Enquanto algumas empresas de investimento ainda ensaiam uma maior proximidade com o agro, o cofundador e sócio da Riza Asset Management, Paulo Mesquita, percorre as fronteiras agrícolas mais distantes do Brasil há mais de 10 anos – e não para de pensar em novos produtos para conquistar o setor que mais contribui para o saldo da balança comercial brasileira.

Em 2020, antes de ser criada a lei dos Fiagros, os fundos de investimento nas cadeias produtivas agroindústrias, que viraram tendência logo depois, Mesquita liderava a primeira ousadia da Riza Asset no mercado agro.

Na época, a gestora lançou um fundo imobiliário, o Riza Terrax, composto não de imóveis urbanos ou shopping centers, como o mercado já estava acostumado, mas sim de fazendas, de propriedades rurais.

O IPO do Terrax (RZTR11) foi finalizado junto à XP investimentos em outubro de 2020, seis meses antes de ser promulgada a lei do Fiagro.

Listado na B3, o fundo faz parte do IFIX, considerado o principal índice de fundos imobiliários do país, e conta hoje com um patrimônio de R$ 1,07 bilhão, divididos em 15 propriedades rurais que somam mais de 60 mil hectares de terras, em seis diferentes estados.

Mesquita mostra entusiasmo com o crescimento do número de investidores pelo curto período de existência do fundo. Segundo ele, hoje são mais de 90 mil cotistas.

A lógica do fundo são investimentos na compra e também no arrendamento de terras. Dos 60 mil hectares, 44 mil hectares são arrendados com a chamada opção de recompra, ou seja, o proprietário toma o empréstimo e depois de quitada a dívida, consegue seguir dono da área.

É uma espécie de hipoteca, mas não é necessário executar judicialmente, o que dá mais segurança. Em tempos de terras supervalorizadas no Brasil, houve até quem brincasse que uma possível inadimplência, com a devolução da fazenda, seria um presente para o patrimônio do fundo.

Os resultados iniciais do Terrax foram considerados satisfatórios pela Riza Asset. No IPO de 2020 foram levantados R$ 490 milhões, com a subscrição de 4.897.328 cotas, a R$100 cada uma.

Em abril de 2021 houve uma segunda emissão que captou R$ 600 milhões, com preço de R$ 97,50 por cota.

O sócio da Riza diz que, depois disso, o fato de a estratégia do Terrax consistir em rendimentos pré-fixados foi garantindo uma boa performance até que em novembro de 2022, por exemplo, foi cotado a R$ 110.

Com a alta dos juros, porém, o Terrax perdeu espaço para outros investimentos que ofereciam melhor rentabilidade. A taxa Selic acima de 13% ao ano deixou muitos fundos pouco atrativos.

O pior momento do Terrax foi em abril de 2023 quando o preço caiu para R$ 80 por cota.

"Mas parece que o pior ficou para trás”, afirma Mesquita. “Com a expectativa de queda de juros nos próximos meses, o mercado parece já ter antecipado esse movimento e hoje o fundo está cotado aos R$ 95, muito próximo do seu valor patrimonial".

Em termos de dividendos, o Terrax entregou um retorno de 137% do CDI desde o início até de negociação até o fim de junho de 2023.

Um produtor rural pode se perguntar: mas porque um fundo imobiliário de terras não acompanha a alta nos preços das fazendas que foi registrada nos últimos anos?

Paulo Mesquita diz que é justamente porque a maior parte delas está com a opção de recompra. Portanto, "a valorização impacta só parte do fundo”.

Ele explica que a estratégia é vender fazendas no auge da valorização. No atual momento, por exemplo, de patamares mais baixos nos preços das commodities, o gestor entende que o cenário está positivo para a aquisição de terras.

"Ficaremos posicionados para uma nova valorização", explica.

O executivo admite que nos próximos meses a Riza poderá fazer novos follow-nos (captações dentro do próprio fundo) para seus fundos relacionados ao agro, inclusive do Terrax, desde que permaneça o cenário mais favorável no mercado de capitais, com expectativa de queda nos juros.

Presença no agro

Outro produto importante da gestora no agronegócio é o RZAG11, que foi o primeiro Fiagro a ser listado na B3, em novembro de 2021.

O fundo possui aproximadamente R$ 650 milhões de patrimônio e tem como estratégia a aquisição de CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio).

O RZAG11 tem mais de 54 mil investidores e tem sido cotado próximo ao seu valor patrimonial desde o IPO. Segundo Mesquita, entregou uma rentabilidade de 3,25% a.a acima do CDI.

Na conversa com o AgFeed, o líder de agro da Riza minimizou os efeitos da "quase crise” que vem sendo destacada por consultores e executivos este ano.

"O momento é um pouco mais desafiador para o agro, que vinha de margens muito altas, o que vai impactar algumas empresas sim”, diz.

“Porém os nossos fundos têm foco em grandes produtores, que operam mais capitalizados, com uma governança melhor e baseados em uma política de hedge, por isso por enquanto não vimos reflexos", garante.

Atualmente, a Riza tem R$ 10,5 bilhões de reais sob gestão e, deste total, cerca de R$ 2,6 bilhões já são ativos relacionados ao agronegócio.

"Nossa meta é chegar em R$ 15 bilhões no ano que vem e alcançar R$ 50 bilhões daqui a 5 anos”, disse Mesquita.

Para isso, a Riza prevê seguir avançando em produtos voltados ao agronegócio, mas manter a fatia do segmento em cerca de 25% do total de ativos sob gestão.

Paulo Mesquita diz que no primeiro semestre de 2023 a gestora preferiu consolidar as estratégias dos três primeiros anos de atuação e preparar novas ações com foco no crescimento de seus fundos para o segundo semestre.

"Entendemos que o agronegócio, apesar de ser o principal setor da economia brasileira, é muito pouco explorado pelo mercado de capitais, especialmente pelas gestoras. O potencial do Fiagro, por exemplo, é enorme", ressaltou.

Ele acredita que a regulamentação do Fiagro, que deve sair nos próximos meses, "vai ajudar muito no processo de diversificação das estratégias”.

A Riza Asset chegou a ensaiar um pedido para criar um Fiagro dolarizado, composto de títulos em moeda estrangeira, mas acabou engavetando o projeto em função da valorização expressiva do real em relação ao dólar recentemente, o que tornava o produto interessante para produtores rurais, porém, sem atratividade para os investidores.

"O agronegócio vai continuar crescendo nas próximas décadas, de forma responsável, com alta tecnologia e modelo ambientalmente correto, e o mercado financeiro será a mola propulsora desse movimento", afirmou.

Além do RZAG11 e do Terrax, que são listados na B3, a Riza Asset Management tem também mais dois produtos relevantes no agro, que fizeram parte de uma estratégia de buscar alternativas de renda variável, no período em que a taxa de juros no Brasil atingia os patamares elevados.

Um deles é um Fiagro fechado, o Riza Nero, primeiro FIP do mercado, que foi constituído para a aquisição da Sollus, uma empresa detentora de terras agrícolas na região do Matopiba, que tinha como sócios um fundo da Vinci Partners e a gestora americana Touradji Capital.

O outro fundo, que surgiu no final de 2022 via mercado de balcão, é o Fiagro FII RIZA EOS, com patrimônio a ser integralizado de R$ 488 milhões.

O produto foi constituído para a aquisição da empresa Eco Brasil Florestas S/A, uma empresa detentora de imóveis que somam mais de 115 mil hectares de terras destinados ao cultivo de eucalipto, localizadas no estado do Tocantins.

Já a iniciativa de fundo imobiliário de terras agrícolas – o Terrax - acabou sendo seguida pelo BTG Pactual em 2021, que criou um produto semelhante.

Mas, posteriormente, com o advento do Fiagro, as demais operadoras de mercado, inclusive a própria Riza, acabaram optando pelo novo instrumento para atrair os investimentos em terras agrícolas.

Hoje o mercado avalia que o Fiagro traz vantagens em relação ao FI no que se refere à segurança jurídica do arrendamento da terra, além de oferecer um modelo mais simples de distribuição dos resultados.

“Não descartamos no futuro transformar o Terrax em um Fiagro, mas isso não é prioridade”, diz ele.