Reconhecida como maior feira de tecnologia agrícola na América Latina, a Agrishow começa na próxima segunda, 29 de abril, com a presença crescente de empresas ligadas ao financiamento do setor, o que inclui bancos tradicionais e também as gestoras, que chegaram mais recentemente ao agronegócio.

O evento também é marcado por anúncios de novidades pelas empresas e até mesmo pelo poder público. O governo do estado de São Paulo, por exemplo, promete um aporte “bilionário” para incentivar a agropecuária.

A expectativa é de uma concorrência acirrada no universo de grandes bancos, fintechs e cooperativas, por exemplo, todos com foco em fechar operações de crédito com os produtores rurais.

Os sistemas de cooperativismo de crédito, por exemplo, como Sicredi e Sicoob, terão grandes estandes na feira, e prometem “atender todas as necessidades dos clientes”, como descreveu um executivo.

A estratégia é fechar o maior número de negócios possível, de forma a reter aquele produtor como cliente, por mais tempo.

O Sicoob espera que suas 14 cooperativas singulares que estarão na Agrishow superem os R$ 2 bilhões realizados em 2023.

A central de cooperativas de crédito vai aumentar seu espaço de 400 para 600 metros quadrados, mas não dá detalhes sobre eventuais condições especiais em suas linhas de crédito durante a feira.

Maior cooperativa singular dentro da Sicoob e a maior do país em ativos, a Credicitrus vai dobrar de tamanho na Agrishow 2024. “Termos um estande de 500 metros quadrados, e a sede da cooperativa vai se mudar para a feira durante toda a semana, para agilizar a análise de crédito”, conta Fábio Fernandes, diretor de Negócios da Credicitrus.

O executivo afirma que a cooperativa tem a expectativa de fechar cerca de R$ 400 milhões em crédito durante a feira. “Nós temos um total de R$ 700 milhões em linhas pré-aprovadas, mas não esperamos fechar tudo na Agrishow”, explica Fernandes.

O Sicredi também estará na Agrishow, e chega com o status de ser o maior agente financeiro em liberação de recursos do BNDES, com mais de R$ 8 bilhões, sendo quase R$ 6 bilhões para o agronegócio no ano passado. A central de cooperativas tem a segunda maior carteira de crédito agro do país, com mais de R$ 80 bilhões.

Gestoras e bancos privados

Além dos bancos tradicionais, que atuam há décadas no setor, até mesmo as casas de investimento, como a Galapagos Capital, estarão presentes na Agrishow tentando atrair os produtores rurais não só como investidores, mas como tomadores de crédito.

“Participar da Agrishow pela segunda vez é mais do que uma presença, é uma oportunidade de nos conectarmos com os empresários rurais, entender suas necessidades e apresentar soluções inovadoras que impulsionam suas operações”, afirma Marco Bologna, sócio da Galapagos.

Bologna afirma que a estreia na Agrishow, no ano passado, foi importante para mostrar a marca da Galapagos ao agronegócio. “Para esse ano, a estratégia é ser um centro de conexões entre o mercado de capitais e o agronegócio, com uma intensa agenda de palestras e encontros com grandes nomes do setor”, diz o executivo.

No caso dos bancos, as estruturas serão grandes, mesmo que as perspectivas estejam mais próximas de repetir o que foi gerado de negócios na Agrishow do ano passado, que gerou R$ 13,3 bilhões em operações que foram iniciadas no período da feira.

O Santander, por exemplo, terá um estande de 400 metros quadrados, uma equipe comercial de 100 pessoas, e um total de 250 pessoas trabalhando durante a Agrishow desse ano.

Ricardo França, head de Agronegócios do banco, afirma que vai para a feira com o objetivo de repetir os R$ 2 bilhões feitos em 2023. “Nós vamos lá para atender as necessidades dos clientes, sejam elas quais forem”.

Durante a Agrishow, o Santander vai oferecer condições especiais em alguns produtos, como consórcio, Cédula do Produto Rural (CPR) e a linha de investimentos Multiagro.

“Há dois anos, nós mudamos a forma de atuar na Agrishow. Antes, nós pegávamos os pedidos feitos por produtores nos estandes das empresas, como montadoras de máquinas, por exemplo, e fazíamos a análise de crédito junto com os outros bancos. Agora, nós atendemos diretamente o produtor, e ele sai com o crédito pré-aprovado para comprar a máquina”, explica França.

Ele afirma que no modelo anterior, a conversão efetiva das operações iniciadas durante a Agrishow era muito baixa. A partir da mudança, essa taxa de conversão passou a ficar próxima de 70%. “Se fizermos um volume menor, mas com uma conversão de 80%, já estaremos muito satisfeitos”.

O Santander vem crescendo rapidamente no crédito agrícola. No ano passado, o banco fechou com uma carteira de quase R$ 54 bilhões, com crescimento de 42% em relação a 2022.

França afirma que o objetivo principal do Santander vai além do crédito. “Eu vou ter um dia inteiro de agenda com clientes que já fazem ou fizeram alguma operação conosco, mas para os quais não somos o banco principal. Eu quero que eles tenham conta corrente, cartão de crédito, queremos atender todas as necessidades”.

Governo de São Paulo tem até Fiagro a caminho

Tradicionalmente, o governo do estado de São Paulo também faz anúncios de mais recursos e linhas de crédito subsidiadas durante a Agrishow.

Em comunicado divulgado nesta quarta-feira, o governador Tarcísio de Freitas formalizou a liberação de R$ 600 milhões em créditos tributários acumulados do ICMS para incentivar fabricantes de máquinas e produtores de proteína animal, medida que ele pretende reforçar na abertura do evento.

Mas outros anúncios são esperados. No mesmo texto enviado a imprensa, o secretário de Agricultura do estado, Guilherme Piai, afirma que “além da liberação de ICMS, vamos anunciar na Agrishow, em Ribeirão Preto, um amplo pacote de ações estimadas em R$ 1 bilhão para impulsionar o agro paulista.”

Reportagem publicada pelo site The Agribiz relata que, segundo o governador de São Paulo, um total de R$ 500 milhões deste anúncio a ser feito em Ribeirão Preto estaria relacionado ao “Fiagro paulista”.

O texto menciona que o governo paulista deve dividir os recursos em dois fundos: um Fiagro composto por direitos creditórios, e um FIDC tradicional.

No fim do ano passado, o AgFeed mostrou que o primeiro Fiagro estadual estava prestes a ser lançado pelo governo de São Paulo, processo liderado pela Desenvolve SP, que administra o Feap, Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista.

A Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo também já anunciou que R$ 60 milhões serão direcionados para subsidiar taxas de juros para financiamento de tratores a pequenos e médios produtores, em um programa chamado Pró-Trator.

A expectativa da Secretaria é entregar, em 2024, quase 10 vezes mais tratores em 2024 na comparação com 2023, chegando a cerca de 2.400 unidades, contra 257 do ano passado.