Energia não falta para o gaúcho Tiago Piassum, um empreendedor nato, que já foi dono de uma consultoria de investimentos, mas que agora se dedica a um projeto mais ousado: acessar investidores estrangeiros e usar a tecnologia de blockchain para financiar o agro brasileiro via tokenização.
Ele fundou a fintech Rivool Finance no início de 2023 com outra corajosa empreendedora, a assessora de investimentos Lorrayne Viana, de 27 anos, filha de pequenos produtores rurais do Espírito Santo. A empresa tem sede em Floríanópolis, Santa Catarina.
Outros amigos e sócios foram se juntando a “tese” da startup logo em seguida. Um deles, mais recente, é “famoso” na Faria Lima - Fernando Fegyveres, que foi executivo do Itaú BBA e é ex-CEO do banco Voiter (antigo Indusval).
Em entrevista ao AgFeed, Tiago e Lorrayne contaram que desde cedo perceberam a dificuldade que havia para um produtor rural, principalmente de médio porte, em acessar o crédito para viabilizar a expansão dos negócios.
“Via que o produtor médio precisava de crédito, você tentava originar, mas tinha barreiras a vencer, porque muitas vezes o tamanho do crédito pedido era incompatível com o mínimo que o banco dava de cheque”, conta Tiago Piassum, CEO da Rivool Finance.
Ele diz que observou que o volume de investimentos internacionais no crédito privado no Brasil estava “flat” nos últimos 10 anos. Por isso, foi conversar com as gestoras, entender os motivos para a falta de interesse. Descobriu que uma das razões era a dificuldade burocrática de um estrangeiro abrir conta no Brasil, com prazos longos e custos elevados.
“Vimos que só operavam os bancos internacionais com estrutura aqui, mas 90% do dinheiro vai para 12 empresas. Então realmente o ‘middle market’ não consegue acessar esse capital externo”, afirma.
Os sócios da Rivool têm percorrido diferentes países, com contatos principalmente na Suiça e nos Estados Unidos, para encontrar uma forma de viabilizar essa “conexão” entre capital estrangeiro e crédito ao produtor rural do Brasil.
A fintech acredita que, ao conectar as pontas em seu marketplace, oferecendo os tokens ao estrangeiro, “vai melhorar a experiência o fluxo para ele, que não mais vai precisar da burocrática conta internacional”.
O ativo oferecido ao investidor é gerado a partir de títulos como CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) ou CPRs (Cédula do Produto Rural), que são transformados em tokens.
Fiagro a partir de julho
Para avançar em credibilidade e vender de fato os produtos aos estrangeiros, os sócios da Rivool optaram por lançar um Fiagro no Brasil. Hoje a regra no País não permite tokenização destes fundos, por isso a ideia não é ter o investidor internacional diretamente no Fiagro. Porém, ele servirá como uma espécie de “passaporte” para a fintech.
O projeto foi idealizado em parceria com a Ecoagro e com a Machado Meyer, que atua como uma incubadora para a Rivool.
“O investidor estrangeiro não tem mandato para uma tese que não tem o fundo existente, que não tem o produto rodando. Quando fomos a mercado, no fim do ano passado, vários disseram façam o primeiro fundo e voltem que a gente assina o mandato”, conta Piassum.
Ele diz que nas passagens pela Suiça, Nova York, Boston e Madri, todos disseram que no Brasil “só olhariam para o agro, dificilmente entrariam em real state, por exemplo”.
A oferta do Fiagro deve ser aberta na próxima semana para que seja fechada até dia 31 de julho, segundo o CEO da Rivool
Com o capital de amigos e sócios, esperam chegar na captação de R$ 50 milhões. Um montante de R$ 20 milhões já foi captado. “A primeira oferta vai ser inhouse, vai ser um espelho”.
Depois do Fiagro rodando, Piassum diz que retomará as investidas lá fora, acompanhando do sócio Fernando Fegyveres.
“Faremos uma agenda extensa para captar US$ 100 milhões, em cinco cheques de US$ 20 milhões”, revelou.
O modelo de receita da Rivool será baseado em taxa de administração do fundo e taxa da estruturação do crédito. “Neste um ano e meio, com 12 pessoas, é tudo investimento próprio”.
Para originar o crédito do produtor rural, a fintech está costurando parcerias com cooperativas, agroindústrias e agtechs.
Na conversa com o AgFeed, a sócia Lorrayne Viana também mostrou entusiasmo ao ter a confirmação de que a Rivool foi uma das startups escolhidas no Select USA, programa dos Estados Unidos que reúne grandes comporações e entidades governamentais para ouvir a proposta de tecnologia de startups.
“O nosso sócio Felipe Sena, que fica em Boston, vai nos representar. É muito importante, porque estaremos a um passo do governo americano, muitos fundos vão estar lá ouvindo sobre a tese e podem ter interesse em se aproximar”, disse ela.
A expectativa é de que até 2,5% do volume sob gestão venha a ser o faturamento da Rivool no futuro.
Os dois sócios dizem que um dos exemplos para eles é a Credix, empresa belga que aporta recursos em fintechs e também utiliza blockchain, mas não no agro.
“A nossa plataforma já está desenvolvida, a solução de gestão dos contratos também, o nosso algoritmo e a parte legal para fazer transações está ok. Agora realmente o que precisamos fazer é um trabalho fora do Brasil, com foco e vendas”, concluiu Piassum. Ele diz que não descarta captações no Brasil, mas destaca que não faz parte do plano de negócios.