Ribeirão Preto (SP) - O economista e empreendedor Johann Coelho tem apenas 27 anos, mas já chama a atenção de players gigantes do mundo do agronegócio.

Sua startup BemAgro, especializada no processamento de dados e na geração de relatórios agronômicos, recebeu um aporte de R$ 10,2 milhões em uma rodada pré-seed que foi liderada pela CNHi, uma das maiores empresas do mundo do setor de máquinas.

Ao AgFeed, Coelho contou que o anúncio, em fevereiro passado, chamou a atenção do mercado e novas empresas ficaram interessadas em se tornar sócias da startup. Ele revelou que a agtech deve estender sua captação e receber mais aportes até junho.

“Tivemos uma repercussão grande do aporte, com mais de 20 players que são grandes e estratégicos demonstrando interesse em também participar. Estamos avaliando propostas e devemos fechar essa captação adicional aos R$ 10 milhões para acelerar o crescimento da empresa”.

A rodada de R$ 10,2 milhões liderada pela CNHi também contou com o aporte da Rural Ventures, Agroven e da revendedora goiana MMAgro. De acordo com o CEO, interessados em investir no negócio são players estratégicos, que para além do capital, ajudarão a empresa a ganhar escala e também no smart money.

Coelho conversou com o AgFeed durante a Agrishow. Segundo ele, a feira serviu para muitas reuniões, conversas e prospecções de interessados na BemAgro.

A startup utiliza tecnologias de análise de imagens captadas por drones e satélites para produzir mapas e relatórios com informações para monitoramento e gestão das lavouras.

Ao longo dos anos, a agtech incorporou modelos de inteligência artificial e visão computacional aos seus produtos e criou soluções de integração ao maquinário agrícola, permitindo a coleta de dados também em campo.

Com isso, ampliou o leque de serviços, fornecendo atualmente mais de 20 diferentes relatórios agronômicos e mapas - com informações como altimetria, população de plantas e matologia -, que auxiliam o planejamento o produtor em projetos de plantio e pulverização, com aplicações localizadas, até a colheita.

Johann Coelho fundou a BemAgro em 2018, quando ainda estudava economia empresarial e controladoria na USP de Ribeirão Preto. Segundo ele, a ideia do negócio surgiu quando ele percebeu que os produtores precisavam de mais informações estratégicas para tomar decisões. O drone foi o equipamento escolhido para tal.

Após rodar nas cidades do entorno de Ribeirão Preto, conversou com alguns produtores de cana e decidiu captar imagens com alguns drones, mixar os resultados com imagens de satéliltes e dados de tratores e entregar para o produtor esses números. “Começamos a realizar algumas capturas e tentamos entender, com os produtores, o que faria sentido para eles”.

Nessa etapa de validação do negócio, Coelho começou a entregar alguns relatórios e notou que os produtores conseguiam identificar problemas de plantas daninhas e outras dificuldades da lavoura.

“Identificamos que realmente havia uma dor do cliente e que, através das imagens, ele conseguia ter uma visão macro da lavoura. Antes isso era feito via inspeções a campo”, afirmou o executivo.

A ideia da BemAgro então virou negócio, com os primeiros clientes indicando o serviço para outros. A necessidade de escalar trouxe em 2019 alguns sócios e investidores para a empresa, como Luiz Ambar, que hoje lidera o conselho.

Com os novos sócios e um primeiro capital investido, a empresa montou uma plataforma para automatizar as soluções, além de começar a adaptar a tecnologia para outras culturas além da cana de açúcar.

“Precisávamos entrar no Cerrado brasileiro, no Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso do Sul e Matopiba, onde está o grosso da produção brasileira de soja, milho e algodão”, conta.

Nessa expansão, ele percebeu uma diferença na dinâmica dos clientes. Enquanto que na cana, as usinas investiam na tecnologia, o produtor de grãos, que também queria ver sua produtividade aumentar e o custo diminuir, não tinha mão de obra qualificada para operar o drone.

Foi aí que a BemAgro passou a pensar em desenvolver esse produto associado a um canal de distribuição para acessar esse novo mercado. A CNH entra na história da empresa neste momento, ajudando a validar os produtos e ajudando a companhia a conquistar o Cerrado.

De um lado, a CNH funcionou então exatamente como o canal de distribuição que a empresa buscava. Do outro, passou a agregar valor aos seus produtos vendidos.

Até hoje, a empresa já processou imagens em mais de 5 milhões de hectares em cerca de 400 clientes espalhados em mais de 11 países espalhados pela América Latina e pela Ásia. Segundo o CEO, 63% da receita da empresa vêm de culturas de grãos ou fibras e 37% de cana.

Johann Coelho revelou que a empresa está fazendo provas de conceitos para entrar no mercado estadunidense e no europeu via CNHi.

Assim, o modelo de negócio da empresa deixou de ter foco na tecnologia e também na venda de serviço para ser apenas na venda da tecnologia. Para ganhar essa escala em clientes de grãos, a empresa passou a lidar com “especialistas BemAgro”.

Segundo Coelho, esse especialista é, por exemplo, uma concessionária e um vendedor da New Holland ou da Case, uma cooperativa, uma empresa de agricultura de precisão e um consultor agronômico.

“Esse profissional já comercializa algum tipo de produto ou serviço e a BemAgro vira um habilitador para ele vender mais máquinas ou agregar valor ao serviço de consultoria”, comenta.

Mesmo com a expansão internacional, Coelho afirmou que o foco ainda é ganhar mais mercado no Brasil. Para além das culturas já atendidas, a agtech quer ganhar o mercado de silvicultura. “Estamos desenvolvendo algumas soluções para daqui um ou dois anos que são disruptivas no setor”.