No começo de agosto, o dólar fechou em R$ 5,75 – o maior valor do ano, numa alta de 18,5% em relação a janeiro –, numa condição de incerteza para os produtores rurais.

Naquele momento, o banco Santander projetou uma cotação de R$ 5,40 para o fim de 2024. Um mês depois, a previsão vem se confirmando.

Em vez de continuar a escalada, a moeda americana recuou para a casa de R$ 5,50. A convergência para o alvo deve acontecer de maneira gradual, afirma Marco Caruso, head de política monetária e mercados do Santander.

Para prever uma queda do dólar de 6% até o fim do ano, o banco olhou menos para os modelos matemáticos e mais para argumentos. “A gente falou ‘olha, parece que vai ficar mais viva a discussão de cortes de juros nos Estados Unidos’”, disse Caruso ao AgFeed.

“Com três reduções, e não as duas que eram previstas, o mercado pode trabalhar com o dólar mais baixo”. Um mês depois de projetar um dólar em queda, Caruso vê argumentos que embasaram a previsão se confirmarem.

“O Simpósio Econômico de Jackson Hole, no último fim de semana, com a participação de líderes de bancos centrais do mundo todo, mostrou um Federal Reserve mais sensível às taxas de desemprego dos Estados Unidos”, disse.

Para estimular a abertura de vagas de trabalho, o FED pode baixar juros, barateando investimentos na produção e compras a crédito. Além de ver os Estados Unidos mais dispostos a baixar os juros, o economista do Santander vê o Brasil mais aberto a elevar.

“Politicamente, essa questão parece não trazer tanta polêmica agora. Em uma fala recente o presidente Lula falou ‘se tiver que ser feito, pode ser feito’”, afirmou Caruso.

“O país vive uma situação de pleno emprego e, mesmo após uma catástrofe no Rio Grande do Sul, estamos revendo para cima a previsão de crescimento do PIB em 2024. Então, a economia aguenta fazer uma política mais austera fiscal e monetária, se o BC considerar necessário”.

Para o fim de 2025, o Santander prevê uma elevação do dólar para R$ 5,50. Além de 2026 ser ano de eleição presidencial no Brasil, que tradicionalmente é acompanhada por uma alta de juros, o economista do Santander identifica uma expectativa de queda do valor das commodities negativa para o país.

“A gente vê o índice CRB caindo 5% esse ano e mais 5% no ano que vem”, disse Caruso. Como o CRB é uma cesta de 19 commodities, a queda poderia ser puxada pelo petróleo, que interfere em custos da produção agrícola como fertilizantes e transporte. Mas não.

“A queda desse índice será puxada pela cotação de minério de ferro, milho e soja. A demanda por aço na China continua baixa, e temos um excesso de oferta de grãos”.