Ribeirão Preto (SP) - Os portões da Agrishow, maior feira de tecnologia agrícola da América Latina, serão abertos somente na manhã desta segunda-feira, mas a movimentação política já começou no domingo.

Para driblar a saia justa do ano passado, quando o ministro da Agricultura teria sido “desconvidado” a fim de evitar o encontro com a visita e os apoiadores de Jair Bolsonaro, desta vez a Agrishow teve uma cerimônia de abertura “antecipada”, realizada neste domingo, com a presença de lideranças do setor, entidades que organizam o evento, políticos e jornalistas.

Quatro ministros do governo Lula marcaram presença: Carlos Fávaro, da Agricultura e Pecuária, Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário, e Luciana Santos, da Ciência, Tecnologia e Inovação, além do vice-presidente da República Geraldo Alckmin, que também acumula o cargo de ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Nos cumprimentos a autoridades e lideranças presentes, o ministro Carlos Fávaro disse que destacaria dois nomes: “Francisco Maturro e Maurílio Biaggi, que moram no meu coração”, afirmou.

A declaração busca reforçar que o momento é outro na relação com as entidades que organizam a Agrishow. Maturro era presidente da feira no período em que o “desconvite” de Fávaro virou a principal manchete do evento e, a partir dali, foi buscando uma reaproximação que, pelo visto, deu certo.

Já o empresário Maurílio Biaggi é figura histórica da evolução da produção de biocombustíveis no País e já tinha relação próxima ao governo Lula, desde os primeiros mandatos do petista.

O “ruído político”, no entanto, não foi eliminado totalmente. É quase regra na abertura da Agrishow ter a presença do governador de São Paulo, o que desta vez não ocorreu. Tarcísio de Freitas, no mesmo horário, participava de um comício promovido em Ribeirão Preto pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, que também teve a presença do governador de Goiás, Ronaldo Caiado.

O governo paulista foi representado pelo secretário da Agricultura, Guilherme Piai e outras autoridades estaduais. Nos bastidores da cerimônia, lideranças criticaram a ausência do governador, mas não houve menção direta durante os discursos.
Participou de boa parte da cerimônia o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado Pedro Lupion, que apesar de elogiar o diálogo com o atual governo, criticou as 48 invasões de terra registradas no chamado “abril vermelho”. Esse é um dos argumentos do movimento organizado pelos produtores rurais bolsonaristas que não foram à solenidade.

Neste tema, o ministro do Desenvolvimento Agrário Paulo Teixeira foi aplaudido ao dizer que “o governo do presidente Lula trabalha pela pacificação no campo”. Ele disse que está trabalhando para que o plano Safra da Agricultura Familiar também traga volume de recursos recorde no pilar voltado à mecanização, que ainda é muito baixa no Brasil.

CPR BNDES e expectativa para o Plano Safra

O programa que mais impulsiona a venda de máquinas e equipamentos está com recursos esgotados desde o ano passado e por isso a mobilização do setor é para que sejam garantidos maiores volumes no Plano Safra 2024/2025, que deve ser divulgado daqui a dois meses.

A estratégia do governo federal, que ainda discute o montante e a taxa de juros que será praticada no novo ciclo, foi apresentar como “alternativa” nesta Agrishow, por enquanto, o lançamento de uma linha de crédito chamada CPR BNDES, que vinha sendo aguardada há algum tempo.

“Hoje estamos aqui lançando mais uma linha de crédito, que pode ser usada para custeio e investimento, para armazenagem, capital de giro, inclusive pra quem quiser alongar dívidas já existentes e também pra quem tem recebíveis em dólar”, anunciou Alexandre Correa Abreu, diretor financeiro do BNDES, durante a cerimônia de abertura da feira.

A previsão é alcançar R$ 10 bilhões com a nova linha, em 2024. Com a chamada CPR BNDES, poderão ser realizadas operações com CPR Financeira ou com CDCAs (Certificados de Direitos Creditórios do Agronegócio).

O limite de empréstimo por cliente será de R$ 20 milhões por ano, com dois anos de carência e mais dois anos para o pagamento. As taxas de juros devem partir de 5,6%, ficando entre 10% e 20%.

Em nota, o governo informou que a taxa final de juros será composta pela remuneração básica do BNDES de 1,3% ao ano, remuneração do agente financeiro de até 4,3% ao ano e pelo referencial de custo financeiro (Taxa de Longo Prazo – TLP; Taxa SELIC – TS; Taxa Fixa do BNDES – TFB ou Taxa Fixa BNDES em Dólar – TFBD).

Em entrevista exclusiva ao AgFeed, o secretário de Política Agrícola, Neri Geller, disse que esta linha foi construída em conjunto com o Ministério da Agricultura para ser uma ferramenta complementar da renegociação recém divulgada para as dívidas dos produtores no crédito de investimento.

“Sabemos que tem muitos produtores que estão com problemas e essa linha de crédito serve para duas coisas, a primeira é para o produtor acessar o recurso e renegociar o seu custeio, usar este dinheiro como capital de giro e a segunda é para investimento”, explicou Geller.

Sobre o Plano Safra, o ministro da Agricultura Carlos Fávaro afirmou que “a expectativa é que se consiga um volume ainda maior do que plano recorde divulgado no ano passado”, conforme vem sendo sugerido pelas principais entidades representativas do setor. Ele sinalizou que os juros devem ser menores no novo Plano.

A CNA, por exemplo, propôs ao governo que haja um aumento de 30% no volume de recursos, que chegaria a R$ 570 bilhões.

O AgFeed também conversou com Pedro Estevão, diretor da Câmara de Máquinas Agrícolas da Abimaq, uma das entidades promotoras do evento. Ele disse que o Banco do Brasil até reservou R$ 500 milhões entre Moderfrota e Pronaf Investimento para liberar durante a feira. “Mas acreditamos que este valor deve acabar em apenas um dia”.

No discurso da cerimônia, o ministro Fávaro convidou aos produtores para que aproveitem o momento para investir, sugerindo que as indústrias que tem estoque poderiam oferecer boas negociações, com um período de carência para pagar.

O diretor da Abimaq disse que isso realmente é possível, assim como negociações em que o produtor rural compra a máquina, mas só recebe daqui a dois meses, quando já estará anunciado o Plano Safra.

Sobre a CPR BNDES, ele disse que “faz sentido, porque tem um período longo de 5 anos e fica viável fazer investimentos com a nova linha”.

Plano estadual será anunciado nesta segunda

A visita do governador Tarcísio de Freitas à Agrishow será nesta segunda-feira, começando por uma cerimônia no auditório do IAC as 10h da manhã, onde deve detalhar o que está sendo chamado de “plano safra estadual”, com a presença do ex-presidente Jair Bolsonaro.

O governo paulista deve confirmar medidas que totalizam a destinação de R$ 1,4 bilhão para o setor, sendo R$ 600 milhões via créditos do ICMS e R$ 500 milhões com o lançamento do primeiro Fiagro que inclui recursos estatais. O restante, R$ 300 milhões, é o valor destinado ao Feap, Fundo Paulista de Expansão do Agronegócio.

No discurso deste domingo, o secretário Guilherme Piai destacou o “primeiro blended finance do País”, se referindo ao Fiagro e também a destinação de R$ 100 milhões para o seguro rural.

Além disso, afirmou que o programa de juros subsidiados para a compra de tratores, que costumava viabilizar pouco mais de 200 unidades entregues por ano, “será multiplicado por 10, chegando 2,4 mil tratores”.