Gestora com cerca de R$ 5 bilhões sob gestão e sócios como Pedro Parente, ex-presidente da Petrobras, e o experiente investidor Eduardo Sirotsky Melzer, a eB Capital tem um um olhar otimista, mas não acomodado, para o ano que se inicia.

A companhia ampliou, em 2024,sua aposta no agronegócio e acompanhou de perto as dificuldades do segmento, que sofreu com o crédito mais escasso e alardes de recuperações judiciais e agora enfrenta um ambiente macroeconômico de alta de juros.

A estratégia, então, passa por recalcular suas rotas para navegar em águas com dinâmicas diferentes, mas que ainda podem oferecer boas oportunidades de ganhos.

Sócio da casa com vasta experiência no agro, Paulo Fleury revelou ao AgFeed que a empresa deve, assim como o mercado, desviar-se (pelo menos temporariamente) dos Fiagros FII (que em sua maioria encarteiram CRAs) e tomar o caminho que passa mais pelos FIDCs voltados para o setor.

“Migra-se do Fiagro de ‘cota única’, listado em bolsa para outros tipos, indo mais pro FIDC, que é estruturado e conta com outras garantias”, afirma Fleury. “É para essa linha que estamos migrando. Sou um super defensor do setor e da indústria de Fiagros e acho que tem muita coisa boa no mercado”.

Essa "cota única", no caso, define o modelo de Fiagro listado em Bolsa, onde todos os investidores têm os mesmos direitos e compartilham igualmente os riscos e os lucros, de forma simples e direta.

No FIDC, pode-se criar arranjos com cotas seniores, mezaninos, subordinadas, diluindo o risco e garantindo o crédito na ponta final. Ao mesmo tempo, atrai investidores de perfis variados.

De acordo com Fleury, esse rearranjo pode segregar melhor a relação entre risco e retorno, colocando, por exemplo, um devedor na cota subordinada, ou até a própria gestora.

“Numa linha de alinhamento de riscos, a primeira perda pode ficar com quem escolhe o crédito”, exemplifica.

O sócio da eB Capital acredita que o mercado agro tende a ser melhor neste ano do que foi em 2024. “Não é o melhor dos mundos, como em 2023 que a soja estava no patamar de R$ 150, mas também não é 2024, com a oleaginosa a R$ 90”.

“Vamos tentar desenhar e mostrar para esses investidores que, mesmo com juros altos, existe boa relação de risco/retorno com uma remuneração que traz um prêmio sobre o CDI”, disse, se referindo à meta da eB, de sempre trazer retorno acima do benchmark do mercado.

Outras instituições financeiras estão indo pelo mesmo caminho de FIDCs. O Banco Fator, por exemplo, estruturou, no final do ano passado, um FIDC que busca captar R$ 500 milhões com a Ponto Rural, distribuidora de insumos paranaense.

A ideia do Fator é captar com fornecedores da empresa, como Corteva, Ourofino e Cibra. Num primeiro tranche, a Ponto Rural já captou mais de R$ 90 milhões.

Quando Fleury se juntou ao quadro societário da eB, em março do ano passado, a meta da gestora era atingir R$ 2 bilhões na área batizada de eB Crédito Agro.

Um dos primeiros veículos a ser estruturado para captação seria um Fiagro FII com uma captação pretendida de R$ 400 milhões.

Hoje, Fleury vê essa estratégia “ficando de lado por um tempo”, até o mercado e os investidores que acabaram “se machucando” com a queda generalizada de fundos agro listados voltarem ao mercado.

Na estratégia dos FIDCs, Fleury conta que a empresa já está traçando produtos para companhias específicas, incluindo uma revenda que não foi revelada. “É um setor com bastante recebíveis, que funciona bem nessa estrutura de FIDCs”.

De olho na nova regulamentação da CVM. E novas culturas

O ano de 2025 também será marcado pela regulamentação definitiva dos Fiagros proposta pela CVM no ano passado, e que está em período de avaliação por parte de instituições financeiras.

No rito da CVM, a ideia é que a partir de março a nova norma já esteja em vigor. A nova regra permitirá que Fiagros sejam apenas Fiagros, sem a distinção entre FII, FIP e FIDC, viabilizando que um mesmo fundo conte, por exemplo, com participação em empresas, CRAs, compra de terras e até mesmo CPRs.

Paulo Fleury vê que esses novos fundos diversificados devem também atrair mais os investidores profissionais ou qualificados do que os de varejo (pessoa física).

“Acredito que é um tema muito técnico para chegar na PF. Existe um certo ceticismo de quanto isso vai movimentar o mercado”. Olhando para o profissional, ele já vê a situação inversa.

Apesar disso, o mundo dos investimentos, seja para qual for o investidor, tem um desafio: a alta da Selic, que pode beirar os 15% ao ano nos próximos meses.

“Uma taxa de juros nesse patamar é para frear a economia. Não será um ano fácil para nenhuma classe de investimento”, aponta Fleury.

Ao mesmo tempo, a “agricultura não para”, diz, e o setor deve continuar a entregar resultados e buscar capital.

Enquanto culturas mais mainstream como soja, milho e algodão andam com preços mais estáveis, Fleury vê grandes oportunidades para aportes e investimentos em culturas fora do radar, mas com preços em alta.

Ele cita laranja, cacau e até açúcar como cultivares que “estão indo super bem” nas cotações.

“Estamos de olho. Claro que os grãos ainda têm mais oportunidades, mas outras culturas fora do radar estão aparecendo e nós analisamos”, diz.