A expressão “quando cheguei aqui era tudo mato” é comumente usada quando alguém desbrava um terreno antes de outros ou iniciou algum mercado antes da maioria. Moacir Teixeira, um dos fundadores do Grupo Ecoagro, pode usar a frase sem receio de ser desmentido.

Sua empresa, fundada em meados de 2007, foi uma das pioneiras na junção entre o mercado de capitais e o agro. Atualmente, a Ecoagro possui uma securitizadora, uma gestora e uma consultoria. Em números, já emitiu quase R$ 50 bilhões em CRAs desde a fundação e possui cerca de 6 fundos com R$ 5 bilhões sob gestão, todos voltados para o agronegócio.

A Ecoagro foi também a primeira a desenvolver títulos diferentes para esse segmento. Em 2016, estruturaram o primeiro CRA verde, numa parceria com a Suzano, gigante do ramo de papel e celulose, em um título de R$ 1 bilhão.

É nesse ramo que Teixeira aposta nos próximos anos, a fim de acompanhar as evoluções e debates na legislação brasileira e mundial.

O desafio, afirma ele ao AgFeed, é monetizar a agropecuária de baixo carbono e com menos uso de defensivos, bem como adaptar os modelos de certificação europeus para o clima tropical brasileiro.

“Acreditamos que cada vez mais eles terão um papel importante e necessário para que o mercado de agro continue evoluindo. Tem muita pressão lá de fora, e tem muito marketing negativo aqui dentro”, diz.

Teixeira dobra a aposta em uma relação cada vez mais íntima do agronegócio com o mercado de capitais e está atento aos novos mecanismos de financiamento da produção rural.

Para além dos títulos verdes, a Ecoagro realizou no ano passado, junto com o Bradesco, a emissão do primeiro CRA lastreado em dólar. Na ocasião, foram captados US$ 16 milhões, que serão usados por dois produtores rurais - um de Mato Grosso e outro de Goiás - para custear as próximas cinco safras de soja.

“Acho que esse mercado lastreado em dólar será um dos grandes propulsores do crescimento do agro no país, assim como as LCAs foram lá atrás”.

Teixeira orgulha-se de sua trajetória no mercado de capitais. Nos anos 1990, o economista atuou em diversos bancos, geralmente na área de tesouraria. Até que, em 1998, foi convidado a estruturar o Bancoob, o Banco Cooperativo do Brasil, que era focado exatamente no agro.

Foi nessa empreitada que ele se deparou com um vácuo no mercado de crédito voltado para o agronegócio. “Uma cooperativa me fez um desafio de montar uma operação lastreada em café, mas diante da condição de não pagar juros. Ela queria receber um valor financeiro e pagar o equivalente em sacas de café, em um mercado que existia na BM&F”, explica.

Teixeira foi buscar alternativas, e em seus cálculos, percebeu que o processo traria um rendimento de quase 400% do CDI. “Achei que tinha errado no cálculo, mas era real”, comenta.

Nesse momento ele percebeu que existia um mercado desarbitrado e com potencial de negócios. Conseguiu ajustar a operação e a partir dali, em parceria com o Banco do Brasil, desenvolveu o que viria a se tornar a CPR financeira, em 2001, num título lastreado em café.

“Foi chamada de CPR financeira pois ela espelhava uma quantidade de um produto específico por um valor pré-definido. Assim, o mercado tinha como trabalhar o produto de forma mais transparente”, comentou.

Depois disso, o economista voltou para São Paulo e foi fazer parte da boutique de investimentos Rio Bravo, uma das gestoras mais antigas do Brasil e que possui, atualmente, mais de 30 fundos com mais de R$ 11,5 bilhões sob gestão.

Na Rio Bravo, Moacir Teixeira chegou com a missão de estruturar um fundo voltado para o agronegócio. Na prática, ele comprava CPRs com aval do BB, e os transformava em uma financeira. O negócio já inspirava o economista a criar, em algum momento, uma empresa focada especificamente na confluência entre o mercado de capitais e o agro.

“Eu queria aproveitar um momento do agronegócio crescendo. Até os anos 1980, o Brasil era importador de comida. Mas no início dos anos 2000, houve um grande crescimento do setor, principalmente no Cerrado”, comenta.

Foi então que em 2004, surgiu a lei de número 11.076, conhecida como a “lei da sopa de letrinhas”, que regulamentou principalmente os LCAs e os CRAs. Na prática, isso deu a possibilidade de empresas jurídicas participarem do mercado – e não só produtores e cooperativas.

Em abril de 2005, Moacir estruturou a primeira LCA, num valor de R$ 15 milhões, lastreada. Esse mercado hoje contempla cerca de R$ 250 bilhões.

No mesmo ano, em outubro, o economista estruturou o primeiro certificado de direito creditório do agro, um CDCA lastreado em pecuária. “Nesse momento vi que era a hora de criar uma empresa específica desse tipo de operação. Foi assim que nasceu a Ecoagro”, explica.

Os primeiros seis profissionais da empresa foram responsáveis por criar o primeiro CRA, na então securitizadora Ecoagro. Conforme os anos foram passando, a Ecoagro desenvolveu a gestora e depois a consultoria, onde, segundo Moacir, mora a “inteligência operacional”.

Olhar para fora da porteira

Teixeira é inquieto na busca por oportunidades. Se da porteira para dentro os investimentos têm sido impulsionados, ele as enxerga na dificuldade logística que ainda persiste no Brasil.

Para se ter uma ideia, o custo de transporte de uma fazenda até um porto ou distribuidora custa, por aqui, cerca de 15 vezes mais que nos Estados Unidos e nove vezes mais que na Argentina, um país com uma área plantada menor que a brasileira.

Para fomentar esse mercado, Teixeira acredita que as debêntures de infraestrutura e os CRAs podem ter um papel fundamental nessa melhoria de custos, bem como uma presença importante do BNDES.

“Temos um problema de orçamento há muitos anos, com um Estado inchado que não tem dinheiro para investir. Mas o Estado tem que participar desse desenvolvimento. Na parte de ferrovias, por exemplo. Não tem como um país desse tamanho depender só de caminhão”, afirma.

Na Ecoagro, Teixeira já vislumbra o dia que deixará o comando das atividades diárias enquanto sócio executivo e diretor de relações institucionais e passará a integrar o conselho. Além disso, ele projeta que para o futuro, a estrutura da gestora pode ultrapassar a da securitizadora.

Atualmente, a EcoAgro Gestão de Ativos toma conta de oito fundos, todos relacionados ao agro, com seis FIDCs, um Fiagro e um FIM. Teixeira conta que o Fiagro nasceu com R$ 30 milhões geridos e 600 investidores. Atualmente, já possui R$ 180 milhões e 3600 cotistas.

“A gestora deve crescer de forma bem mais robusta que a própria estrutura de securitização. Os três veículos do grupo têm como função desenvolver produtos e atender a demanda do mercado institucional, PF e varejo. A gestora é uma grande aposta nossa, e acho que ela vai crescer bastante nos próximos anos”, finaliza Moacir Teixeira.