Rios que transbordaram e levaram junto as lavouras, criando montes de areia. Plantações que ficaram submersas e perderam boa parte dos nutrientes do solo. São efeitos da tragédia climática que atingiu o Rio Grande do Sul e que agora precisam ser enfrentados.

Nesta terça-feira, na Expointer, em Esteio, especialistas discutiram o caminho para recuperar o solo, em debate promovido pela Dimicron, uma das empresas do grupo ICL e pela Cotribá, uma das principais cooperativas agropecuárias do estado.

Na cooperativa, as vendas de insumos para as chamadas “terras baixas”, que foram as mais afetadas pela enchente, representaram no ano passado 60% do volume adquirido.

“Nesta época estas regiões deveriam ter comprado 70% dos insumos, mas o mercado rodou apenas 30%”, contou Eduardo Flores, coordenador de insumos agrícolas da Cotribá, ao AgFeed.

Ele diz que já trabalha com a possibilidade de que uma parte destes produtores realmente não consiga comprar, em função das dificuldades financeiras, de fluxo de caixa.

“Se o produtor está com problema de pagamento devido a enchentes, e duas estiagens, ele não consegue se programar pra comprar, não tem crédito não”, explicou.

A Dimicron, marca de fertilizantes líquidos da ICL, comercializa aos produtores gaúchos por meio de um acordo comercial com a Cotribá.

O gerente de vendas da ICL/Dimicron, Gelio Andrade, disse ao AgFeed que a empresa em aumentado limites e até negociado prazos maiores em casos específicos para cooperativas, entendendo o atual momento, mas a dificuldade está sendo esse atraso na compra por parte do produtor rural.

Ainda assim, Gelio e Eduardo estiveram no painel que reforçou aos produtores a necessidade de recuperar o solo, para não perder mais ainda em produtividade.

“No Vale do Taquari, que foi mais afetado, ou ali na região central do Estado do Rio Sul, ali nós tivemos correnteza e teve um carreamento de solos, ele seifou o solo aqui, e em algum outro ponto, ele depositou areia. A parte rica do solo, que é a matéria orgânica e argila, foi levada, ficou areia”, explica Andrade, da Dimicron.

Ele conta que percorreu uma das regiões atingidas, recentemente, e sua equipe comparou as análises de solo deste ano com a safra passada. “Teve um decréscimo muito grande do elemento enxofre e boro. Então, com certeza esses elementos, a gente vai ter que ter uma atenção muito grande”, ressaltou.

A expectativa é pela necessidade de aplicar mais fósforo e outros macronutrientes. Porém, com as vendas “represadas”, como descreve o gerente da Dimicron, talvez uma alternativa seja mais a frente o produtor optar por mais fertilizantes foliares, para recuperar aquilo que o solo não terá oferecido.

Andrade diz que “teoricamente, vai haver um incremento de consumo de nutrição. Tanto via solo, como via semente, como via folhar”. Ele ponderou, no entanto, que o produtor tem mostrado pouco ânimo de investimento, em função de suas dificuldades financeiras, por isso o cenário é ainda incerto.

O executivo diz que as vendas no estado seguem atrasadas. Um exemplo é a compra de produtos para tratamento de sementes, que estaria em 40% do que é esperado para a safra, enquanto, tradicionalmente, já deveria estar em 70%.

Neste cenário, a Cotribá admite que deve ter um recuo de pelo menos 15% nas vendas de produtos nutricionais em 2024. No ano passado a cooperativa faturou R$ 350 milhões com defensivos e R$ 320 milhões em fertilizantes. “A receita reduziu em função do preço, mas tivemos um aumento de market share, com mais volume”, afirmou Eduardo Flores.

A boa notícia é que na região Norte do estado gaúcho, as vendas estão 10 pontos percentuais mais avançadas que a média, com 90% das vendas já realizadas, segundo ele.

Safra de grãos deve crescer

A Emater-RS divulgou nesta terça, na Expointer, a primeira estimativa para a safra de verão 2024/2025 no Rio Grande do Sul. Foi prevista uma produção de 35,07 milhões de toneladas de grãos de verão, o que inclui arroz, feijão 1ª safra, milho e soja.

O número representa um aumento de 16,91% em relação à safra anterior, que registrou 29,99 milhões de toneladas. A área cultivada de 8,53 milhões de hectares também teve um acréscimo de 1,09% em relação ao ano anterior.

Para a soja, a Emater prevê uma produção de 21,65 milhões de toneladas, registrando um aumento de 18,59% em relação à safra passada que foi de 18,25 milhões de toneladas.

A área plantada de soja foi estimada em 6,81 milhões de hectares, acréscimo de 1,54% comparada ao ano anterior, de 6,7 milhões de hectares.

Na visão dos especialistas participantes do debate da Dimicron, porém, a expectativa é de uma queda na produtividade da soja de cerca de 10%.

Isso porque boa parte dos produtores está descapitalizada e poderá reduzir o uso de tecnologias nas lavouras. Além disso, mesmo que apliquem as mesmas doses de insumos, os danos à saúde do solo provocados pelo excesso de chuva ainda podem demorar anos para serem revertidos.

Lideranças que participaram do anúncio na Emater também ressaltaram que as previsões, para que se concretizem, ainda dependem da capacidade financeira do produtor, que acumula R$ 25 bilhões em dívidas acumuladas das duas estiagens passadas, mais os problemas da enchente.