O Fiagro é um produto novo no mercado financeiro, talvez o “caçula” entre as categorias mais conhecidas e negociadas por investidores. Surgiu em 2021, ano em que o agronegócio já surfava a onda de cotações e margens em patamares muito altos.

Mas em 2023, essa maré mudou. Com o fenômeno climático El Niño atingindo a produtividade das principais culturas brasileiras e a queda nos preços dos grãos, o setor está passando por um momento mais desafiador.

Para os Fiagros, além do momento do setor, há um fator adicional de dificuldade. A taxa básica de juros está em trajetória de queda e a maioria dos ativos dos fundos é atrelado ao CDI. Ou seja, a projeção de retorno real para o investidor é menor.

Com todo esse cenário traçado, a Guide Investimentos elaborou um relatório que, de cara, recomenda que os investidores “devem ser cautelosos com esta classe de ativos neste momento”.

Os analistas Fernando Siqueira e Marcos Ferreira destacam que a maior parte dos Fiagros está atrelada a operações de crédito, com uma pequena parcela investindo em terras. “E mesmo neste caso, a exposição é indireta, já que o fundo possui pouca alavancagem sobre o ciclo agrícola, com os arrendamentos feitos com preços fixos”, diz a Guide.

Por essa composição, os riscos dos fundos aumentam, já que os preços em queda das commodities aumentam a dificuldade dos produtores de honrar as operações de crédito.

Com tudo isso sobre a mesa, segundo a Guide, o investidor precisa de um “prêmio de risco” maior. Ou seja, deve buscar uma margem de retorno melhor para que a relação entre risco e rentabilidade fique mais equilibrada.

É aí que a Guide aponta que os Fiagros perdem atratividade em 2024. Por oferecerem como retorno um indexador que acompanha os juros, a projeção é que o investidor tenha resultado proporcionalmente menor com os fundos nos próximos dois anos.

“A Selic média de 2024 deve ser próxima de 10%, ante 13% em 2022. Em 2025, esperamos que a Selic média fique em 8%. Ou seja, uma redução na rentabilidade dos Fiagros já
está ‘contratada’”, afirmam os analistas da Guide.

Neste ponto, entra um conceito muito comum no sistema financeiro, que é a rentabilidade real, já descontada a inflação. E a Guide não espera uma diminuição significativa do IPCA nos próximos anos.

“Em resumo, os proventos de ativos indexados ao CDI devem sofrer mais que os ativos indexados ao IPCA nos próximos dois anos. Além disso, é importante destacar que a safra fraca esperada para 2024 e o fenômeno El Niño podem elevar a inflação em 2024, fazendo com que ativos indexados ao IPCA tenham uma relação risco-retorno melhor atualmente”, diz o relatório.

A Guide projeta a taxa Selic em 9% ao final de 2024 e IPCA em 3,90%. Para 2025, a casa acredita que os juros chegam a 8,50%, e a inflação chega a 3,50%.

Para a maioria dos Fiagros, o retorno para os investidores deve ficar entre 13% e 15% em 2024, assumindo o cenário de Selic média de 10% e inflação a 4% no ano. E a Guide pondera que há uma chance maior da Selic ficar abaixo de 10% na média de 2024, seguindo a tendência de queda mundial de juros e inflação.

Na projeção da Guide, o Fiagro que deve ter maior retorno neste ano é o IAGR11, da SFI Investimentos, que está na categoria Imobiliário. De acordo com a corretora, o retorno deste fundo deve ficar próximo de 16%.

Outros poucos fundos devem oferecer retorno acima de 15%, como o AAZQ11, da AZ Quest, o AGRX11, da Exes Araguaia, o VGIA11, da Valora.

A Guide ressalta ainda que, já em 2023, os Fiagros tiveram desempenhos piores que outras categorias de fundos.

O diagnóstico é confirmado pelos levantamentos realizados pela Quantum, empresa de dados com foco no mercado financeiro.

Segundo a Quantum, os melhores Fundos de Investimentos Imobiliários (FII) ofereceram retornos de, pelo menos, 40% em 2023. O melhor fundo do ano, o Hotel Maxinvest, gerido pelo BTG Pactual, rendeu 110%.

No caso dos Fiagros, o melhor retorno, da Exes Araguaia, não chegou a superar os 30% de retorno no ano passado. O fundo mais negociado no ano passado, da Valora, ofereceu rentabilidade de 6,25%, segundo a Quantum.

Sobre o Fiagro da Valora, a Guide afirma que é uma opção mais defensiva para 2024, por ter uma composição mais diversificada e pela liquidez. “O fundo vem apresentando problemas em algumas operações de crédito, mas parece já bem precificado uma vez que o fundo negocia com um desconto de 5% em relação ao valor patrimonial”, dizem os analistas.

O Kinea Agro, negociado com o código KNCA11, é apontado pela Guide como o mais defensivo disponível no mercado, por menor exposição ao CDI, boa liquidez e pouca concentração de ativos.

Em seu relatório mensal, a Anbima, que representa os agentes do mercado financeiro, mostra que a captação de Fiagros em 2023 ficou próxima de R$ 4 bilhões, valor 5% acima do registrado em 2022. O patrimônio líquido dos fundos chegou a R$ 20,5 bilhões, ante quase R$ 12 bilhões ao final de 2022.