas de outras culturas também", afirma.
A LS também está com um plano de expansão para as regiões Nordeste e Centro-Oeste. A companhia já havia conseguido chegar a esses mercados com a expansão de seu portfólio, mas quer intensificar sua presença nessas regiões.
"Inicialmente, a gente começou com um portfólio de máquinas de até 100 cavalos. Aumentamos o portfólio de máquinas de 100 cv para até 145 cv, conseguimos entrar mais na região do Mato Grosso, e entramos também no Norte e Nordeste, alcançando produtores de frutas", afirma o diretor comercial da LS.
A empresa é a única de seu setor no país a utilizar cabotagem para enviar os produtos para o Norte brasileiro, aproveitando a proximidade da sede da companhia no Brasil com os portos catarinenses. Mas também quer estar mais próxima dos produtores.
Dentro dessa estratégia, a LS prevê para este ano a abertura de 20 novas lojas de concessionários. Hoje são 76 concessionários ao redor do país, com atuação principalmente nas regiões Sul e Sudeste.
“Tem um foco também no Nordeste para a abertura de novas lojas, mas não só por lá, serão abertas novas lojas em todo o Brasil para melhorar a cobertura”, afirma Vieira.
Um ponto que o novo presidente da LS no Brasil, Carlos Kim, vê como um desafio a ser resolvido para logo é o financiamento das máquinas por parte dos concessionários, que é mais difícil no país em comparação com o exterior.
No modelo das revendas de máquinas agrícolas, o concessionário adquire a máquina junto à companhia e tem um prazo de 90 dias para fazer o pagamento.
"Nos Estados Unidos, eles dão 270 dias ou um ano para pagar. Os concessionários compram o trator e pagam durante esse período. Já no Brasil, o prazo é muito limitado. Essa questão do financiamento tem que ser resolvida rapidamente.”