A proximidade do início de uma nova safra tem tornado a agenda do engenheiro Bernardo Fabiani, CEO da agfintech TerraMagna, especialmente agitada. Ele corre contra o tempo para estar preparado para a alta temporada de crédito financiar a aquisição de insumos agrícolas.
“Nossos clientes estão demandando mais da gente”, afirma Fabiani. E ele espera ter os recursos necessários para atender a todos, em um momento especialmente sensível.
Fabiani adiantou ao AgFeed que a TerraMagna deve anunciar nos próximos dias uma nova emissão para arrecadar um valor estimado em R$ 350 milhões – o valor final dependerá, justamente, da necessidade do mercado.
Ainda há detalhes a ajustar, como definir se será feita dentro do Fiagro FIDC da TerraMagna – que, com R$ 500 milhões captados, é tido como o maior independente no País – ou através de um novo fundo.
A empresa já havia feito outras duas captações este ano para este fundo, somando R$ 270 milhões. “As duas opções têm suas vantagens, mas acredito que o fundo já existente seria mais vantajoso”, diz.
Além disso, a safra já deve começar com um produto a mais na prateleira de produtos que a TerraMagna oferece às distribuidoras de insumos e cooperativas, seus clientes preferenciais.
Trata-se de uma operação de crédito estruturado de longo prazo desenhada para eliminar custos com securitização e reduzir a exposição da fintech aos riscos do distribuidor.
O segredo, segundo Fabiani, é usar como base do financiamento a carteira de clientes das distribuidoras e não os Certificados de Recebíveis Agrícolas (CRAs) emitidos por elas. Com isso, diz Fabiani, será possível reduzir entre 2% e 3,5 % o custo das operações.
“O mercado está viciado em CRAs”, afirma Fabiani. “As distribuidoras pagam surrealmente mais caro do que precisariam por esse capital”.
O executivo passou boa parte de suas últimas semanas tentando mostrar isso presencialmente aos distribuidores. Trocou a sede da empresa, em São José dos Campos (SP) por longas viagens por Goiás e Mato Grosso explicando a ideia.
E, sobretudo, mostrando que, tanto para a revenda quanto para o produtor, nada muda na forma de operar. “Eles querem continuar fazendo negócios da mesma forma. Tivemos de inovar para garantir isso a eles, por um custo mais baixo”.
Independente da nova emissão, as perspectivas de crescimento da TerraMagna se mantêm. Não nos patamares dos últimos anos de fartura, mas adequadas a um momento de ajustes por que passa o agro.
Foi exatamente nesse cenário mais complexo, de retração de vendas nas distribuidoras e de crédito como um todo, que a empresa anunciou ter atingido o breakeven, ou seja, o equilíbrio entre receitas e despesas.
Fabiani prevê uma receita de mais de R$ 125 milhões até o fim de 2023. Trata-se de um resultado cerca de três vezes superior ao do ano passado, “modesto em relação a seis ou sete vezes de anos anteriores”, segundo o executivo.
Estima fechar o ano com carteira de crédito de R$ 1,5 bilhão, um avanço em relação aos atuais R$ 1 bilhão, mas também inferior à média dos ciclos anteriores, que colocaram a fintech como uma das maiores financiadoras digitais do agro brasileiro.
“O mercado está muito machucado”, afirma Fabiani. “É o momento de solidificar parcerias, garantir que toda a cadeia vai atravessar a arrebentação, gerando melhores oportunidades a todos”.
E depois voltar a acelerar, para atingir uma meta de chegar a R$ 5,5 bilhões em carteira nos próximos três anos.
Nos últimos dois anos, de acordo com o CEO da TerraMagna, o mercado viveu momentos atípicos de abundância de crédito. “Tinha muito ‘dinheiro de helicóptero’, com gente despejando dinheiro no agro. Produtores e credores se acostumaram mal e algumas pessoas foram pegas no contrapé”, diz.
Este ano, afirma, o mercado de crédito agrícola ficará mais seletivo, com spreads mais altos e vários players reduzindo muito suas posições.
Em volume, os valores absolutos buscados pelos produtores tendem a ser menores, na avaliação da empresa. Mas, com menos gente emprestando, Fabiani diz já sentir uma demanda maior dos clientes.
“O bear market é importante para diferenciar o trabalho que a gente tá fazendo”, afirma, numa referência à imagem do urso, usada pelo mercado de capitais para simbolizar momentos de queda.
Fabiani afirma que a ordem na TerraMagna é manter a mesma visão, independente dos humores externos. Ex-tenente engenheiro da Força Aérea Brasileira, ele usa uma figura militar para explicar a manutenção da estratégia.
“Na guerra muitas vezes se morre por euforia. Não pode ser desatento, animado demais, senão vacila e morre. No crédito também é assim”, afirma.