Não-Me-Toque (RS) - A cooperativa agroindustrial gaúcha Cotrijal viverá dias de festa esta semana. A partir da segunda-feira, 10 de março, até a sexta, 14, ela receberá um contingente estimado entre 230 mil e 280 mil pessoas, que visitarão estandes de mais de 610 expositores em seu parque de exposições de mais de 130 hectares no município de Não-Me-Toque.

Os números refletem a expectativa em torno da edição 2025 Expodireto Cotrijal, segundo grande evento do calendário anual de feiras agropecuárias no País.

Mais do que eles, entretanto, o que torna “histórica” a feira deste ano é o fato de se tratar das “bodas de prata” da exposição e ocorrer em um momento de recuperação do Rio Grande do Sul, após as grandes enchentes de maio do ano passado.

“Entendemos que a Expodireto Cotrijal desempenha um papel crucial neste contexto, funcionando como um ponto de encontro que fortalece e motiva os produtores rurais a buscar soluções inovadoras para superar esses obstáculos”, afirma o presidente da Cotrijal, Nei César Mânica.

A retomada não quer dizer, no entanto, que todos as preocupações cessaram. O momento é de atenção com a situação da safra de soja, que começou a ser colhida no estado no último dia 28 de fevereiro e que term trazido aflições ao setor produtivo local.

Várias regiões gaúchas sofreram com estiagem e altas temperaturas neste verão e a expectativa é de que a Emater-RS anuncie, ao longo da Expodireto, dados mostrando quebras na safra de soja – se a projeção se confirmar, seria a quarta quebra consecutiva no Estado, um dos maiores produtores da oleaginosa no Brasil.

A estiagem, evento climático que atinge historicamente os produtores gaúchos, tem trazido prejuízos para o Rio Grande do Sul nos últimos anos.

Entre 2020 e 2024, o estado teve perdas de R$ 117,8 bilhões com a falta de chuvas, em valores corrigidos pela inflação, segundo estimativa da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul).

Enquanto o setor aguarda os dados consolidados, a Cotrijal se prepara com otimismo moderado para as “bodas de prata” de seu grande evento do ano, que cresceu consideravelmente em pouco mais de duas décadas.

Na primeira edição da Expodireto, em 2000, foram 41 mil visitantes, 114 expositores e R$ 21 milhões em negócios, números bem diferentes do ano passado, quando a quantidade de visitantes saltou para 377 mil, o número de expositores avançou para 577 e o volume de negócios feitos foi de R$ 7,9 bilhões, valor recorde.

“Ao longo dessas 25 edições a feira foi ganhando cada vez mais espaço e credibilidade, virou uma referência e, principalmente, palco de importantes debates e reivindicações para o produtor rural", afirma Nei Manica.

A feira também é uma forma de a própria Cotrijal deixar para trás o ano de 2024, quando registrou uma queda de 7% em seu faturamento, que foi de R$ 4,9 bilhões no período, resultado de problemas de produtividade na soja e no trigo.

“2024 foi um ano difícil, mas superamos. Agora, precisamos olhar para frente com otimismo e focar na recuperação da cadeia produtiva do Estado”, disse Manica ao AgFeed em janeiro.

O presidente da Cotrijal está confiante de que a feira vai refletir a capacidade do setor de se recuperar, ainda que admita que o estado vive um momento de desafios.

“Muitos produtores ainda estão capitalizados e há uma grande presença de visitantes de outros estados, o que fortalece a comercialização durante o evento”, diz.

“Os negócios que não forem fechados imediatamente durante a feira certamente se concretizarão ao longo do ano, pois a Expodireto também é um ponto de partida para futuras negociações.”

Fabricantes de máquinas e implementos agrícolas concentram sua artilharia de lançamentos na Agrishow, a maior feira de máquinas do Brasil, que será realizada entre o fim de abril e o começo de maio em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. Mas algumas empresas também vão apresentar novidades na Expodireto.

“É perceptível que, mesmo diante das dificuldades climáticas, as empresas estão investindo fortemente na presença na feira, mostrando otimismo e compromisso com o futuro do setor”, avalia Manica.

A John Deere, por exemplo, vai trazer uma nova tecnologia que começou a ser comercializada no começo deste ano, chamada JDLink, que utiliza a rede Starlink, da SpaceX, permitindo o monitoramento contínuo das máquinas na lavoura. A empresa também vai trazer a carreta graneleira GreenSystem, com alta capacidade de descarga.

Ainda no mundo do maquinário, Valtra, Massey Ferguson, Titan Pneus, Jacto e Piccin já anunciaram que trarão novidades aos participantes do evento.

Empresas de outros segmentos também vão aproveitar para apresentar novidades, como as gigantes dos químicos Corteva, FMC e Basf.

A última, inclusive, está se preparando para lançar no Brasil, ainda no primeiro semestre de 2025, um inseticida chamado Efficon para o combate contra a cigarrinha nos cultivos de milho e algodão e vai trazer mais detalhes sobre o novo produto na Expodireto.

Instituições financeiras regionais também estarão presentes, como o Banrisul, banco público do Rio Grande do Sul, que vai oferecer mais uma vez financiamentos para irrigação e recuperação de solos, e o BRDE, banco de fomento da região Sul, que vai aumentar a quantidade de recursos disponibilizados para tomada de financiamento ao longo da feira, passando de R$ 250 milhões no ano passado para R$ 300 milhões neste ano.