O Bradesco, banco privado brasileiro com maior carteira agro, garante que está disposto a acelerar no setor, apesar dos desafios do momento.

O diretor de agronegócios do Bradesco, Roberto França, revelou ao AgFeed que a previsão é desembolsar R$ 50 bilhões entre as linhas de custeio e investimento para os produtores rurais na safra 2024/2025.

Deste total, 2/3 serão aplicados para o custeio e o restante para investimentos, como armazenagem e sistemas de irrigação.

O banco informa que 30% são originados de recursos direcionados com equalização do Tesouro Nacional, ou seja, contam com as taxas de juros subsidiadas previstas no Plano Safra do governo federal. Os demais envolvem modalidades como CPR (Cédula do Produto Rural), LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio), além de recursos da própria tesouraria do banco.

“Vamos crescer mais de 10% frente a safra passada, quando desembolsamos R$ 43 bilhões. Grande parte das operações que vamos fechar são de recursos livres, que fica mais difícil medir pois não é uma ‘linha marcada’, sem definição do que é custeio e investimento”, afirmou Roberto França.

O aumento na oferta de recursos do Bradesco para a safra está em linha com o total anunciado pelo governo – foram R$ 475,5 bilhões, entre agricultura empresarial e familiar, que levam a um avanço de 9,7% em relação ao plano safra anterior.

O movimento, porém, está mais tímido se comparado aos demais principais bancos financiadores da agropecuária. O Sicredi, por exemplo, que possui uma carteira agro inferior ao Bradesco, anunciou R$ 66,5 bilhões para o Plano Safra, aumento de 17%.

O Bradesco é dono atualmente de uma carteira agro de R$ 70 bilhões, que chega aos R$ 120 bilhões considerando outras linhas com clientes do segmento. A carteira é composta desde produtos do varejo, pequenos e médios, até agroindústrias. “Operamos do familiar até operações bilionárias, estamos inseridos no setor como um todo”, disse França.

A perspectiva em todo mercado é de uma safra mais tranquila à frente. Depois dos problemas climáticos causados pelo El Niño na temporada 2023/24, a probabilidade de ocorrência do fenômeno La Niña, menos danoso para o Centro-Oeste, anima os produtores.

O diretor do Bradesco admite que, depois de 10 anos pujantes, com organização e crescimento extraordinário, o agro encarou um percalço nos últimos meses.

A safra que se inicia vem sendo marcada por um atraso nas compras da cesta de insumos, como sementes, fertilizantes e defensivos. Em conversas com players da indústria e em balanços de companhias listadas, é possível notar que o produtor tem esperado o melhor momento para fazer seus investimentos no plantio, na expectativa de uma relação de troca mais favorável.

Na Boa Safra Sementes, por exemplo, o atraso nas compras fez o lucro líquido da empresa cair quase 35% no segundo trimestre deste ano, atingindo R$ 18,1 milhões no período.

Apesar disso, na ponta do crédito rural, Roberto França não tem percebido muita mudança no comportamento dos produtores, e diz que as organizações estão aquecidas.

“No E-agro, a nossa plataforma digital, o mês de julho deste ano foi o melhor do que no ano passado. Em agosto até agora, a liberação de recursos está maior que no ano anterior. Devemos ter uma ampliação na base de clientes”, afirmou.

França acredita que os players financeiros que operam com recursos direcionados subsidiados não percebem tanto esse atraso, e que as indústrias que fazem operações de custeio acabam sofrendo mais.

Segundo ele, é diferente financiar a 8%, como é a média do produtor que toma recursos no banco, do que num patamar acima de 12%. “Essa é uma modalidade em que o crédito sai primeiro”.

Ainda para essa safra, o diretor do Bradesco acredita que a necessidade de custeio será menor comparada à última safra, principalmente por conta de uma cesta de insumos 20% menor na média. “Se cai o preço dos insumos, a demanda por crédito para esse fim é um pouco menor. O ajuste do dólar, que sempre melhora a margem, permite o produtor fazer posições de fixação”, acrescenta.

A compra de 50% do Banco John Deere

Enquanto o entusiasmo dos produtores não volta como os bancos gostariam, cada empresa vai buscando outras estratégias para seguir avançando no setor.

O Bradesco fez um anúncio importante logo no começo desta safra. Em comunicado enviado ao mercado na última sexta-feira, a instituição revelou um negócio fechado com o Banco John Deere.

As duas empresas formaram uma joint venture, em condições iguais, para ampliar a oferta de serviços financeiros dentro desse mercado. Pelo acordo, o Bradesco investiu no Banco John Deere, por meio de sua subsidiária Bradesco Holding de Investimentos, passando a deter 50% de participação na instituição, segundo o comunicado enviado à CVM.

Roberto França disse que a ideia do Bradesco é “expandir a originação fora dos canais de distribuição tradicionais da rede Bradesco ou de outros convênios com parceiros”.

O Banco John Deere traz ao Bradesco uma rede de concessionárias espalhadas pelo País, com clientes que já confiam na empresa e às vezes são exclusivos do banco da fabricante de máquinas.

Segundo o diretor, a John Deere buscava um parceiro há quase um ano, e o Bradesco foi o vencedor desse processo.

“Nossa pretensão é participar da operação sem ser controlador. Esse é mais um canal de consolidação das nossas operações do agro. Nossa estratégia é ampliar a atuação dentro do setor através do braço financeiro de uma das maiores empresas do setor agrícola e de construção civil do mundo”, comentou.

Apesar do movimento, o Bradesco não deixará de atuar com outras marcas. França disse que o banco também está fechando convênios com cooperativas para fomentar créditos para os cooperados.

“Muitas vezes esse produtor é financiado pela cooperativa. Nós vamos entrar para financiar isso num custeio digital da plataforma E-agro, que é nosso braço para fechar essas parcerias e levar o recurso numa jornada digital”, declarou o diretor.