Entre 1928 e 2024, quatro gerações da família Baldan, de Matão, no Interior de São Paulo, comandaram uma das mais sólidas histórias do setor de máquinas e implementos no Brasil.
Quando o centenário chegar, em quatro anos, os membros da terceira e quarta gerações esperam ser donos de uma companhia bastante diferente da que possuem hoje.
Eles começaram a desenhar essa nova fase da Baldan há cerca de três anos, quando, em seu planejamento estratégico, decidiram criar as condições para levar a empresa para outros terrenos, além da fabricação e venda de implementos para o preparo do solo.
A partir desta quarta-feira, 1 de maio, dão mais um passo simbólico na transformação da companhia. Depois de alguns meses de transição ao lado do antecessor, Celso Antonio Gusmão Ruiz – que durante mais de 40 anos atuou na empresa, 18 deles no posto máximo da gestão – o executivo Fernando Capra assume oficialmente o posto de CEO da companhia.
Caberá a ele consolidar a implantação de duas novas linhas de produtos, a de plantadeiras e a de pulverizadores, criadas há dois anos para serem as propulsoras do futuro da Baldan, levando sua receita do atual valor pouco acima do R$ 1 bilhão para algo em torno de R$ 3 bilhões em 2028.
“Essa transição da cadeira de CEO vem sendo trabalhada já há um ano, quando o Celso optou por deixar a cadeira” afirma Capra ao AgFeed em entrevista concedida no estande da empresa na Agrishow. “Nada melhor que uma feira dessa para ser batizado”, diz.
Com o agora ex-CEO passando a integrar o conselho de administração, ao lado dos integrantes da família Baldan e de conselheiros externos – Capra herda a missão de atingir as metas estabelecidas.
“Eu estou na lida já há algum tempo, mas a partir de agora é que a minha assinatura vai pagar o cheque”, brinca.
Cabe ao novo CEO, por exemplo, assinar os últimos cheques destinados a pagar as despesas de instalação de uma nova fábrica – a terceira da empresa – próxima à matriz da empresa em Matão.
Essa unidade deve mais que dobrar a capacidade de produção de pulverizadores e plantadeiras empresa a partir do segundo semestre deste ano, quando for inaugurada.
Dela sairão cerca de 100 máquinas por ano, com equipamentos que começaram a mudar o perfil de faturamento da Baldan, hoje majoritariamente baseado nos implementos voltados para o solo. E de categoria – a indústria de implementos passa a ser oficialmente uma montadora de máquinas.
“A gente passa a ter uma oferta mais completa de produtos para o produtor rural” diz Capra, economista com extensa passagem por empresas de diferentes segmentos do agro, da citricultura nas empresas Citrovita e Citrosuco, do Grupo Votorantim, ao comando do Grupo Santa Rosa, de produção de suínos, que comandava até ser recrutado pela Baldan. “Consequentemente, isso traz uma maior demanda de sofisticação na companhia”.
As áreas de plantio e pulverização demandam, segundo o novo CEO, investimentos muito mais importantes. Nesses segmentos, por exemplo, uma proliferação de novas tecnologias, como sensores e inteligência artificial, elevam a complexidade técnica e produtiva da indústria e suas equipes.
Para responder a esses desfios, a Balnda movimentou-se em vários sentidos. Na área tecnológica, estabeleceu parcerias para desenvolvimento de soluções ao lado de startups e hubs tecnológicos, além de fornecedores.
Protagonistas dos lançamentos da companhia na Agrishow, as novíssimas linhas de pulverizadores autopropelidos, por exemplo, marcam a entrada da companhia no segmento de máquinas motorizadas e, aí, foi necessário contar com fabricantes de motores nosprojetos. “Nós temos algo como se fosse um Baldantech”, diz.
Outro movimento foi financeiro. Nos últimos dois anos a Baldan fez aportes de R$ 200 milhões no desenvolvimento dos produtos e em instalações para sua produção. “E ainda vem mais”, emenda.
A companhia também investiu na construção de dois novos centros de distribuição, um inaugurado na semana passada em Goiânia e outro previsto ainda para este ano em Maringá, no Paraná.
A maior parte dos recursos vieram, de acordo com o novo CEO, da própria operação. Mas houve também captações como a feita em no primeiro trimestre deste ano junto à Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), no valor de R$ 60 milhões, voltada ao projeto Smart Painting, para implantação de um sistema automatizado de pintura a pó nas novas linhas de plantadeiras e pulverizadores.
“Esse é um grande momento. A Baldan vem numa toada de crescimento muito forte e minha grande missão, é consolidar esse crescimento”, afirma. Segundo Capra, a empresa avança em um ritmo médio superior a 20% ao ano – a exceção foi o ano passadom, em que situações de mercado freiaram a demanda. E precisa manter essa toada para triplicar em no máximo cinco anos.
Hoje, 60% do faturamento da empresa vem dos equipamentos para preparo de solo, mercado do qual a Baldan é líder, com mais de 30% de participação, e o restante já é dividido entre pulverizadores e plantadeiras.
Esse balanço pode se alterar, mas não de forma tão significativa. Isso porque, na visão de Capra, além do potencial de crescimento nas novas áreas, a empresa espera alavancar vendas na linha de solo em função de demandas em alta relacionadas a projetos de restauração de solos.
“Vai ter dinheiro específico para quem faz negócios nessa área. E aí os nossos produtos se encaixam perfeitamente nessa missão”, acredita.
Do ponto de vista geográfico, as exportações respondem por 30% das receitas, com potencial de crescimento. Segundo Capra, a Baldan atua há 50 anos no mercado internacional, com foco sobretudo em mercados do que ele chama de “cinturão tropical” na América do Sul, África e até a Oceania.
A orientação agora é olhar para latitudes mais ao Norte; “Naturalmente, quando a empresa evolui tecnologicamente, aumenta o seu leque de oferta, começa a vislumbrar possibilidades e atratividades de mercados mais desenvolvidos” avalia.
Num prazo de três a cinco anos, Capra espera ter operações estruturadas na América do Norte e alguns mercados europeus. “Isso é uma parte importantíssima desse novo período, que a gente vai perseguir bastante”.