Ribeirão Preto (SP) - Quando o assunto é tecnologia, independente do setor, os chineses tendem a balançar o mercado. Nos últimos anos e décadas, seja no mercado de smartphones, eletrodomésticos e mais recentemente o de carros elétricos, as marcas com tecnologia asiática costumam chegar ao Brasil com produtos high tech e com preço abaixo dos concorrentes.
É nesta equação que a fabricante estatal de tratores chinesa YTO está dobrando sua aposta no País. A companhia está participando pela primeira vez da Agrishow, em Ribeirão Preto, e detalhou ao AgFeed um pouco mais sobre sua estratégia de expansão.
A empresa já está no País desde o ano passado, mas atuando em vendas diretas e pontuais. Agora passará a ser revendida pelo Grupo BDG em seis estados da federação: São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Bahia, Rio de Janeiro e Espírito Santo.
Em entrevista ao AgFeed, a gerente geral para o Brasil da YTO, Jiahui Niu, comentou que 2024 é um ano muito importante para a estratégia de venda da empresa, que tem como meta atingir, em 10 anos, 20% do mercado nacional.
Ubiratan Sousa, gerente geral da BDG Máquinas, comentou que a ideia é trazer para o Brasil um “produto de qualidade com um custo de manutenção abaixo do mercado”.
“Quando os chineses vêm para o Brasil eles baixam a régua do mercado com produtos bons com preço acessível. Com os tratores não será diferente”, afirmou Sousa.
Ele contou que a empresa deve inaugurar em julho a primeira loja dedicada à venda de máquinas da YTO em Ribeirão Preto. A próxima loja deve ganhar sede em Uberlândia (MG). Além das lojas próprias, a empresa também venderá os tratores importados para representantes comerciais espalhados pelo País.
A empresa tem como foco pequenos e médios produtores e possui máquinas de baixo custo, com motores a partir de 24 cavalos (cv) de potência até 240 cv. Os tratores “no estilo europeu”, com portas dos dois lados, devem ser adquiridos por produtores de batata, mandioca, tomate, café e cana, segundo Ubiratan Sousa.
A YTO é uma estatal chinesa fundada em 1955, poucos anos após a revolução comunista local, em 1949. Segundo Niu, a empresa é líder do mercado local desde a fundação e hoje conta com 40% do market share chinês. Atualmente, negocia ações na Bolsa de Hong Kong.
YTO significa “primeiro trator” - Y (primeiro) e TO (trator), em mandarim. A fábrica da empresa, localizada em Luoyang, uma cidade bem ao centro do gigante asiático, tem uma capacidade de produção superior a 100 mil tratores por ano. Desse total, 10 mil são exportados anualmente para outros países da Ásia, América Latina e África.
Sousa relembra que como a YTO é uma estatal, os subsídios do governo ajudam a empresa a entrar em outros países com esse custo mais baixo. “Vejo uma facilidade em entrar no mercado pois é um trator com custo menor. É uma máquina mais simples”.
A gerente afirmou que em 2023, as exportações cresceram 40% frente a 2022. “Isso se deve a muitos fatores. Nos últimos anos o desenvolvimento e avanço da qualidade da tecnologia chinesa e a confiança que nos é apresentada pelos clientes internacionais ajudou esse desenvolvimento internacional”, disse.
Para atuar aqui, a fábrica da empresa recebeu uma visita do Ibama em 2023 para testes de padrões de emissão, quando recebeu sua Licença para Uso da Configuração de Veículo ou Motor (LCVM).
Além da produção anual de 100 mil tratores, a empresa também produz pelo menos o dobro em motores. A companhia vende a peça para marcas como XCGM e Agrale. Sousa, do Grupo BDG, afirma que os tratores da YTO são mecânicos, e por conta disso, não necessita de um mecânico especializado.
De acordo com informações da Reuters, o grupo YTO como um todo teve uma receita de 11,5 bilhões de dólares de Hong Kong em 2023, algo em torno de US$ 1,4 bilhão. O resultado leva em conta toda operação da empresa, que engloba venda de motores, linha amarela e implementos agrícolas.
Segundo Jiahui Niu, os tratores da YTO possuem tecnologia de transmissão e de câmbio da Fiat, a mesma da CNH. “Os clientes do Brasil observam nosso produto e veem que ele é semelhante com o de outras marcas já conhecidas por aqui. Isso ajuda o produto a se adaptar ao mercado”, comenta.
Já o BDG (Brasil Dealer Group), é um grupo familiar especializado na revenda de carros premium pelo país. Fundado em 1992, foi responsável por trazer a primeira concessionária da Honda a Belo Horizonte. Hoje vende marcas como Hyundai, BMW, BYD e Volvo.
O primeiro lote encomendado pelo BDG com 180 tratores mais alguns contêineres de peças da YTO deve chegar em breve por aqui. O grupo também está de olho no mercado de licitações. “Devemos ver tratores da YTO em prefeituras, órgãos estaduais e federais nos próximos anos”.