Ribeirão Preto (SP) - O "réveillon" do agronegócio brasileiro está próximo. Na reta final da safra 2024/2025, que se encerra em junho deste ano e marca o fim do ano agrícola, o Sicredi, que bateu R$ 43,3 bilhões em crédito rural, já vislumbra a próxima safra que se inicia em julho.
O porém é que a temporada promete uma dificuldade extra às instituições financeiras que atuam no setor.
Diferente do ano passado, onde a taxa básica de juros, a Selic, estava em pouco mais de 10% ao ano, a próxima temporada se iniciará, se o mercado financeiro estiver correto, com uma Selic a 15%.
O Governo Federal já sinalizou que luta para aumentar o valor que subsidiará as taxas competitivas do próximo Plano-Safra. Na coletiva de abertura da Agrishow 2025, o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, declarou que o governo vai trabalhar para ter aumento do valor do crédito agrícola, e que, "certamente exigirá uma equalização maior em função do aumento da taxa Selic".
Para Alckmin, o empenho do governo se justifica porque "quando o agro vai bem, ajuda a indústria e quando a indústria vai bem, ajuda o agro". “São irmãos siameses", brincou.
Na visão de Silas Souza, gerente de Regulações Agro do Sicredi, o cenário desafiador espreme ainda mais a margem do produtor rural e, por isso, aposta na “estrutura cooperativa” da empresa para driblar esse momento.
“Temos uma estrutura com que conseguimos levar recursos para o produtor com taxas competitivas, sejam recursos controlados ou livres. Nossa expectativa é manter a carteira ou até aumentar levemente na próxima safra”, disse o executivo ao AgFeed.
Essa estrutura envolve 103 cooperativas que fazem parte do sistema Sicredi e 2,9 mil agências. O Sicredi soma hoje mais de 9 milhões de associados.
Os pouco mais de R$ 43 bilhões repassados na safra até março deste ano representam um avanço de 2,5% no valor liberado em relação ao mesmo intervalo da safra 2023/2024. “Uma representatividade de 11% nos repasses ao agro”, acrescenta.
O montante liberado se junta aos R$ 103 bilhões da carteira agro da instituição. Segundo Souza, a empresa é a líder privada em repasses ao setor.
O montante representa uma alta de 21% em relação ao patamar da carteira em um ano. O Sicredi ainda contava, ao final de março, com R$ 30,4 bilhões via CPR em carteira.
“Esse montante está aplicado e distribuído em mais de 3 mil municípios, reforçando o desenvolvimento econômico e social local. O dinheiro circula onde a cooperativa está”, acrescentou o gerente.
Dos 9 milhões de associados, pouco mais de 780 mil são do agronegócio. A maior parte, 83% é de agricultura familiar, 12% são de porte médio e 5% grandes. Em 2024, a instituição destinou mais de R$ 9,6 bilhões por meio do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar).
Além da estrutura robusta, outra alternativa do Sicredi para driblar os juros e manter o financiamento rural é o consórcio. Em 2024, a instituição atingiu R$ 14,8 bilhões em comercialização desse tipo de produto, um avanço de 31,9% em comparação com o ano anterior.
Segundo dados da ABAC (Associação Brasileira de Consórcios), o mercado de consórcios cresceu 19% no ano passado. No agro, considerando o intervalo de abril do ano passado até março deste ano, foram comercializados R$ 3,2 bilhões em consórcios agrícolas.
“Para os associados que não têm urgência na aquisição do bem, o consórcio representa uma opção financeiramente mais eficiente e com menores custos”, disse Devanir Brisola, gerente de Desenvolvimento de Negócios da Central Sicredi para os estados do Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro. No Sicredi, os consórcios têm cotas de R$ 10 mil a R$ 1,5 bilhão.