Não-Me-Toque (RS) - O estande da indústria de insumos agrícolas Ihara na Expodireto Cotrijal viveu um dia de intenso movimento nesta quarta-feira, 12 de março.

Além da tradicional atenção aos produtores rurais da região e outros visitantes, uma informação inesperada permeou as conversas com os executivos presentes ao evento: a eventual aquisição, pela companhia com sede em Sorocaba (SP), da indústria paranaense de fertilizantes Innova.

Antecipado pelo site Globo Rural, a partir de informações extraídas de um despacho do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), onde a transação tramita desde janeiro passado, o negócio envolve a aquisição de 85% das ações de Adriano Renato de Azeredo, fundador e um dos sócios da Innova.

A empresa sediada em Foz do Iguaçu e fabrica fertilizantes líquidos, granulados e pastilhados, inoculantes, adjuvantes, sais solúveis e agentes de controle biológico.

A aquisição seria um marco para a Ihara no momento em que inicia a celebração de seus 60 anos.

Caso seja confirmado, o negócio ampliaria as frentes de atuação da companhia, que é brasileira, mas tem como controladores seis grupos japoneses: Nippon Soda, Mitsubishi Corporation, Kumiai Chemical, Mitsui Chemicals Crop, Nissan Chemical e Sumitomo Corporation.

Esses grupos fabricam e desenvolvem, no Japão, as moléculas que dão origem aos defensivos químicos que a Ihara comercializa no Brasil.

Nem Ihara nem Innova se pronunciaram sobre o negócio. “Nós não fomos autorizados a comunicar nada em relação a isso enquanto não estiver formalizado”, afirmou Lucas Botelho, diretor comercial nacional da Ihara, em entrevista ao AgFeed na Expodireto.

Mas o documento do Cade aponta que, mesmo com a aquisição, a Innova seguiria operando de forma independente, mas “com forte alinhamento operacional e estratégico às diretrizes da Ihara”.

Uma aquisição e a entrada em novos negócios são chaves para abrir novas fases de crescimento. E foi justamente a volta ao crescimento – mas a partir de outras estratégias comerciais – o mote da conversa com o executivo.

Depois de dois anos consecutivos de faturamento mais baixo, em virtude da dificuldade vividas pelos produtores rurais nos últimos anos, a Ihara projeta voltar a ver seus resultados ganharem corpo, retornando a um período de expansão que a companhia vinha experimentando ao longo da última década.

O faturamento da companhia, que costumava ser de cerca de US$ 1 bilhão (R$ 5,81 bilhões, na cotação atual), recuou nos últimos anos, passando para cerca de US$ 770 milhões (R$ 4,47 bilhões, na cotação atual) em 2023 e mantendo-se nessa cifra em 2024.

Agora, depois de um começo de ano promissor, a ideia é que a receita volte a subir a atravessar a casa do bilhão, passando a US$ 1,2 bilhão (cerca de R$ 6,97 bilhões na cotação do dia) previsto para 2025.

“Esse ano já começou melhor, com janeiro e fevereiro já sob recuperação, crescendo mais de 30% em relação ao ano de 2024 em faturamento. Em volume, cresceu 50% só em janeiro e fevereiro. É o nível que esperamos para o trimestre de uma forma geral”, disse Botelho.

Isso, salienta Botelho, mesmo com a perspectiva de novos desafios, especialmente na obtenção de crédito, mais caro com a escalada da taxa Selic, e mais restrito, com produtores mais endividados.

“A gente tem uma previsão muito boa para o ano de 2025, apesar dos grandes desafios de crédito, de margens mais estreitas para o produtor, seja no Cerrado, pressionado pelas commodities, seja no Sul, devido ao clima”, salienta Botelho.

“Mas é um ano de colheita boa no restante do Brasil, com Cerrado e Sudeste com perspectivas boas de colheita”.

Para crescer ao longo deste ano, a Ihara está atuando com duas estratégias: aumentar o acesso dos produtores aos produtos da companhia e o lançamento de novos itens em seu portfólio, adicionando mais inseticidas, herbicidas, fungicidas e insumos biológicos.

O acesso indica se um produtor usa pelo menos um produto Ihara. Hipoteticamente, se 10 agricultores responderam a pesquisa da Kynetec, consultoria que faz avaliações de mercado, e 5 alegaram que usam pelo menos um produto Ihara, isso significa que a Ihara tem 50% de acesso.

O plano da Ihara é aumentar consideravelmente o percentual que tem hoje no mercado. “O acesso da Ihara é em torno de 55%, 60%. A gente pretende levar o acesso para acima de 80% no mercado”, explica Botelho.

Essa estratégia passa por um melhor alinhamento de parcerias com clientes, segundo Botelho. Para vender seus produtos, a Ihara faz vendas diretas, via cooperativas ou ainda por distribuidores e revendas.

A companhia está presente nas principais culturas agrícolas como soja, milho e cana, crescimento que se deu ao longo da última década. Antes, segundo Botelho, a Ihara atendia mais a alguns nichos de mercado como arroz, algodão e HF – sigla para hortaliças e frutas.

“A gente quer ser mais relevante nos clientes parceiros onde estamos. Não é uma estratégia comum a todos os clientes, mas em alguns clientes direcionados em algumas regiões, temos um nível de sinergia e parceria maior para a gente poder ser relevante, ter uma relação mais próxima,”, diz o executivo.

Na frente de produtos, a companhia pretende lançar pelo cinco produtores, como um inseticida para combater insetos mastigadores, um fungicida, um herbicida premium para a cultura do milho, além de mais “dois ou três” insumos biológicos.

A Ihara cresceu consideravelmente ao longo da última década, amparada pelo crescimento de novos produtos, com uma média superior à praticada pelo mercado.

“Em 2017, por exemplo, a gente lançou mais de 15 produtos. No ano passado, foram 7. A gente tem lançado produtos todo ano e isso é bem acima do que a média que a gente vê das outras empresas”, diz o diretor comercial.

O crescimento também tem sido pautado por investimentos. Em 2023, por exemplo, foram investidos R$ 180 milhões, englobando expansões de capacidade de sua fábrica em Sorocaba, no interior de São Paulo, e aquisição de áreas para construir centros de pesquisa, no Paraná e Mato Grosso.

No ano passado, a Ihara projetava investir cerca de R$ 90 milhões, principalmente em pesquisa e desenvolvimento.